Religiosidade e imagens sacras são características marcantes da cultura e das tradições de Minas Gerais. As centenas de igrejas barrocas no interior do estado, as obras de Aleijadinho em Congonhas e o Museu do Oratório em Ouro Preto são alguns dos pontos mais visitados por quem busca conhecer nossas raízes históricas. Na próxima sexta feira, uma das mais importantes cidades do circuito histórico mineiro, conhecida pelo seu excelente nível de conservação, passa a ter ainda mais atrativos para o turismo religioso: Tiradentes vai abrir ao público um museu com 291 esculturas de Sant Ana – a mãe da Virgem Maria.
Todas as imagens, esculpidas entre os séculos XVII e XIX, foram doadas pela empresária e colecionadora Angela Gutierrez, que também dirige o Instituto Cultural Flávio Gutierrez.
Obra Sant Ana-Mestra, do século XVIII, proveniente da Bahia. Mostra Nossa Senhora menina, em pé, à esquerda da mãe, Sant Ana, e, juntas, seguram um livro aberto (Eugênio Sávio/Divulgação)
Obra Sant Ana-Mestra, do século XVIII, proveniente da Bahia. Mostra Nossa Senhora menina, em pé, à esquerda da mãe, Sant Ana, e, juntas, seguram um livro aberto
Com três anos de atraso, a restauração do prédio da antiga cadeia de Tiradentes, que abrigará o Museu de Sant’Ana, e que fica na rua Direita, em frente à Capela do Rosário, está concluída. Segundo Angela Gutierrez, foi um desafio adequar o espaço protegido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) às regras impostas pelo órgão federal. "Atrasou tudo. Eles (Iphan) demoraram para aprovar o projeto, o que retardou o início da obra. É muito complexa a implantação de um museu. Tem de ser um trabalho cuidadoso e muito criterioso, principalmente por ser em um prédio com quase 300 anos de existência", afirma a colecionadora. O espaço também abrigará um café, uma loja e um lounge.
De acordo com o arquiteto responsável pelo projeto museógrafo do Museu de Sant Ana, Pedro Mendes da Rocha, as salas para a exibição das imagens sacras terão estantes metálicas, para não influenciarem a madeira das peças, ou seja, não atraírem cupins, fungos ou bactérias. Além disso, o projeto contempla uma iluminação distribuída uniformemente pelas esculturas, e como parte da identidade do museu, cada sala terá uma estante de cor diferente. "Fazer a expografia é um grande desafio, pois tem de ser extremamente eficiente. O objetivo é mostrar da melhor forma possível as imagens de Sant’Ana, e, claro, de forma didática. Nosso trabalho teve como meta a economia de recursos, para evitar qualquer floreio", explica o arquiteto.
A criação do novo museu em Tiradentes faz parte de uma parceria entre o Instituto Cultural Flávio Gutierrez e a UFMG. A universidade mineira possui quatro imóveis na cidade que pertencem à Fundação Rodrigo Mello Franco de Andrade. Nesses locais já estão sendo implantados o Museu Casa Padre Toledo, um centro de experimentação para a produção de conteúdos culturais e didáticos multimidiáticos e uma biblioteca especializada no barroco mineiro e obras do século XVIII. Esta última, também prevista para ser inaugurada no fim do ano. "Temos R$ 3 milhões para investir no acervo: uma parte em livros e outra em conteúdo digital", conta o superintendente executivo da Fundação Rodrigo Mello Franco de Andrade, Jacyntho Lins Brandão.