Com o intuito de se envolver mais ativamente com a produção artística e cultural da cidade, a Academia Mineira de Letras recebe, em iniciativa inédita, o grupo MADAME TEATRO durante dois meses em imersão artística na sede da Instituição. Abrindo espaço para a investigação e pesquisa do grupo, a AML contribui para o processo de construção e desenvolvimento do espetáculo que terá William Shakespeare como tema. O texto “Shakespeare – Livros para sobreviver”, do dramaturgo português Mickael de Oliveira, servirá de base para o solo de Diego Bagagal. O espetáculo estreia no dia 20 de outubro e fica em cartaz até 6 de novembro, de terças às sextas, em três apresentações diárias para um público restrito de oito pessoas por sessão.
Para esta criação, o grupo fará um diálogo interdisciplinar entre literatura, teatro e artes visuais. Para isso, contará com uma equipe de colaboradores que inclui a fotógrafa Inês Rabelo, o pintor Martim Dinis, e os video-artistas Débora de Oliveira e Ralph Antunes.
Além da temporada do espetáculo - um site specific que fará uma intervenção no Palacete Borges da Costa, onde funciona a Academia - outras ações resultarão da residência artística. No decorrer do processo serão realizados diálogos internos e abertos ao público, intermediados por um membro da Academia Mineira de Letras, além de um diário de bordo virtual sobre a ocupação, publicado no site da MADAME TEATRO e nas redes sociais da AML.
Para Diego Bagagal, que criará seu primeiro solo na AML, “estar em residência na Academia Mineira de Letras é a possibilidade de conviver com grandes artistas de Minas Gerais, deixando suas experiências atravessarem a nossa criação. É um desafio, pois muitas vezes ocupamos lugares mais marginais e agora vamos ocupar um palacete. O Palacete Borges da Costa”.
Já para Olavo Romano, Presidente da Academia Mineira de Letras, a iniciativa representa uma oportunidade de democratização do acesso do público aos processos criativos envolvidos nessa interação entre a literatura, o teatro e as artes visuais. “É sempre bom quando acontece essa troca entre a tradição e a ousadia do olhar de atores jovens. Essa experiência envolve, também, o aprofundamento na reflexão e na experimentação, tendo como referência a densidade de um autor como Shakespeare e sua obra”, finaliza.
Com essa parceria a AML busca construir um espaço de convivência entre artistas, pensadores e o público, para compartilhamento e intercâmbio de processos artísticos autorais e, dessa forma, aprofundar a reflexão e a pesquisa sobre literatura numa dimensão ampliada e imersiva.
Sobre o texto de Mickael de Oliveira
Shakespeare – Livros para Sobreviver é a reescrita do texto Cassandra – 4 lições para a sobrevivência, de Mickael de Oliveira. O ponto principal da reescrita, assumida pelo autor de Cassandra, foi a de transformar a figura mitológica grega noutra figura mítica: Shakespeare. Se a primeira versão trata de uma voz feminina que entrega a uma comunidade, enquanto “turista do sofrimento dos outros”, livros, que são lições para a sua própria sobrevivência, com Shakespeare os livros tomam outros contornos universais e teatrais, dando lugar a um discurso meta-teatral. Os livros entregues pelo dramaturgo inglês ao mundo ocidental têm, tal como Cassandra, o poder de determinar o futuro.
MADAME TEATRO
O grupo MADAME TEATRO foi fundado em 2012 em Belo Horizonte, pelos artistas Diego Bagagal e Martim Dinis. O objetivo é ser uma plataforma de criação de trabalhos autorais, experiências artísticas e processos de longa duração que possam desaguar em obras teatrais originais, interdisciplinares e multiculturais. A plataforma recebeu reconhecimentos internacionais como o convite para integrar a mostra oficial do Festival Sydney Gay and Lesbian Mardi Gras, na Austrália, o Festival Internacional de Teatro de Caracas 2014, e a mostra cultural World Cup Brazil 2014. Desde a sua fundação, a plataforma de diálogos, fruições e criações artísticas recebeu os prêmios Cena Minas e Cena Música.
Sobre os artistas
Diego Bagagal, intérprete e co-diretor do projeto, nasceu em Belo Horizonte. É ator, diretor e dramaturgo. Formado em Comunicação Social, estudou Atuação no Teatro Universitário (UFMG). Cursou também Dança Contemporânea, Ballet Clássico, Jazz e Ballet Moderno, no Primeiro Ato Centro de Dança. Em 2007, a convite de Thomas Prattki, foi para Londres onde cursou como bolsista a pós-graduação em Creating Theatre and Performance pela London International School of Performing Arts (LISPA). É autor e diretor dos espetáculos Em Louvor à Vergonha (2013), BATA-ME! (Popwitch) (2013); POP LOVE (2010), The Witch and The Frog – Pop Version (2009), e Lilimão (2006). Em 2014, integrou a equipe do espetáculo De Tempo Somos, do Grupo Galpão, como consultor e diretor da cena ‘A Carteira’. Em 2011 integrou a equipe do espetáculo Eclipse, do Grupo Galpão, como assistente de direção e coordenador de ensaios do pedagogo russo e diretor do AKT-ZENT Berlim, Jurij Alschitz. É atualmente curador do FIT-BH 2016, realizado pela Fundação Municipal de Cultura.
Martim Dinis, co-fundador do MADAME TEATRO, nasceu no Funchal (Portugal) é ator, artista plástico, pesquisador de movimento e produtor cultural. Como bolsista da GDA especializou-se em Creating Theatre and Performance pela London International School of Performing Arts (LISPA). Foi diretor assistente e preparador corporal da 16ª edição do Oficinão do Centro Cultural Galpão Cine Horto, sob a direção de Chico Pelúcio e Lydia Del Picchia. Foi também preparador corporal do Grupo Real Fantasia. Foi responsável pela dramaturgia corporal de POP LOVE, do Oficinão Galpão Cine Horto; e BATA-ME! (Popwitch), ambos de direção de Diego Bagagal. Produziu e fez a assistência de direção dos espetáculos BATA-ME! (Popwitch) e Em Louvor à Vergonha.
Mickael de Oliveira, dramaturgo do projeto, nasceu na França e vive em Lisboa desde 1999. É licenciado e mestre em Estudos Artísticos – Variante Teatro, pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Concluiu em 2013 o seu doutoramento na área da dramaturgia contemporânea portuguesa e europeia, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Escreve para teatro desde 2004, tendo co-fundado o Coletivo 84 em 2008, para o qual desenvolve um trabalho de escrita e encenação. Recebeu em 2007 o Prêmio Nova Dramaturgia Maria Matos (Teatro Municipal Maria Matos, Lisboa) pelo texto O que é teu entrego aos mortais. Em 2009, foi agraciado com a Menção Honrosa do Prémio Luso-Brasileiro António José da Silva (Teatro Nacional D. Maria II, Lisboa / FUNARTE, Brasil) com o texto Clitemnestra. Publicou em 2015 a Obra Completa Tomo I (Edições Húmus), que junta os seus últimos trabalhos de escrita. Seus textos já foram traduzidos para o francês, inglês, castelhano e eslovaco. Leituras dramáticas de seus textos foram feitas na França, Bélgica e Genebra.