O repertório das séries Sinfônica ao Meio-Dia e Sinfônica em Concerto que encerra o mês de junho vai destacar o trabalho de dois grandes compositores franceses: Claude Debussy e Maurice Ravel. A Orquestra Sinfônica de Minas Gerais vai executar as obras Pavane pour une infante défunte, Ma Mère L’Oye e Bolero, de Ravel; e Nocturnes, de Debussy. Os concertos terão regência do maestro Silvio Viegas e contam com a participação dos naipes de sopranos e contraltos do Coral Lírico de Minas Gerais.
Expoentes máximos do Movimento Impressionista da música erudita, que teve início na França na última década do século XIX, Ravel e Debussy deram um novo sentido à música clássica com suas obras. Foi durante esse período que os compositores iniciaram uma escrita diferenciada, priorizando uma orquestração mais delicada e suave. Também durante essa fase, os compositores se dedicaram a descrever imagens aleatórias nas composições, e não mais abordar sentimentos e questões existenciais, comuns ao Romantismo.
Segundo o maestro Silvio Viegas, a forma como os compositores passaram a escrever suas obras, buscando atribuir novos coloridos musicais, é a característica mais marcante das composições impressionistas. “Há todo um novo sentido na escrita orquestral, os timbres são muito bem explorados pelos compositores e a orquestração é mais viva, mais intensa, mas, ao mesmo tempo, mais sutil. É como se cada peça fosse uma delicada e suave renda que vai sendo revelada ao público”, explica.
Inspirações na dança, na pintura e nos contos de fadas – Obra mais famosa de Ravel, o Bolero foi originalmente escrito a pedido da bailarina Ida Rubinstein, sendo considerado, pelo próprio Ravel, como um simples estudo de orquestração. O compositor se inspirou em uma dança espanhola para criar essa peça fascinante. Com apenas um movimento invariável e tempo determinado, são 14 minutos e 10 segundos de melodia uniforme, sendo as únicas alterações os efeitos de orquestração que sustentam as mudanças tonais ao longo da composição. O Bolero estreou em 1928 e é uma das peças mais executadas em todo o mundo.
De acordo com Silvio Viegas, a repetição contínua em Bolero não exclui o fascínio que a obra exerce no público. “O ser humano gosta de repetição, principalmente em música. Nós gostamos de ouvir uma mesma canção várias vezes até conseguirmos memorizar. Em Bolero acontece o mesmo. A variação orquestral; poder ouvir e perceber a variação de instrumento para instrumento também é algo que fascina a quem escuta”, ressalta.
O repertório dos concertos traz ainda outras duas obras de Ravel: Pavane pour une infante défunte e Ma Mère L’Oye. Pavane é uma dança tradicional espanhola, dos séculos XVI e XVII, de movimentos lentos. Ravel também se inspirou em um quadro do pintor espanhol Velásquez e dedicou a obra, escrita para piano em 1899 e orquestrada em 1910, à princesa Winnaretta Singer. Ma Mère L’Oye é a última composição de Ravel do programa. A peça foi inspirada no conto de fada homônimo, escrito por Charles Perrault. O compositor escreveu esta suíte para piano em 1910 e adicionou elementos orquestrais no ano seguinte, transformando a composição em um ballet.
Inspirações na natureza – Considerado o pai da música moderna, Claude Debussy foi pioneiro do movimento impressionista. A rebeldia e o inconformismo catalisaram as produções musicais do francês. Nocturnes, uma das obras mais icônicas de Debussy, faz parte do repertório da OSMG para essas duas apresentações. Raramente executada em Belo Horizonte, a peça conferiu um novo colorido à orquestração das composições de Debussy, o que contribuiu para influenciar uma série de compositores da época.
Nesta composição de 1899, a palavra Nocturnes tem um teor mais figurativo, diferente da forma musical do estilo Romântico. Também conhecida como Sinfonia Tríptica, a obra foi inspirada em um conjunto homônimo de quadros do pintor norte-americano James McNeill Whistler e possui três movimentos que fazem alusão à natureza. O primeiro deles, Nuvens, descreve o aspecto mutável que ocorre no céu, o movimento quase imperceptível das nuvens e a mistura do azul e do cinza.
Em Festas, o segundo movimento, a vibração orquestral dá o tom da obra, com fortes marcações de percussão para criar uma atmosfera festiva e cheia de vida. Já o último movimento, Sereias, conta com a participação dos naipes de sopranos e contraltos do Coral Lírico de Minas Gerais que vão reproduzir as ondulações do mar e o misterioso e hipnótico canto das mitológicas sereias.
Por dentro da Orquestra – O público terá a oportunidade de assistir o concerto de “dentro” da Orquestra. A proposta é do maestro Silvio Viegas e pretende aproximar o público dos corpos artísticos da Fundação Clóvis Salgado. Os espectadores poderão registrar a emoção do concerto por fotos e/ou vídeos. “Nós queremos trazer o nosso público para dentro de nossa casa e transformar o Palácio das Artes na casa deles”, afirma o maestro.
O projeto teve início na apresentação de abril da Série Sinfônica ao Meio-Dia e foi um verdadeiro sucesso. Cinco pessoas subiram ao palco e se mostraram verdadeiramente encantadas com a possibilidade de fruir a música sinfônica por outro ângulo.
Orquestra Sinfônica de Minas Gerais – Criada em 1976, a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, corpo artístico gerido pela Fundação Clóvis Salgado, é considerada uma das mais ativas Orquestras do país. Em 2013, foi declarada Patrimônio Histórico e Cultural do Estado de Minas Gerais. Em permanente aprimoramento da sua performance, a OSMG cumpre o papel de difusora da música erudita, diversificando sua atuação em óperas, balés, concertos e apresentações ao ar livre, na capital e no interior de Minas Gerais. Executa repertório que abrange todos os períodos da música sinfônica, do barroco ao contemporâneo, além de grandes sucessos da música popular, com a série Sinfônica Pop. Em 2016, Silvio Viegas assume o cargo de Regente titular da Orquestra. Antes dele, foram responsáveis pela regência: Wolfgang Groth, Sérgio Magnani, Carlos Alberto Pinto Fonseca, Aylton Escobar, Emílio de César, David Machado, Afrânio Lacerda, Holger Kolodziej, Charles Roussin, Roberto Tibiriçá e Marcelo Ramos.
Silvio Viegas – Mestre em Regência pela Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais. Foi maestro titular da Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal do Rio de Janeiro por oito anos e esteve à frente de orquestras como a Sinfônica Brasileira, Sinfônica de Minas Gerais, Filarmônica do Amazonas, Orquestra Sinfônica de Roma e Orquestra da Arena de Verona (Itália), Sinfônica do Teatro Argentino de La Plata (Argentina), Sinfônica do Sodre (Uruguai), entre outras. Atualmente, é o regente titular da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais e professor de Regência na Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Sobre os compositores
Claude Debussy (1862 – 1918) - Nasceu na França, em 1862. Aos nove anos de idade já demonstrava talento como pianista. Foi músico e compositor. Sua música inovadora agiu como um fenômeno catalisador de diversos movimentos musicais em outros países. Em 1884, recebeu o Grande Prêmio de Roma de composição. Influenciou grandes nomes como Béla Bartók, Manuel de Falla e Heitor Villa-Lobos entre outros. Sua arte foi bastante diversificada, do ponto de vista dos gêneros e das formas que utilizou. Sua trajetória artística representou uma verdadeira lição de inconformismo. Faleceu em Paris, em 1918.
Maurice Ravel (1875-1937) - Foi um compositor e pianista francês, conhecido sobretudo pela sutileza das suas melodias instrumentais e orquestrais. Passou a dedicar-se ao piano aos 7 anos e, aos 14, começou a frequentar o Conservatório de Paris. É mundialmente conhecido pelo seu Bolero, ainda hoje a obra musical francesa mais tocada no mundo e seu trabalho é reconhecido pelas marcas do Impressionismo.
Programa:
- Pavane pour une infante défunte
Maurice Ravel
- Nocturnes
Claude Debussy
INTERVALO
- Ma Mère L’Oye
Maurice Ravel
- Bolero
Maurice Ravel
Sinfônica ao Meio-Dia
Data: 28 de junho
Local: Grande Teatro do Palácio das Artes – Av. Afonso Pena, 1537, Centro
Horário: 12h
Entrada gratuita
Sinfônica em Concerto
Data: 29 de junho
Local: Grande Teatro do Palácio das Artes – Av. Afonso Pena, 1537, Centro
Horário: 20h30
Ingressos: R$30,00 (inteira) e R$15,00 (meia)
Informações para o público: (31) 3236-7400