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A partir do próximo dia 15 de outubro, o Ponteio Lar recebe uma reflexiva mostra fotográfica com tema relativo ao “pensamento gerencial” desenvolvido na economia norte americana. Com o tema “Chester Barnard e a Revolução Gerencial”, Epaminondas Bittencourt, engenheiro, mestre em Administração pela UFMG e mestre em Administração Financeira pelas Universidades de Alicante, Barcelona e Carlos III, na Espanha, apresenta o trabalho fotográfico com imagens de Chicago e Nova York. O curador da exposição fotográfica é o artista plástico Luiz Sternick, um dos mais consagrados artistas de Minas, com trabalho reconhecido internacionalmente.
Na mostra, Bittencourt retrata pela fotografia a trajetória de um visionário da gestão, Chester Barnard. Executivo da AT&T, Bell Telephone, Presidente da Academia de Artes e Ciências dos EUA, sua produção teórica é fruto do contexto de conflitos e da busca por parte da gerência de um novo referencial de gestão, um processo evolutivo. Assim, em 1938, Barnard inova no meio social caracterizado pelo conflito industrial ao sugerir que a gerência se encontrava despreparada para a gestão das relações humanas. Desenvolve a teoria das organizações como "sistemas cooperativos" redefinindo o conceito de autoridade, "uma relação social e não um posto que emite a ordem ou a comunicação".
Ao redefinir o conceito de autoridade nas corporações, Chester Barnard amplia o desafio da gerência em relação as suas habilidades para a construção da "cooperação", introduzindo uma série de condicionantes que demarcaram a sua influência no pensamento e na prática gerencial até os dias atuais. A sua influência penetra nos conceitos de liderança, gerenciamento estratégico, cultura organizacional, identidade organizacional, responsabilidade social, imagem corporativa, enfim na governança corporativa e nas relações sociais.
Na sociedade industrial as concepções gerenciais surgiram e evoluíram no ambiente das relações de produção. A expansão do sistema capitalista até os dias atuais e a supremacia das relações de mercado ampliaram o significado da gerência para a ordem discursiva em todos os processos e relações que envolvem agregar ou destruir valor. Nesse ponto a concepção de Barnard se mantém atual, reafirmada pela gestão como prática no âmbito das relações sociais e útil quando ampliada para o "propósito" do desenvolvimento com geração e distribuição de riqueza.
O desenvolvimento com geração de riqueza é dependente de processos de aprendizagem contínua, que podem ser integrados em um conceito único nos dias atuais: “a sociedade da aprendizagem”. A aprendizagem que envolve indivíduos, empresas, instituições que precisam se constituir como “sistemas cooperativos”. “Sistemas cooperativos” circundados por políticas educacionais, tecnológicas, sociais que exigem os melhores resultados na gestão corporativa, de grandes projetos, de agrupamentos humanos nas relações sociais com interesses conflitantes. Exige a abertura a processos permanentes de aprendizagem, de desenvolvimento de competências para aprender a promoção de condições regulatórias “na supremacia” das transações de mercado, compreendendo os mercados como “instituição econômica, política e cultural”. No intuito de evitar os grandes sofrimentos, como a última grande crise econômica e a crescente mobilidade humana resultante de conflitos regionais, guerras étnicas e xenofobia na desordem da geopolítica global.
Evolução Industrial
A expansão das corporações industriais, a difusão dos valores e a formação do código ético moral da sociedade industrial ocorreu pela experiência anglo-saxã, em uma trajetória normal do nascer da revolução industrial na Inglaterra e da liderança mundial da economia americana a partir do início do século XX. Nesse período, Nova York e Chicago representavam os centros mais dinâmicos da economia industrial pelo efeito de aglomeração de investidores, centros corporativos e instituições acadêmicas responsáveis por difundir para todos os mercados as inovações tecnológicas, organizacionais e para a sociedade industrial a ordem discursiva e os valores culturais. A paisagem urbana nas duas cidades passa a refletir a nova era na arquitetura com a imponência do arranha-céu, uma realidade pela invenção do elevador em Chicago no final do século XIX.
O crescimento das corporações industriais no início do século XX nos EUA ocorre com a difusão na sociedade do valor darwinista de sobrevivência dos mais aptos, do código moral da virtude associada aos dirigentes das grandes empresas industriais na "crença do poder mental", que se constitui na justificativa para o êxito e a distinção social como resultantes dos valores de perseverança, prudência, caráter em contraposição aos destituídos do "novo pensamento", que deveriam se adaptar pelo exemplo em busca do futuro promissor. O crescimento econômico, a euforia social pelas inovações provenientes da eletricidade, do aço, da segunda revolução industrial legitimam a autoridade dos grandes dirigentes industriais e estabelecem o valor central para a gerência nas corporações: a manutenção da disciplina interna seguindo a autoridade absoluta consagrada pelo exemplo.
A expansão das corporações industriais ocorre sob grandes conflitos com sindicatos organizados em contraposição ao exercício da "autoridade soberana" e aos frutos do "processo de trabalho": as condições laborais e as remunerações. Em um ambiente de guerra industrial a gerência mantém o princípio da autoridade concentrada, mas se move em direção ao reconhecimento da existência de um outro polo organizado na produção. Incorpora a necessidade de construir uma política diretiva para o relacionamento com o denominado "mundo do trabalho", que cresce em paralelo com a expansão da sociedade industrial.
O surgimento e a difusão do taylorismo, sob a direção de Frederick Taylor, representa a perspectiva de deslocar as relações conflituosas para o âmbito da ciência, reestruturando o "processo de trabalho" em suas funções mais simples no intuito de pacificar a indústria e melhorar a produtividade no ciclo de expansão corporativa. Entretanto, mesmo com o aumento da produtividade a burocratização da empresa industrial, a degradação do trabalho, o crescimento dos níveis hierárquicos na estrutura, devido a expansão dos negócios, e a intensificação dos conflitos trouxeram a psicologia industrial para dentro das empresas no intuito de construir um novo ambiente de trabalho, agora sob a perspectiva de compreender as relações humanas no universo das relações de produção.
Mesmo mantendo a lógica do exercício da autoridade e a total divisão do "processo de trabalho" a gerência procura compreender o comportamento do indivíduo de forma isolada no chão de fábrica. Mesmo com o fracasso da psicologia industrial na resolução dos conflitos o seu legado foi importante pela introdução definitiva da academia nas corporações, possibilitando a construção sistemática de novas concepções gerenciais. O trabalho de Chester Barnard é inserido no momento crítico de conflitos na economia industrial pós depressão de 1929 e na abertura da segunda grande guerra mundial. A concepção que apresenta de “sistemas cooperativos” nas organizações humanas está centrada em três pilares: comunicação + desejo de servir + propósito. A partir desse tripé solidifica a gerência como uma prática social e de contínuo aprendizado, que acompanha e proporciona a geração de continuas inovações tecnológicas.
Entre a revolução tecnológica e a revolução gerencial existe uma “afinidade eletiva” ou seja, formas culturais, interesses políticos, econômicos, estilos de vida que promovem a atração, influência e retorno mútuo que dependem do contexto histórico e social para a evolução contínua. Estilos de vida que deixam marcas nos aglomerados urbanos, de cooperação e competição como expresso pela indústria do cinema, pelo arranha-céu na arquitetura que são dotados do significado consagrado no código ético vigente, o “da perspectiva infindável dos negócios”.
Porque o Tema em uma Exposição Fotográfica? As telas expostas retratam cenas de Chicago e Nova York devido a importância das duas cidades na expansão das grandes corporações industriais e pela difusão dos valores culturais da sociedade industrial. Pelo “efeito de aglomeração” de pessoas, movimentos culturais, instituições acadêmicas concentraram investidores e centros corporativos. O apresentar a cena urbana surge do conceito de Bertold Brecht: “a simples réplica do mundo visível sem a mediação não traz informação importante sobre a realidade”.
As fotografias, mostra preto e branco, estarão expostas a partir do dia 16 de Outubro ao dia 30 de outubro, no Ponteio Lar Shopping, Piso L2 no horário de funcionamento do estabelecimento.