Edição especial do Encontros com o Patrimônio online aborda o afro-patrimônio na história da cidade, com a participação do pesquisador e curador do Museu Muquifu, Padre Mauro
Quais memórias, ancestralidades e tradições ecoam pelas ruas de Belo Horizonte? Cenário de muitas narrativas, a capital mineira teve parte de sua história apagada, ainda na sua construção, e esse tema será abordado pela Casa Fiat de Cultura, no Encontros com o Patrimônio “O Afro-Patrimônio na História de Belo Horizonte”, que será realizado no dia 29 de novembro, às 11h, com transmissão online. Para participar, é preciso se inscrever na Sympla, gratuitamente. Nesta edição, que valoriza as discussões antirracistas propostas pelo Dia da Consciência Negra, a historiadora e educadora da Casa Fiat de Cultura, Ana Carolina Ministério, convida o pesquisador e idealizador do Projeto NegriCidades e curador do Muquifu - Museu dos Quilombos e Favelas Urbanos, Padre Mauro, para um bate-papo sobre o resgate dessas memórias.
Muito se diz sobre a inovação da construção de Belo Horizonte. Projetada entre 1894 e 1897, pelo engenheiro Aarão Reis, a capital foi a primeira cidade moderna planejada do país. Com um projeto urbano muito funcional, BH era celebrada pela localização, clima ameno e o desenho da malha perpendicular das ruas. Mas se, por um lado, ela foi construída com que tinha de mais inovador, por outro, já foi pensada com perfil higienista e segregante.
A historiadora e educadora Ana Carolina ministério vai abordar os processos de gentrificação da cidade e quais características sociais pautaram o planejamento de Belo Horizonte. “A mudança da capital de Ouro Preto para a região do Arraial do Curral Del Rei foi influenciada por um viés moderno e republicano, que impactou a forma como as ruas, bairros e pontos da cidade foram distribuídos”, ressalta. Marcada pelos modos de produção escravocratas, a região que hoje abriga Belo Horizonte já dava sinais de como seria a cidade idealizada pela Comissão Construtora da Nova Capital.
O pesquisador e curador Padre Mauro fará um breve resgate histórico do afro-patrimônio do Curral Del Rei em que identifica o olhar e a ação colonizadora e hegemônica que conduziu, segundo ele, à construção de uma cidade racialmente segregada. Serão abordados alguns pontos de sua pesquisa “Os 200 anos da Igreja de Nossa Senhora do Rosário de Belo Horizonte: Negligências, Silenciamentos e Resistências”, além do Projeto “NegriCidades”, que promove iniciativas como seminários, palestras, fóruns, campanhas de conscientização e ocupações em lugares da cidade que, historicamente, eram espaços dos povos negros.
Padre Mauro alega que uma cidade pertence a quem caminha por suas ruas, habita suas casas, passeia em suas praças, e visita seus museus - e não apenas por quem nasce nelas. “Andar por uma cidade e não identificar traços da presença de determinados grupos sociais, não cruzar com corpos negros que são expulsos para as periferias e favelas me faz reforçar a luta pela reocupação de todos os espaços dessa mesma cidade”, defende. “O resgate da história do Curral Del Rey com destaque para o Afro-patrimônio edificado pela Irmandade de Nossa Senhora do Rosário é fundamental para que as próximas gerações tenham a oportunidade de se reconhecerem nesta cidade da qual somos também seus/suas construtores/as”, completa.
O Encontros com o Patrimônio “O Afro-Patrimônio na História de Belo Horizonte” é realizado pela Casa Fiat de Cultura, com apoio do Ministério do Turismo, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, patrocínio de Fiat Chrysler Automóveis (FCA) e Banco Safra. A palestra conta com apoio institucional do Circuito Liberdade, do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico (Iepha), do Governo de Minas e do Governo Federal, além de apoio cultural do Programa Amigos da Casa, da Brose do Brasil e da Expresso Nepomuceno.
Ana Carolina Ministério, historiadora e educadora da Casa Fiat de Cultura
Responsável pelo Núcleo de Pesquisa e Mediação em Arte, Cultura e Patrimônio do Programa Educativo da Casa Fiat de Cultura. É bacharel licenciada em História e especialista em Produção e Crítica Cultural, pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), especialista em Cultura e Arte Barroca, pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), e mestra em Artes pela Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG).
Padre Mauro, pesquisador e curador do Muquifu
Padre Mauro Luiz da Silva (53 anos) cursa doutorado e é Mestre em Ciências Sociais; tem especialização em Psicopedagogia; graduado em Teologia e Filosofia pela PUC Minas; graduado em História e Tutela do Patrimônio Cultural, pela Universidade de Pádua/Itália. Atualmente é diretor e curador do MUQUIFU - Museu dos Quilombos e Favelas Urbanos; é coordenador o Projeto de Pesquisa e Centro de Documentação NegriCidade, que busca resgatar os Afro-patrimônios da capital mineira; é Pároco da Paróquia Jesus Missionário, em Belo Horizonte. Tem experiência em Arte e Museologia Social. Atua no projeto "Interrogando à educação das relações étnico-raciais no Brasil: experiências com América Ladina", vinculado à Iniciativa para a erradicação do racismo na Educação Superior da Cátedra UNESCO - Educação Superior: Povos Indígenas e Afrodescendentes na América Latina.
Muquifu e o Projeto NegriCidades
O Museu dos Quilombos e Favelas Urbanos surgiu em 2012, em Belo Horizonte, no Aglomerado Santa Lúcia. Tem como vocação garantir o reconhecimento e a salvaguarda das favelas, os verdadeiros quilombos urbanos do Brasil: lugares não apenas de sofrimento e de privações, mas, também, de memória coletiva digna de ser cuidada. A instituição reúne como acervo fotografias, objetos, imagens de festas, danças, celebrações, tradições e histórias que representam a tradição e a vida cultural dos moradores das diversas favelas e quilombos urbanos do Estado de Minas Gerais. O Muquifu nasce com a proposta de ser um museu de território e comunitário, como instrumento de resistência diante do risco iminente de expulsão dos favelados dos centros urbanos; reconhecimento e preservação do patrimônio, das histórias, das memórias e dos bens culturais dos moradores dos Quilombos Urbanos e Favelas de Belo Horizonte. O Projeto NegriCidades é coordenado pelo Muquifu e realiza ações que colocam luz sobre o “apagamento” dos locais dos povos negros na história de Belo Horizonte.
Dia da Consciência Negra
O Dia da Consciência Negra é celebrado no Brasil em 20 de novembro. A data foi criada em 2003, inicialmente como uma efeméride do calendário escolar. Em 2011 foi incluída oficialmente em âmbito nacional, sendo considerada um feriado em diversas cidades do Brasil. A data foi escolhida por ser o dia da morte de Zumbi dos Palmares, morto em 1695. Ele foi um dos maiores líderes negros do país e lutou contra o sistema escravagista e pela libertação dos povos negros.
Programação Casa Fiat de Cultura
Além do Encontros com o Patrimônio, no dia 29 de novembro, a Casa Fiat de Cultura preparou outras programações especiais, que contribuem para celebrar e refletir sobre essa importante data.
Durante todo o mês, sempre às quintas-feiras, é realizada a visita mediada online da exposição Mau Olhado, Bem Olhado II, dos artistas Janaína Leite e Wagner Viana, preparada pelo programa educativo da Casa Fiat de Cultura. A exposição é composta por cinco obras, desenvolvidas em conjunto pelos artistas, em processo criativo pensado a partir da construção de histórias. O trabalho desenvolvido pelos artistas começa a partir da afirmação do corpo negro, seus afetos e políticas.
O visitante poderá agendar um percurso temático à mostra “Mau Olhado, Bem Olhado II e participar de uma mediação online nos dias 12 e 26 de novembro, e 10 de dezembro, às 10h, e nos dia 19 de novembro, 3 e 17 de dezembro, às 16h. O agendamento gratuito deve ser feito ou pela Sympla (https://www.sympla.com.br/casafiatdecultura). Já grupos de escolas que tiverem interesse em fazer a visita virtual em outro horário, devem contatar o Programa Educativo no e-mail Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..
Para marcar a data do Dia da Consciência Negra, 20 de novembro, Janaína Barros e Wagner Leite Viana, artistas da exposição “Mau Olhado, Bem Olhado II”, apresentam a videoperformance “A roupa é vermelha de terra”, no YouTube da Casa Fiat de Cultura. Uma reflexão sobre os corpos feminino e masculino negros em uma interação que reflete os afetos e sua dimensão política na formação da família negra.
SERVIÇO
Exposição “Mau Olhado, Bem Olhado II, dos artistas Janaína Leite e Wagner Viana
Mediação online nos dias 12 e 26 de novembro, e 10 de dezembro, às 10h, e nos dia 19 de novembro, 3 e 17 de dezembro, às 16h. O agendamento gratuito deve ser feito ou pela Sympla (https://www.sympla.com.br/casafiatdecultura). Já grupos de escolas que tiverem interesse em fazer a visita virtual em outro horário, devem contatar o Programa Educativo no e-mail Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..
Videoperformance “A roupa é vermelha de terra”
Dia 20 de novembro, no YouTube da Casa Fiat de Cultura, a partir das 10h
Encontros com Patrimônio online – mês de novembro
O Afro-Patrimônio na História de Belo Horizonte
29 de novembro, das 11h às 12h30 - Bate-papo virtual
Evento gratuito, com inscrição pela Sympla: https://bit.ly/Afropatrimonio
A Casa Fiat de Cultura integra o Circuito Liberdade, coordenado pela Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais (Secult).