Até o dia 8 de janeiro de 2017 a Galeria de Arte do Centro Cultural Minas Tênis Clube será a casa das obras do mineiro Paulo Laender. Na exposição “Paulo Laender – Uma Trajetória”, o espaço receberá obras que datam de 1980 até hoje. Madeira, telas, ferro, cores e modernidade poderão ser contemplados com clareza e beleza.
A história artística de Paulo Laender nasceu no Minas, já que a sua primeira exposição foi no ano de 1963, produzida pelo diretor de Cultura da Instituição na época, Palhano Jr.. A mostra foi realizada na Sede Social da Rua da Bahia e também apresentou obras de Antônio Eugênio Sales Coelho, Luiz Antônio Lanza e Eunice Klein Dutra. Laender é arquiteto, desenhista, escultor, designer e foi atleta do Minas, tendo jogado vôlei na Instituição.
Paulo Laender colocará na Galeria de Arte cerca de 70 obras entre esculturas e telas. O que se pode observar é que há uma assinatura unitária mantendo uma identidade que surgiu com a sua geração de artistas, na década de 1960. Pode-se dizer que Laender é um dos primeiros mineiros que trabalha de forma diferente da escola Guignard, ele salta do expressionismo e chega ao modernismo com os pés bem fincados, devido ao seu conhecimento na área de arquitetura e design. Laender bebe da fonte do modernismo e do cubismo passando pelo art-dèco, não traçando uma identidade que tem as características da arte feita em Minas como, por exemplo a barroca.
Pode-se dizer que o trabalho apresentado na exposição “Paulo Laender – Uma Trajetória” tem uma aura atemporal pois o artista cria no tempo da arte. A coleção que estará na Galeria de Arte do Centro Cultural Minas Tênis Clube inclui esculturas, relevos, pinturas, gravuras e objetos. A maior parte do acervo que vem para o Minas são recentes e são conjuntos com peças de outras épocas do trabalho de Laender. Sendo assim, a exposição “Paulo Laender – Uma Trajetória” não é uma retrospectiva, mas sim uma leitura das obras dos artistas no decorres dos anos, observando as suas diversas nuances na busca de um melhor e mais belo resultado.
Confira texto do Secretário de Estado de Cultura, Angelo Oswaldo, sobre a trajetória de Paulo Laender
"Ao apresentar a exposição de Paulo Laender, em curso na galeria do Minas Tênis Clube, Olívio Tavares de Araújo trata da arte mineira e de algumas especificidades e características que a particularizam no contexto nacional. Lembra tanto artistas que as evidenciam em seu trabalho, como Marcos Benjamim e Fernando Lucchesi, quanto aqueles que, sem alusões mais explícitas, se inserem na Weltanschauung da mineiridade,segundo o conceito alemão citado pelo crítico, ao se referir a Amílcar de Castro e Celso Renato, tocados pelo sentimento que plasma a cosmovisão da “formosa província”. E o faz exatamente para reconhecer um certo isolamento de Laender com relação a essas sugestões e estilemas que envolvem a produção mineira contemporânea.
O pintor, gravador, desenhista, designer e arquiteto levado à importante galeria distancia-se dos veios abertos da terra. Olívio Tavares de Araújo esclarece que os substratos locais não desvitalizam, muito pelo contrário, uma linguagem universal construída pelos artistas lembrados, mas quer enfatizar a excepcionalidade de Paulo Laender. Fala sobre “a maneira oblíqua e sutil” pela qual Minas Gerais “começa a se incluir no seu universo”. Essa maneira, a meu ver, advém do modernismo e do amebóibe biomorfomizado nas diferentes manifestações do estilo.
Ao visitar a exposição, uma das mais notáveis no ano que se encerra, ocorreu-me um depoimento do artista plástico José Alberto Nemer, contemporâneo de Laender, a respeito do impacto que lhe causou, na infância ouro-pretana, o lago amebóide riscado por Oscar Niemeyer entre os pilotis do Grande Hotel da cidade barroca. Na sua formação, e cabe aqui plenamente esta palavra, Laender – nascido em Teófilo Otoni e criado em Belo Horizonte – terá sido igualmente sensibilizado pela forma que comparece às imensas superfícies das mais recentes aquarelas de Nemer. As formas amebóides surgem como um leitmotiv na pintura e na escultura ora selecionadas como marcas expressivas de sua trajetória.
O contorno amebóide da lagoa da Pampulha acolheu à volta formas semelhantes desenhadas na pintura de Portinari, nos jardins de Burle Marx, nas pastilhas de Paulo Werneck e em volumes arquitetônicos de Oscar Niemeyer, na Casa do Baile e no Cassino. O edifício sede do Ministério da Educação e Saúde (1936), hoje Palácio Gustavo Capanema, no Rio de Janeiro, consagrou essa forma, evidente, inclusive, num dos grandes painéis de azulejos de Portinari. Emblema do modernismo, o amebóide está para a produção de vanguarda dos anos de 1940 e 50 como a rocalha para a arte mineira da segunda metade do século XVIII, período em que o barroco joanino cedeu espaço aos avanços do rococó. A concha se abre, se expande e se multiplica para irromper na obra de todos os artistas da fase, como Aleijadinho e Ataíde.
Lá pelo ano de 1925, Miró viu uma tela de Picasso e lhe disse: “Curioso, estou fazendo algo com esse mesmo espírito”. “Então, ele me respondeu exatamente assim: “Sim, porque vivemos no mesmo bairro”. No mesmo bairro intelectual, que coisa bonita! – exclamou Miró na entrevista ao historiador da arte Georges Raillard. Pode-se afirmar de Paulo Lander que o seu bairro, além de coisa mental, é também real e acaba de ser inscrito no patrimônio cultural da humanidade.
Laender nasceu esteticamente sob o signo da Pampulha. Cursou a Escola de Arquitetura da UFMG marcada pelas lições de Sylvio de Vasconcellos, sentindo intensamente o “curioso e nítido perfume do modernismo” – a produção internacional dos anos de 1920 a 1950 – identificado por Olívio Tavares de Araújo em sua obra, como haverá de sê-lo na Belo Horizonte da juventude do artista. “Há no todo um remoto pano de fundo cubista e um diálogo entre ângulos e curvas que remete ao art déco”, acrescenta o crítico, o que coloca o espectador diante o opulento acervo déco da Belo Horizonte na qual se inventou a Pampulha como uma grande ruptura.
É sobre essas reminiscências que terá o escultor e pintor buscado construir obras que expõe como representativas da caminhada até agora cumprida. No contexto em que a forma amebóide agiliza seus deslizantes volteios, referências variadas se incorporam à ocupação do espaço e à construção tridimensional. O sabor geométrico do modernismo é sorvido nas superfícies pintadas. Paul Klee e Joan Miró, homenageados no título de telas, atravessam também outros trabalhos compartilhando a riqueza e a diversidade da herança legada. Grafites rupestres são fonte abundante de referências. De igual modo, árvores e fósseis vegetais e animais, corpos humanos e signos africanos instigam a criatividade de Laender e acendem o encantamento da morfologia.
A técnica de carenagem, utilizada na construção de barcos, permite ao escultor a obtenção de efeitos admiráveis na conquista da originalidade dos volumes escultóricos de madeira e de metal, enquanto o ferro lhe assegura o êxito de uma linguagem particular na manipulação de formas e linhas, conquanto próxima de artistas como Miró e Picasso. Não faltará um acento barroco, sublinhado pelo crítico no texto de apresentação. Justifica a tese de Sylvio de Vasconcellos de que o chão mineiro está impermeabilizado pelo barroquismo que emerge nas raízes nele deitadas.
Artista comprometido com o perfeccionismo, o que exige sempre a agudeza da qualidade, Paulo Laender realiza um poliedro, em que se iluminam a gravura em metal ditada por desenho mágico e sedutor, a pintura, a escultura em madeira e em metal, o design e a arquitetura, hoje mais escassa na lista de atividades do criador. Instalada de modo preciso e com atraente visibilidade pelo artista plástico Mário Zavagli, a exposição está à altura do percurso do autor e conduz os espectadores a uma visão larga e sem sombras da trajetória de um mineiro que se faz universal pela energia de sua arte."
Angelo Oswaldo de Araújo Santos
Serviço
Exposição Paulo Laender- Uma Trajetória
Data: 1º de novembro de 2016 a 8 de janeiro de 2017
Horário: de terça a sábado: 10h às 20h. Domingos e feriados: 11h às 19h.
Entrada franca