O evento contou coma participação de representantes de 20 cidades que discutiram ações para tornar a rota um grande atrativo cultural e turístico
Mais de 250 pessoas representando 20 cidades se reuniram, na última semana, no auditório Paulo Freire na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), durante o I Seminário da Via Liberdade. O objetivo foi discutir propostas e ações para tornar o rota um grande atrativo de cultura e turismo no Brasil. A Via Liberdade é um projeto que abrange os estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás e Distrito Federal – pelos 1.179 quilômetros da rodovia BR-040 – e engloba mais de 300 cidades em seu entorno. Neste circuito estão mais de 70% dos patrimônios culturais e turísticos do Brasil.
Em uma participação on-line o secretário de estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais, Leônidas Oliveira, lembrou que o percurso conta a história do Brasil e citou que a estrada União e Indústria – que liga Petrópolis a Juiz de Fora – foi a primeira estrada pavimentada da América Latina e grande parte de seu trajeto é hoje a BR-040.
De acordo com o secretário, no entorno da rodovia existem vários patrimônios da humanidade reconhecidos pela Unesco. “Nesta rota temos toda a diversidade cultural do Brasil, desde sua culinária, costumes, modo de vida, parques, cachoeiras, matas e tudo que nos identifica como nação”, disse o secretário. Ele anunciou ainda que foram feitos dois acordos – com a Fecomércio e Sebrae – que proporcionarão recursos da ordem de R$ 10 milhões para diversas ações que incluem a Via Liberdade. Entre elas a divulgação nacional e internacional da rota turística. “Vamos promover e mostrar a cultura e o turismo brasileiro para o Brasil e para o exterior” afirmou.
Ele acrescentou que haverá um edital de R$ 6 milhões para treinamento e formatação de produtos e lembrou que o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) dispõe de uma linha de R$ 300 milhões para financiar os municípios mineiros para infraestrutura turística, restauração e conservação do patrimônio cultural. O secretário anunciou ainda que em setembro começará o marketing para divulgar Minas Gerais no Brasil e no exterior, acompanhado de eventos como a Orquestra Filarmônica de Minas que fará apresentações em Portugal, França e Alemanha.
Representando a prefeita Margarida Salomão, o secretário de Turismo de Juiz de Fora, Marcelo do Carmo, ressaltou que o projeto é ousado e tem tudo para ser reconhecido internacionalmente como uma grande rota cultural e turística.
A subsecretária de estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais, Ane Souza e o superintendente de Marketing Turístico, Antônio Francisco Monteiro Mourão também estiveram presente no evento.
Palestra Magna
O professor Leonardo Castriota, do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (Icomos), fez uma análise sobre os patrimônios culturais no mundo e no Brasil. Citando destruições feitas em nome de religiões ou guerras, o professor ressaltou que hoje a causa do patrimônio não é apenas dos “experts” no assunto, mas também da opinião pública mundial que tem se manifestado sobre o tema. Citou o exemplo da Serra do Curral em Minas Gerais, ameaçada pelas mineradoras. “Uma comissão de especialistas nacionais e internacionais está trabalhando para conter a ameaça. Se não houver uma resposta governamental, será feito um alerta patrimonial global”, disse Castriota.
Segundo o coordenador do curso de Turismo da UFJF, Edwaldo Sérgio dos Anjos Júnior, é importante o apoio da UFJF neste tipo de iniciativa, ainda mais se for considerado o período desafiador em que a Universidade tem sido alvo de questionamentos, cortes orçamentários e da transição entre as atividades remotas e presenciais de cunho técnico-científico.
“Entendemos que o evento fortalece, enriquece e permite a visualização do papel da UFJF na construção e na difusão do conhecimento. Ao mesmo tempo, é relevante, pois os estudantes podem ter uma oportunidade, não só de ter contato com outros atores institucionais da dinâmica e da cadeia turística, como também podem fazer posição dos elementos teóricos conceituais ao longo do curso com as preposições realizadas no evento de hoje”, explicou o professor.
Painéis
Gastronomia e Turismo foram os temas do primeiro painel do seminário. Mediado pelo secretário de Turismo de Juiz de Fora, Marcelo do Carmo, falaram Alexandre Vaz, da UniCerva, Maria Lúcia Braga e Edson Puiati. Representado o polo das cervejas artesanais, Alexandre Vaz destacou a tradição do produto em Juiz de Fora, que hoje conta com 29 marcas. Ele acredita que o polo, que gera mais de 350 empregos diretos, já faz parte das ações turísticas, até porque onze delas já podem receber visitas para degustação e para se ver a forma de produção, assim como ocorre nas grandes vinícolas mundo afora.
O segundo painel teve como tema Sustentabilidade e Inovação. Mediado por José Tarcísio Fagundes de Paula, do Sebrae, contou com a participação de Angelo Trotta, diretor da Ticino Turismo, na Suíça, Márcio Antônio Lucinda Lima da IGR Serras de Ibitipoca e do gestor cultural César Piva.
Angelo Trotta mostrou a experiência de Lugano, no sul da Suíça, cuja região, com cerca de 350 mil habitantes, recebe mais de 8 milhões de turistas ao ano. Tudo isso por causa de uma forte aposta na modernização, da tecnologia, do marketing e da formação em hotelaria. O programa de digitalização surgiu em 2017 e conta com 600 hoteleiros e mais de cem elementos de atração, além de um programa de fidelidade que permite que o turista possa utilizar trens e ônibus de forma gratuita.
Márcio Lucinda abordou o tema Volta das Tradições e explicou que a IGR Serras de Ibitipoca fez um trabalho intenso para conseguir montar um roteiro que é inclusivo e atende as dez cidades que fazem parte da IGR. São 360 quilômetros de trilhas que podem ser exploradas por bicicletas, motos, veículos 4x4 e 4x2, além de cavalgadas. A grande distância entre os pontos de apoio desaconselha, no momento, que o circuito seja feito a pé. Ao longo do percurso existem muitos locais com culinária típica, vendas que mostram a nossa cultura, além da vegetação e relevo variados.
César Piva falou do Polo Audiovisual da Zona da Mata, sediado em Cataguases – terra do cineasta Humberto Mauro – e lembrou que o trabalho ocorre há mais de 20 anos. “A grande parte de nossas filmagens não utiliza imagem em estúdios. Preferimos usar as nossas belezas naturais e também as nossas mazelas. Usamos a região como cenário, mesmo que a temática seja de outro local. Fizemos cenas em Muriaé para uma história que se dá no Complexo do Alemão, no Rio”, explicou.
O polo já fez 24 filmes, outras 46 produções e 16 empreendimentos a serem concluídos entre 2024 e 2025. Tudo isso, disse Piva, é fruto de parceria com a iniciativa privada e com órgãos públicos. Segundo Piva, “hoje temos uma universidade pública que nos permite ter um horizonte maior. Com as parcerias, os recursos financeiros ficam na nossa região e, assim, conseguimos gerar emprego e renda para muitas pessoas”. Os filmes produzidos pelo polo estão até mesmo em plataformas como a Netflix e isso os levou a criar uma plataforma própria de streaming para abrigar toda a produção.