Um dos maiores diretores de teatro do Brasil, Zé Celso Martinez Correa, estará no Museu de Congonhas nos dias 21 e 22 de junho. O ator e diretor do Teatro Oficina de São Paulo fará a leitura dramática do "Manifesto Antropófago", de Oswald de Andrade, junto aos atores Matheus Nachtergaele, Roderik Himeros e Beatriz Azevedo. Na ocasião, a atriz lança o livro “Antropofagia Palimpsesto Selvagem”, uma das últimas publicações da Editora Cosac Naify. A obra será lançada, na seqüência, também em São Paulo e Rio de Janeiro.
A vinda dos artistas a Congonhas, liderados por José Celso Martinez Correa, reproduz simbolicamente a passagem da Caravana Modernista pela cidade histórica. Em 1924, a chegada do grupo formado por nomes como Tarsila do Amaral, Mário de Andrade, Oswald e tantos outros pensadores, foi crucial para a valorização do patrimônio histórico brasileiro. Até então, a produção cultural nacional era profundamente influenciada pelos padrões internacionais e havia pouca valorização da produção local. Coube a estes artistas, após essas andanças pelas Minas Gerais do século passado, virar o jogo constituindo um pensamento sobre a cultura genuinamente nacional. No Museu de Congonhas a reflexão está presente na exposição de longa duração.
A leitura dramática do “Manifesto Antropofágico” terá duas fases. Num primeiro momento, no dia 21, terça-feira, a partir das 19h, o diretor e os atores, farão uma oficina com artistas locais dentro do projeto Roteiro das Minas. A intenção é prepará-los para interagir no espetáculo. Na quarta-feira (dia 22), às 20h, no Anfiteatro ao ar livre do Museu de Congonhas, Zé Celso apresentará a leitura do Manifesto contando com a participação dos artistas locais e do público de Congonhas. O ator Matheus Nachtergaele interpretará um capítulo do livro “Antropofagia Palimpsesto Selvagem”, ao lado da artista Beatriz Azevedo.
Lançamento
Um dos últimos lançamentos da editora Cosac Naify, o livro “Antropofagia Palimpsesto Selvagem”, da poeta, cantora, compositora e atriz Beatriz Azevedo, com capa e ilustrações de Tunga e prefácio do antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, é parte de um grande projeto sobre a antropofagia desenvolvido pela artista.
“Antropofagia – Palimpsesto Selvagem”, em 242 páginas, é talvez a primeira leitura realmente microscópica do “Manifesto Antropófago”, de Oswald de Andrade, texto fundacional para a sensibilidade cultural contemporânea, tanto “aqui dentro” como, cada vez mais, “lá fora”.
O livro de Beatriz Azevedo é um close reading de valor histórico, didático e analítico inestimável. Em um verdadeiro trabalho arqueológico, a autora recobra muitas das fontes esquecidas ou ignoradas das abundantes alusões enigmáticas (sobretudo para o leitor de hoje) contidas no Manifesto. Comenta e elucida linha a linha, aforismo a aforismo, esse texto complexo, por baixo — palimpsesto — de sua concisão telegráfica e sua alegre ferocidade lapidar. Destaca-lhe ainda a arquitetura rítmica, verbal como visual, sua (a)gramaticalidade poética e sua radicalidade político-filosófica.
O livro de Beatriz Azevedo, somando-se à já vasta “oswaldiana”, acrescenta-lhe uma camada de comentário destinada a se tornar referência obrigatória para todo estudante ou estudioso da obra deste que é, sem a menor sombra de dúvida, um dos maiores pensadores do século 20.
Um dos méritos de “Antropofagia – Palimpsesto Selvagem” é contribuir para dissolver, mesmo que isso seja, talvez, uma tarefa de Sísifo, o bestialógico que se foi construindo em torno da noção de antropofagia a partir dos anos 60 do século passado, que transformou a exportação subversiva em importação mimética, a feroz ruminação canibal em aviltante digestão consumista. Com as devidas e honrosas exceções de praxe, dos Irmãos Campos e Décio Pignatari a José Celso “Antropofagia – Palimpsesto Selvagem”, de Beatriz Azevedo está na linha de frente do pensamento.
SERVIÇO:
LEITURA DRAMÁTICA DO “MANIFESTO ANTROPOFÁFICO”
Com o diretor Zé Celso Martinez Correa e os atores Matheus Nachtergaele, Roderik Himeros e Beatriz Azevedo. Na ocasião será lançado o livro “Antropofagia Palimpsesto Selvagem”, uma das últimas publicações da Editora Cosac Naify.
Data: dia 21 (terça), às 19h, oficina com atores da comunidade. Dia 22 (quarta), às 20h, apresentação da leitura dramática ao público e lançamento do livro.
Local: Museu de Congonhas (Alameda Cidade de Matosinhos de Portugal, 77, Basílica).
Informações: (31) 3731-3979.