O salão do MMGerdau – Museu das Minas e do Metal esteve movimentado nesta terça-feira (2), quando aconteceu o encontro “Moda e Cultura: Um olhar para os novos caminhos da moda”. Promovido pela Secretaria de Estado de Cultura (SEC), o debate contou com a presença de vários representantes da moda mineira, que ouviram explanações dos técnicos da SEC sobre os caminhos existentes de fomento e incentivo ao setor.
Além de orientar os fazedores de moda sobre essas possibilidades, o encontro serviu também para ouvir as opiniões e demandas dos produtores, designers, jornalistas, estilistas e empresários do setor. “A primeira coisa que nos temos que fazer é ouvir. A ideia deste encontro é iniciar um verdadeiro projeto estratégico de valorização e expansão da moda mineira na conquista dos espaços a que ela tem direito pela sua alta qualidade e potencial. Várias vertentes da cultura como o design, a criatividade e o trabalho artesanal são latentes neste setor e merecem atenção”, destacou o Secretário de Estado de Cultura Angelo Oswaldo.
Entre os temas abordados na ocasião, destaque para os editais da Secretaria de Cultura que podem atender ao setor da moda e qual o tamanho do segmento, segundo levantamento encomendado pela Codemig.
MODA É CULTURA
Um consenso durante o encontro foi que a participação da moda no Conselho Estadual de Política Cultural – CONSEC precisa ser ampliada. Desde 2015 o Conselho possui uma cadeira específica para o segmento da moda, mas a presença tem sido quase nula. “O setor precisa entender que a cultura é uma questão estratégica e de política pública. Está na hora da moda ter uma participação mais efetiva, pois temos a necessidade de organização de metas que, cumpridas, podem transformar o cenário e possibilitar avanços”, afirmou Angelo Oswaldo.
O público foi alertado que o momento é ideal para tal mobilização, uma vez que as eleições para o próximo biênio do CONSEC estão previstas para os dias 8 e 9 de novembro. Onze representantes do poder público e outros 11 da sociedade civil organizada integram o conselho. As inscrições dos candidatos serão abertas em breve no site www.consec.mg.gov.br.
PESQUISA INÉDITA SOBRE A MODA EM MINAS
Na certeza do avanço a partir da soma de esforços, a Diretora de Fomento à Indústria Criativa da Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais – Codemig, Fernanda Machado, adiantou alguns números sobre a pujança do setor no Estado. Os dados são resultado de uma pesquisa feita pela Fundação João Pinheiro – FJP e Centro de Estatística e Informações – CEI, a ser divulgada integralmente em setembro.
A base da pesquisa, segundo Fernanda Machado, nasceu durante a mais recente edição do Minas Trend. “A equipe da FJP entrevistou os envolvidos e investigou perfil de consumo, gargalhos e dificuldades do setor. O objetivo maior da Codemig não é apenas desenvolver, mas diversificar a economia do Estado. Por isso acreditamos na indústria criativa e estamos empenhados neste estudo que, pela primeira vez, vai criar o perfil específico do setor da moda mineira, que em 2013 representou 7,7% do mercado no Brasil.”.
Segundo o levantamento, somente em 2013 o mercado da moda mineira movimentou cerca de R$ 70 bilhões. “A moda representou 2,6% do PIB mineiro em 2013. É um produto estratégico que muda o processo econômico do Estado com muita força. Não podemos ficar presos somente à mineração. A indústria criativa é uma opção em alta”, avalia Fernanda.
A diretora anunciou que até 2018 a Codemig investirá um total de R$ 20 milhões na indústria criativa, com uma perspectiva de geração de emprego nas áreas de moda, novas mídias, música, gastronomia e audiovisual. A economia criativa também terá um espaço privilegiado com a inauguração do P7, plataforma que irá funcionar no prédio situado na Praça Sete, projetado por Oscar Niemeyer, onde funcionou a antiga sede do Banco Mineiro da Produção. A previsão é que o espaço seja entregue em 2018. A edificação teve o seu dossiê de tombamento aprovado em maio deste ano pelo Conselho Estadual do Patrimônio Cultural – CONEP.
FOMENTO E INCENTIVO
Na proposição de mostrar como a moda está entre os segmentos que podem ser contemplados pelos dois principais mecanismos de fomento e incentivo à cultura, a Lei Estadual de Incentivo à Cultura - LEIC e o Fundo Estadual de Cultura – FEC, o Superintendente de Fomento de Incentivo à Cultura, Felipe Amado, esclareceu a importância do próprio setor se reconhecer como uma ação cultural.
“Os fazedores da moda podem inscrever projetos nos editais e estimular cada vez mais o segmento. A LEIC e o FEC e outros editais como o de intercâmbio, como o Circula Minas, atendem aos diversos ramos e atividades culturais, inclusive as mais variadas frentes da moda”, afirmou Amado. O interesse da plateia foi imediato, e a partir disso o secretário Angelo Oswaldo assumiu o compromisso de realizar em breve uma capacitação específica aos profissionais da moda sobre o assunto.
Também presente no encontro, a presidente do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais – IEPHA, Michele Abreu Arroyo, salientou o trabalho realizado pelo IEPHA sobre a memória da moda mineira. “No último ano realizamos o Inventário Cultural do Rio São Francisco e lá identificamos várias manifestações culturais que envolvem a moda, como as bordadeiras de Pirapora, que já são tradicionais na região. São ofícios pilares de um processo de reconhecimento e salvaguarda que está aliado à geração de emprego aos estilistas e ao incentivo no campo da confecção do interior mineiro”, comentou.
A VOZ DA MODA MINEIRA
Um dos importantes nomes do setor, o estilista mineiro Renato Loureiro aproveitou o encontro para chamar atenção ao processo de escassez da mão de obra de costureiras e a necessidade de alternativas e políticas públicas para reverter este quadro. “É bom ter este espaço para expor as nossas dificuldades. Precisamos incentivar as costureiras e dar mais atenção ao que acontece no interior”, disse.
Para Rodrigo Cezário, o encontro foi uma oportunidade para unir forças. “O setor não vai crescer com ações isoladas. Precisamos nos unir e marcar nossa presença no conselho estadual”, refletiu o produtor.
Os esclarecimentos sobre os editais atenderam às dúvidas da estilista Cissa Victoi, que estudou design têxtil na Itália. “Moda é arte e cultura. O encontro de hoje é um momento importante para que possamos ter maior proximidade com o Estado e mostrar as nossas demandas. Hoje eu sei que posso apresentar os meus projetos nos editais e vou informar aos meus pares. Precisamos fortalecer a nossa rede”, afirmou.
Gestora do Centro de Referência da Moda de Belo Horizonte (CRModa), Marta Guerra também prestigiou o evento e lembrou sobre a necessidade de tratar a moda como protagonista. “Temos que aproveitar esse esforço de escuta do Estado e nos mobilizar com uma presença mais participativa no Consec. Precisamos brigar pelo o que a gente acredita”.