A Cia de Dança Palácio das Artes (CDPA) apresenta, no Museu de Arte de São Paulo (MASP), uma nova versão do espetáculo “Poderia ser Rosa”, estreado em 2001 e suscitado pelo crescente número de mulheres assassinadas na região do Anel Rodoviário de Belo Horizonte no final da década de 1990. Com coreografia novamente assinada por Henrique Rodovalho, o espetáculo será encenado nesta sexta-feira (25/8), a partir das 20h, no Auditório do MASP, como parte da programação da 5ª Semana Paulista de Dança.
Já no sábado (26/8), a Cia de Dança Palácio das Artes se apresenta no Vão Livre do MASP, a partir das 14h, com o espetáculo “(in)tensões”. Em ambos os casos, a entrada é gratuita e a classificação, livre.
A reapresentação de “Poderia ser Rosa” acontece mais de 20 anos depois, em que violência contra as mulheres segue sendo um tema urgente na sociedade brasileira. Dados do 17º Anuário Brasileiro de Segurança Pública mostram que os crimes motivados por gênero cresceram em 2022, quando comparados ao ano anterior. É o caso dos feminicídios, que subiram 6,1%, e também das agressões em contexto de violência doméstica, cujos registros aumentaram em 2,9%.
“Poderia ser Rosa” aborda frontalmente o feminicídio a partir de quatro casais e suas histórias, que apresentam o começo das relações e seus distintos desmembramentos. Em um país que registrou uma média de 4 feminicídios por dia em 2022, Henrique Rodovalho revisita sua criação e concebe de forma mais abrangente o tema da violência contra a mulher. Aliando sensibilidade e intensidade, o espetáculo assume seu caráter de denúncia como papel ativo no combate à violência de gênero.
O espetáculo “Poderia Ser Rosa” é apresentado pelo Governo de Minas Gerais e a Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais, por meio da Fundação Clóvis Salgado, cujas atividades têm como mantenedores Cemig e Instituto Cultural Vale, Patrocínio Master da ArcelorMittal, Patrocínio da Usiminas e da Copasa e Correalização da APPA – Arte e Cultura.
De Belo Horizonte para o Brasil
Um dos museus de arte mais importantes da América Latina, o MASP é conhecido por seu acervo que contempla diversas culturas e épocas da História, passando por pinturas, esculturas, desenhos, fotografias e vestuário. Porém, na semana que vai dos dias 23 a 27 de agosto, a dança tomará conta do espaço.
Sônia Pedroso, diretora da Cia de Dança Palácio das Artes, reforça a importância da nova versão de Poderia Ser Rosa estrear justamente ao longo desta semana – que representa uma vitrine para a dança no Brasil –, em um dos mais prestigiados espaços culturais do país. "Essa estreia no MASP é muito significativa, porque é um evento de dança de enorme visibilidade, além de ser um novo entendimento e uma nova concepção, que ainda estamos trabalhando e aprimorando, sobre como tratar este tema tão delicado", destaca.
Quando o feminino se movimenta
Dono de um estilo que retrata imagens do cotidiano brasileiro com uma movimentação específica – repleta de detalhes e ações suaves –, o goianiense Henrique Rodovalho foi convidado para criar a coreografia de Poderia ser Rosa em 2001 e agora, duas décadas depois, é chamado novamente para a remontagem. O coreógrafo destaca os desafios de se adaptar o espetáculo para um contexto diferente, mas que ainda impõe imensos desafios.
“Na época, o conceito final se deu no sentido de tratar questões psicológicas e de procedimentos desse assassino em série que estava matando mulheres, a partir de personagens que foram desenvolvidos e também de movimentos/gestos coreografados. Foram captados vários depoimentos de mulheres sobre o assunto e esse material foi utilizado na linha de narrativa do espetáculo. Quando agora houve a proposta de resgatar essa obra – 22 anos depois –, uma grande questão foi apresentada: como trazer esse triste assunto de novo, mas dialogando, de alguma forma, com o que acontece hoje?”, explica.
Foi então que surgiu a proposta de tratar o feminicídio a partir das histórias de quatro casais. Rodovalho conta que os duos começam com uma dinâmica de relação e movimentos mais suaves e tranquilos, indo depois para momentos e movimentações mais tensas e agressivas.
“O que se percebe estatisticamente é o aumento de feminicídios, praticados principalmente por companheiros, namorados, esposos ou pessoas próximas da família. Sendo assim, o que era para ser uma simples remontagem demandou uma análise mais cuidadosa, surgindo a necessidade de se repensar a obra para a construção de um olhar mais atual. Por isso, foi solicitado ao elenco feminino da Cia de Dança Palácio das Artes que colocasse nesse trabalho todo o olhar delas e todas as falas necessárias sobre o tema, que toca diretamente e principalmente as mulheres. Assim, o protagonismo dessa nova obra é delas, para tentar buscar formas de respostas, além de um pensamento e atos mais sensíveis de acolhimento sobre essa delicada questão. Tentar, enfim, contribuir para que tenhamos um mundo mais generoso e feminino”, reflete.
Henrique Rodovalho
Com formação em artes marciais e Educação Física pela Escola Superior de Educação Física e Fisioterapia de Goiás, atuou como ator e bailarino antes de 1988, quando iniciou sua carreira como coreógrafo, sendo reconhecido por seu trabalho como residente da Quasar Cia de Dança e por seu estilo de movimentação em dança, que trabalha a segmentação do corpo.
Rodovalho se interessa pela expressão do corpo desde criança, com influência vinda do cinema e da televisão. Foi aluno do professor e coreógrafo Julson Henrique (1953-1993), e dançou junto de outros coreógrafos como Regina Sauer (1957) e Rainer Vianna (1958-1995). Desde 1988, ano de criação da Quasar Cia de Dança, Rodovalho é coreógrafo do grupo, a convite da bailarina Vera Bicalho (1963). Em 1994, a companhia independente estreia Versus, responsável pela projeção internacional do coreógrafo e do grupo.
Seguiram-se os espetáculos Divíduo (1998), Coreografia Para Ouvir (1999) e Mulheres (2000). Em 2018, Rodovalho cria Melhor Único Dia, seu segundo espetáculo para a São Paulo Companhia de Dança (SPCD) – premiado pela comissão de dança da Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA) na categoria espetáculo (estreia) –, no qual mantém seu estilo de movimentação, replicado em conjunto. Em 2020, torna-se coreógrafo residente da SPCD, participando de recriações de obras do repertório da Quasar, além de novas produções.
Internacionalmente premiado por seu estilo autoral de coreografia, Henrique Rodovalho tem papel fundamental na dança de sua geração, por meio de sua produção na Quasar Cia de Dança, e como convidado em diversos outros grupos, no Brasil e em países como México, Portugal e Holanda.
Cia de Dança Palácio das Artes
Reconhecida como uma das mais importantes companhias do Brasil, é uma das referências na história da dança em Minas Gerais. Foi o primeiro grupo a ser institucionalizado, durante o governo de Israel Pinheiro, em 1971, com a incorporação dos integrantes do Ballet de Minas Gerais e da Escola de Dança, ambos dirigidos por Carlos Leite – que profissionalizou e projetou a Companhia nacionalmente.
O Grupo desenvolve hoje um repertório próprio de dança contemporânea e se integra aos outros corpos artísticos da Fundação – Orquestra Sinfônica de Minas Gerais e Coral Lírico de Minas Gerais – em produções operísticas e espetáculos cênico-musicais realizados pela Instituição ou em parceria com artistas brasileiros. A Companhia tem a pesquisa, a investigação, a diversidade de intérpretes, a cocriação dos bailarinos e a transdisciplinaridade como pilares de sua produção artística. Seus espetáculos estimulam o pensamento crítico e reflexivo em torno das questões contemporâneas, caracterizando-se pelo diálogo entre a tradição e a inovação.
Fundação Clóvis Salgado
Com a missão de fomentar a criação, formação, produção e difusão da arte e da cultura no Estado, a Fundação Clóvis Salgado (FCS) é vinculada à Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais (Secult). Artes visuais, cinema, dança, música erudita e popular, ópera e teatro, constituem alguns dos campos onde se desenvolvem as inúmeras atividades oferecidas aos visitantes do Palácio das Artes, CâmeraSete – Casa da Fotografia de Minas Gerais – e Serraria Souza Pinto, espaços geridos pela FCS.
A Instituição é responsável também pela gestão dos corpos artísticos – Cia de Dança Palácio das Artes, Coral Lírico de Minas Gerais e Orquestra Sinfônica de Minas Gerais –, do Cine Humberto Mauro, das Galerias de Arte e do Centro de Formação Artística e Tecnológica (Cefart). A Fundação Clóvis Salgado também é responsável pela gestão do Circuito Liberdade. Em 2020, quando celebrou 50 anos, a FCS ampliou sua atuação em plataformas virtuais, disponibilizando sua programação para público amplo e variado. O conjunto dessas atividades fortalece seu caráter público, sendo um espaço de todos e para todos.
Serviço
Cia de Dança Palácio das Artes na Semana Paulista da Dança | Poderia ser Rosa
Data: 25/08/2023 (sexta-feira)
Horários: 20h
Local: Auditório do MASP – Museu de Arte de São Paulo - Av. Paulista, 1578 – São Paulo, SP
Classificação Indicativa: Livre
Informações para o público: (31) 3236-7400
Distribuição de ingressos a partir de 2 horas antes dos espetáculos, conforme horário de chegada
Foto: Christiano Castro