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Diferentes vertentes da produção fotográfica contemporânea estarão reunidas na mostra Gestos, relatos, escritas e autoficções, que tem curadoria de Mariano Klautau Filho.São trabalhos que buscam evidenciar a fotografia como um processo similar ao de produção escrita, no qual as obras não são necessariamente inacabadas, mas demonstram as estruturas de construção de relatos. A exposição reúne 106 fotos, sete livros/dissertações e seis vídeos distribuídos em 25 obras de 18 artistas de sete estados brasileiros.
Gestos, relatos, escritas e autoficções tem a particularidade de reunir artistas veteranos e iniciantes com faixa etária diversificada. O público poderá ver os trabalhos de veteranos como André Penteado, José Diniz, João Castilho, Luiz Braga, Mateus Sá, Octavio Cardoso e Walda Marques; e de iniciantes como Amanda Amaral, Cyro Almeida, Edu Monteiro, Fernanda Guigolin, Gouveia dos Santos, Ionaldo Rodrigues, Ivan Padovani, Letícia Lampert, Milla Jung, Raquel Diniz e YukieHori.
O curador Mariano Klautau destaca que a mostra é uma oportunidade para que obras com características diferentes possam dialogar. “Não importa se o trabalho é mais tradicional ou contemporâneo, todos mostram a fotografia como um processo”, completa.
Essa é a primeira exposição em que o Centro de Arte Contemporânea e Fotografia passa a ser identificado como CâmeraSete –Casa da Fotografia de Minas Gerais. Com a mudança, a ideia é transformar o espaço em um referencial para a fotografia em Minas, intensificando ações de debates e reflexões sobre a arte fotográfica.
Diferentes usos da Fotografia - Apesar de se concentrar na linguagem fotográfica, a exposição, que anteriormente foi exibida no Festival de Fotografia de Tiradentes, reúne diferentes possibilidades de uso da linguagem, que extrapola o uso da fotografia em si mesma. Um exemplo é o trabalho da paraense Milla Jung, cujo projeto ultrapassa a fotografia, combinando-a com performance e vídeo. As imagens feitas pela paranaense em PlasAytit são o resultado de um intervenção em neon, no centro de Curitiba, instalando um marco que representa a enorme presença recente da imigração haitiana no Brasil.
É característica da mostra absorver projetos que utilizam elementos das fotografias documental e ficcional para expressar relatos ou processos de escrita. São evidenciados também experiências biográficas, processos de transformações de cidades, formas de recontar a realidade do indivíduo ou ainda retratar o processo de construção literária.
Outro destaque é Metamorfose, de João Castilho. Em sua produção, o mineiro traz várias traduções de um parágrafo do livro homônimo de Kafka com pequenas alterações. Para o curador, esse exercício de escrita e de imaginação, que traça muito claramente a relação entre a fotografia e o processo de construção da escrita, o ajudou a traçar a linha curatorial.
Entre realidade e ficção – As obras em exposição manifestam fotograficamente relatos íntimos de histórias contadas pelos artistas. O lugar da realidade e da ficção nestes relatos são problematizados. Segundo Mariano, uma das características da fotografia contemporânea é o conflito entre os estatutos da ficção e da documentação. “É preciso se perguntar até que ponto a ficção não pode reescrever a realidade e abrir outras possibilidades”.
Para o curador, o importante não é negar a realidade, mas sim, perceber como a ficção pode ser uma alternativa para representar o real. “Antes de negar a realidade a gente fala muito da feitura na fotografia, deste processo em que o aspecto ficcional está muito presente. O artista está reescrevendo a sua relação com o mundo, a partir da sua imaginação. Não é recusar a ficção, é reconstruir a realidade pela fotografia”, explica o curador.
O título da exposição pode ser explicado também por essa relação. Os gestos, relatos e escritas são formas de contar e traduzir a realidade, assim como as autoficções, novas formas de dizer suas experiências.
De Tiradentes para Belo Horizonte – A exposição foi montada para o Festival de Fotografia de Tiradentes de 2015. Mariano foi convidado para assumir a curadoria por estar em contato constante com a fotografia contemporânea, graças aos seus cinco anos de trabalho como curador do prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia. Pela segunda vez, uma exposição do festival vem para Belo Horizonte. “O Festival tem se alinhando para ocupar outros espaços da Secretaria de Cultura. E essas exposições são importantes porque dão mais visibilidade, mais expressão, principalmente de público para as mostras”, explica Eugênio Sávio, produtor executivo.
Eugênio comemora também o CâmeraSete – Casa da Fotografia de Minas Gerais. “O Festival de Tiradentes surgiu dessa necessidade de discutir a fotografia, debater o assunto, levar para a academia. Belo Horizonte, já possuiu uma expressiva geração fotográfica, com projeção nacional e internacional até, mas precisamos também deste espaço”, explica Eugênio, que também é professor universitário e produtor cultural.