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Composições de Bach, Villa-Lobos, Mozart e outros expoentes eruditos integram o repertório da última edição de 2015 da série Lírico Sacro, com o Coral Lírico de Minas Gerais. Nesta apresentação, o corpo artístico da Fundação Clóvis Salgado, sob regência do maestro Lincoln Andrade, vai reproduzir o ambiente dos concertos que aconteciam nas catedrais europeias durante os séculos XVII e XVIII, quando somente voz humana e órgão eram permitidos durante as celebrações.
Esta é a primeira vez que o Coral Lírico se apresenta na Igreja São José após as obras de restauro que devolveram as cores originais da fachada, dos sete altares e dos afrescos no teto. E, para combinar a beleza e a imponência de um dos cartões postais de Belo Horizonte com a música sacra, o repertório do programa reúne as principais peças interpretadas pelo CLMG, em três idiomas diferentes: alemão, latim e italiano. O concerto será acompanhado pelo organista Hélcio Vaz do Val.
No programa, trabalhos de Villa-Lobos, Mozart, Bach e Brahms, compositores sempre muito presentes nas apresentações do CLMG, além de árias de óperas compostas por Beethoven e Pietro Mascagni. Segundo Lincoln Andrade, “concertos como este mostram a versatilidade de repertório do Coral Lírico de Minas Gerais e garantem que mais pessoas conheçam belas canções sacras e trabalhos de famosos compositores que se inspiraram na religiosidade para construir suas obras”, aponta.
Uma das formas de ampliar e diversificar o repertório do CLMG é apostar em composições poucas vezes interpretadas, caso de Ubi Caritas, de Maurice Duruflé. Composta em 1960, a peça faz parte de uma série que Duruflé criou sobre temas gregorianos e será interpretada em latim. “Neste trabalho, Duruflé mostra o seu talento particular ao reunir elementos espirituais da melodia gregoriana num contexto polifônico”, destaca Lincoln Andrade.
O concerto também abre espaço para o repertório sacro nacional, com a obra Ave Maria, de Heitor Villa-Lobos. Estruturada em coro a cappella a seis vozes, a peça, interpretada em latim, é dividida entre os naipes de vozes femininas e masculinas, conferindo à composição um caráter mais harmônico e orquestral. Segundo Lincoln Andrade, “Villa-Lobos escreveu muitas músicas sacras, em diferentes graus de dificuldade e os trabalhos são sempre surpreendentes”.
A música barroca é outro destaque no repertório desta última apresentação da série Lírico Sacro. Em alemão, o CLMG interpreta Jesus bleibet meine Freude, de Sebastian Bach; e Ihrlieben Christen, freuteuch nun, composta por Dietrich Buxtehude. De volta ao latim, O Coral Lírico de Minas Gerais interpreta as peças Ave Verum Corpus, moteto composto no século XIV por Wolfgang Amadeus Mozart; O vos Omnes, de Pablo Casals; e Kyrie Eleison, de Louis Vierne.
Temas sacros na ópera – As árias O welche Lust, da ópera Fidelio, composta por Beethoven, que será interpretada em alemão; e Intermezzo, de Cavalleria Rusticana, de Pietro Mascagni, cantada em italiano; integram o repertório. O maestro Lincoln Andrade explica que os coros selecionados possuem um contexto sacro muito marcante e que demonstram a capacidade dos compositores em inserir temas religiosos em suas obras. “Há todo um contexto religioso, mas não obrigatoriamente uma música sacra”, destaca o Maestro. Para ele, “o universo do compositor é compor para o maior número de gêneros possíveis”.
A retomada da série Lírico Sacro teve início em agosto de 2015 e, desde então, centenas de pessoas puderam conferir apresentações do Coral Lírico de Minas Gerais nas Igrejas da Boa Viagem, no bairro Funcionários; de São Sebastião, no Barro Preto; e de Santa Tereza, em Santa Tereza.
Coral Lírico de Minas Gerais – Criado em 1979, o Coral Lírico de Minas Gerais, corpo artístico da Fundação Clóvis Salgado, é um dos raros grupos corais que possui programação artística permanente e que interpreta repertório diversificado, incluindo motetos, óperas, oratórios e concertos sinfônico-corais. Dentro das estratégias de difusão do canto lírico, o Coral Lírico desenvolve diversos projetos que incluem Lírico Sacro, Lírico no Museu, Lírico Educativo, Lírico na Cidade e participação nas temporadas de óperas realizadas pela Fundação Clóvis Salgado. O objetivo desse trabalho é fazer com que o público possa conhecer e fruir a música coral de qualidade, além de vivenciar o contato com os artistas.
Lincoln Andrade – Regente titular do Coral Lírico de Minas Gerais, possui doutorado em Regência pela University of Kansas, EUA, mestrado pela University of Wyoming, EUA, onde também foi professor assistente e ministrou aulas de canto coral e regência coral. Foi diretor musical do grupo Invoquei o Vocal, maestro titular do Madrigal de Brasília e do Coral Brasília. Recebeu prêmios nos Estados Unidos e na Europa. Foi professor e diretor da Escola de Música de Brasília. Regeu concertos na Alemanha, Argentina, Chile, Espanha, Estados Unidos, França, Grécia, Hungria, Paraguai, Polônia, Portugal e Turquia. É produtor musical, apresentador e entrevistador dos programas Conversa de Músico e Conversa de Músico Concertos, produzidos e veiculados pela TV Senado. Atualmente, é professor de regência e coordenador da Orquestra Sinfônica da Escola de Música da UFMG. É constantemente convidado para ministrar palestras sobre regência e canto coral em festivais no Brasil.
Sobre os compositores
Dietrich Buxtehude (1637–1707) – Organista e compositor dinamarquês do período barroco é considerado um dos representantes mais importantes do estilo barroco alemão. Buxtehude ganhou prestígio no cenário da música clássica com o retorno dos Abendmusik, saraus vespertinos organizados na Igreja de Marienkirche. Foi durante esse período que Buxtehude compôs algumas de suas principais obras.
Johannes Brahms (1833–1872) – Nasceu em 1833 na Alemanha e é um dos grandes representantes do romantismo. Filho de músico, demonstrou vocação para o piano já na infância. Foi maestro da Sociedade de Amigos da Música em 1872 e regeu a Orquestra Filarmônica de Viena por três temporadas seguidas. O compositor e pianista faleceu em 1897, em Viena.
Johann Sebastian Bach (1685-1750) – Compositor, cravista, cantor, maestro, violista e violinista, Bach nasceu no Sacro Império Romano-Germânico, atual Alemanha. Tendo uma forte tradição musical em sua família, desde cedo demonstrou talento e iniciou seus estudos na música. Desempenhou diferentes cargos em cortes e igrejas alemãs e praticou quase todos os gêneros musicais de seu tempo, demonstrando maior habilidade no órgão e no cravo.
Ludwing van Beethoven (1770-1827) – Compositor alemão, nascido, provavelmente, em 1770. Sua música é típica do período de transição entre as épocas Clássica e Romântica. Aos 11 anos tornou-se músico profissional e aos 12 anos substituiu seu mestre na orquestra da ópera. Atormentado pela surdez e por problemas emocionais, Beethoven foi considerado um poeta-músico, o primeiro romântico apaixonado pelo lirismo dramático e pela liberdade de expressão. Foi sempre condicionado pelo equilíbrio, pelo amor à natureza e pelos grandes ideais humanitários. Faleceu na Áustria, em 1827.
Maurice Duruflé (1902-1986) – Compositor e organista francês, Duruflé nasceu em Louviers e tornou-se corista no Coral da Catedral de Rouen em 1912, onde também estudou piano e órgão. Em 1929, tornou-se organista titular do St. Étienne-du Mont em Paris, cargo que ocupou até o fim de sua vida. Sua peça mais famosa é o Requiem op. 9, para solistas, coral, órgão e orquestra.
Pablo Casals (1876-1973) – Violoncelista e maestro catalão, percorreu a Europa e os Estados Unidos promovendo concertos e recitais. Apesar de ter realizado diversas grandes obras com orquestras e música de câmara, seus trabalhos mais notáveis foram as gravações das Suítes para Violoncelo, de Bach.
Pietro Mascagni (1863-1945) – Compositor italiano, Mascagni foi um expoente do período musical na ópera conhecido como verismo. Ao longo de sua carreira compôs 17 óperas. Seu trabalho mais conhecido é Cavalleria Rusticana.
Heitor Villa-Lobos (1887-1959) – Maestro e compositor brasileiro, considerado o expoente máximo da música do modernismo no Brasil. Natural do Rio de Janeiro, Villa-Lobos começou sua vida profissional como instrumentista e, aos 19 anos de idade, compôs as primeiras obras. Para demonstrar a semelhança de modulações e contracantos do folclore musical brasileiro com a música de Bach, compôs as nove Bachianas brasileiras. Em 1922, participou da Semana de Arte Moderna, realizada em São Paulo. Foi membro da Academia de Belas Artes em Nova Iorque. Fundou a Academia Brasileira de Música.
Louis Vierne (1870–1937) – Compositor e organista francês, Louis Vierne tinha um estilo elegante e limpo para compor suas peças. Considerado de profundo romantismo, o trabalho do compositor reúne seis sinfonias para órgão, 24 peças fantasia, e 24 obras em estilo livre. Há, também, inúmeros trabalhos para orquestras de câmara, como sonatas para violino e cello e um quarteto de cordas.