Identificar, valorar, classificar e conservar objetos gráficos desconhecidos do grande público é função de um Museu de tipografia. Cidades de diversas partes do mundo que possuíram intensa prática jornalística, durante alguns séculos, hoje abrigam experiências museológicas dedicadas à memória tipográfica, como o Musée de l`imprimérie de Lyon (Lyon - França), ligado aoInstitut d’histoire du livre, Museum Platin-Moretus(Antuérpia), oMuseu Nacional da Imprensa(Porto - Portugal) e oImprenta Municipal de Madrid – Artes del libro(Madri - Espanha).No dia 13 de junho (sábado), a cidade histórica diamantinense também entra para essa lista e vai receber o primeiro museu tipográfico do gênero no Brasil.
Único do gênero no Brasil
No Brasil, algumas iniciativas tentam preservar os rastros de um patrimônio, em grande parte perdido: oMuseu da Imprensa, criado há 30 anos na Imprensa Nacional, em Brasília; as atividades pedagógicas e editoriais desenvolvidas peloMuseu Vivo Memória Gráfica, na Universidade Federal de Minas Gerais; e o recém-criadoAteliê Tipográfico, espaço de produção e visitação vinculado aoCentro Editorial e Gráficoda Universidade Federal de Goiás.
“O Museu Tipografia Pão de Santo Antônio é único do gênero no Brasil pelo fato de unir os meios de produção próprios da tipografia (máquinas, ferramentas e práticas da cultura do impresso) e os jornais impressos saídos dos prelos de sua oficina tipográfica, ao longo do século XIX”, ressalta a professora do Curso de Conservação e Restauro da Escola de Belas Artes da UFMG, Ana Utsch.
Segundo a pesquisadora, grande parte dos objetos que constituem a história da cultura impressa é cotidianamente negligenciada. Máquinas impressoras, prelos, matrizes, clichês, mobiliário diversificado, ferramentas específicas, cavaletes, gavetas, etc., não tendo seu estatuto patrimonial definido, são tratados como lixo e sucata. “Portanto, são espaços como esses que colaboram para a afirmação de uma dimensão patrimonial dos equipamentos e das técnicas, expandindo assim, a noção de Patrimônio Gráfico”, explica Ana Utsch.
Acervo Museu Tipografia Pão de Santo Antônio
O novo espaço é composto pormáquinas impressoras, cavaletes tipográficos, mobiliário, clichês e outras ferramentas, que assumem o estatuto, hoje patrimonial, ao lado de quase quatro mil exemplares dos jornais ali redigidos e impressos por mais de 80 anos. “Ele testemunha a longa prática jornalística, editorial e tipográfica desenvolvida, entre 1906 e 1990, pelos jornais diamantinenses Pão de Santo Antônio e Voz de Diamantina”, conta Ana Utsch.
O museu traz, ainda, na sua concepção, uma proposta museológica pautada também no presente. Depois de terem passado por uma minuciosa restauração, os equipamentos remanescentes da antiga tipografia foram reativados e, através de diferentes ações educativas e editoriais, o visitante tem a oportunidade de vivenciar o patrimônio gráfico em movimento: máquinas e técnicas do passado sendo manuseadas por homens e mulheres do presente. Além dessas características, o museu traz uma dimensão viva e ativa do patrimônio gráfico, ampliando suas ações de diálogo com a comunidade, a partir do desenvolvimento de publicações, oficinas abertas ao público e uma hemeroteca física e digital disponível no site do museu:www.museutipografia.com.br
Projeto Memória do Pão de Santo Antônio
Contemplado pelo Programa Petrobras Cultural e com o apoio da Universidade Federal de Minas Gerais, o projeto Memória do Pão de Santo Antônionasceu com o objetivo de resgatar mais de 80 anos de memória da tipografia e da atividade jornalística mineira e brasileira através da preservação dos acervos museológico e documental da Associação do Pão de Santo Antônio.
No edifício que abriga, desde 1901, a Associação do Pão de Santo Antônio funcionou uma oficina de tipografia onde foram impressos os jornaisPão de Santo AntônioeA Voz de Diamantina, entre1906 e 1990. Esse registro quase se perdeu com o passar dos anos. Até dois anos atrás, jornais e equipamentos da antiga técnica de composição e impressão, como cavaletes tipográficos de madeira, tipos, ornamentos de chumbo, clichês, matrizes de xilogravura, que testemunham um período histórico relevante da produção jornalística local e nacional, encontravam-se ameaçados pelas precárias condições de conservação e guarda.
Em 2001, a pedido da Associação do Pão de Santo Antônio, a então diretora de Ação Cultural da UFMG, Sônia Queiroz, solicita um diagnóstico sobre o estado de conservação dos acervos ao Museu Vivo Memória Gráfica-UFMG, coordenado pela professora e pesquisadora Ana Utsch. Realizado pela restauradora Janes Mendes Pinto (ex-aluna do curso de Conservação-Restauração da UFMG), o diagnóstico identificou todas as potencialidades do acervo.
Fonte: Revista Museu