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Metade dos adolescentes que experimentam álcool podem se tornar alcoólatras no futuro, na opinião do psiquiatra Sérgio de Paulo Ramos. Membro do Conselho Consultivo da Associação Brasileira de Estudos sobre o Álcool e Outras Drogas (Abead), Ramos é o expositor convidado da palestra de abertura do Ciclo de Debates sobre Drogas e Juventude: Prevenção o “X” da questão, que será realizado pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) nesta quinta e sexta-feiras (25 e 26/6/15).
Para o médico, o Brasil tem cuidado mal de seus jovens, pois tem uma cultura permissiva em relação ao consumo de bebidas alcoólicas por menores de 21 anos – idade que marca o amadurecimento completo do cérebro humano. "O consumo de álcool é o principal problema relacionado às drogas na juventude. Esse uso prematuro causa alterações na química cerebral, tornando a pessoa mais propícia a experimentar outras substâncias", explica o médico. Segundo ele, todas as pessoas que consomem crack ou cocaína passaram pelo álcool em algum momento. "Cuidar bem dos adolescentes começa por não facultar o acesso a bebidas alcoólicas”, defende.
Por que a sociedade é tão liberal em relação ao consumo de bebidas alcoólicas? Para o psiquiatra, a resposta passa por interesses econômicos. “A indústria de bebidas pode fazer o que bem entende e está ganhando com isso. Quem sai perdendo é a população jovem. E essa visão mercadológica está se expandido para outras drogas, como a maconha. O negócio proveniente da liberação da maconha vai gerar 300 bilhões de dólares por ano. Grupos econômicos estão despejando dinheiro para fazer a cabeça da sociedade em prol da legalização”, denuncia.
O ciclo de debates contará ainda com exposições sobre políticas de tratamento de dependentes químicos e experiências de sucesso de prevenção do uso de drogas. Entre os expositores, está Guilherme Corrêa, autor do projeto Tô Ligado!, que trabalha com foco na autoestima do jovem, de modo a evitar o envolvimento com drogas.
Apesar de reconhecer o papel do álcool como principal porta de entrada para o uso de outras drogas, Corrêa também chama a atenção para outras substâncias que podem servir de chamariz, como o cigarro e o loló (entorpecente caseiro feito com clorofórmio e éter). “Muitas vezes, o adolescente experimenta cigarro e loló e já busca outras drogas. Mas o consumo de álcool ainda é maior que o que todas as outras drogas”, aponta.
De acordo com Corrêa, o quadro é crítico porque cada vez mais crianças estão se envolvendo com entorpecentes. “No início, trabalhávamos com adolescentes a partir dos 12 anos, mas percebemos que os meninos estão consumindo cada vez mais cedo. A droga já chegou até as crianças de nove anos”, afirma.
Família tem papel fundamental no diagnóstico e no tratamento
Apesar do papel fundamental de pais e mães no diagnóstico precoce e no tratamento de dependentes químicos, Ramos e Corrêa concordam que as famílias tendem a negar o problema. “A grande maioria dos pais não identifica se o filho está mais depressivo ou eufórico. Quando chega ao ponto de roubar em casa ou ser agressivo, já é um caso avançado de dependência”, lamenta Corrêa.
Já o psiquiatra destaca que os primeiros sinais de abuso de drogas por adolescentes são queda do rendimento escolar, troca de amigos e pouca atenção às tarefas escolares. "A partir daí, é preciso procurar um profissional que vai tratar, além do dependente químico, a própria família", diz.