Amor, destino, sorte, luxúria e os prazeres da vida mundana são temas de uma das cantatas mais famosas do mundo: Carmina Burana, que integra as comemorações de 45 anos do Grande Teatro do Palácio das Artes. Obra do alemão Carl Orff, é uma louvação à Deusa Fortuna, divindade greco-romana que governa a sorte (boa ou má) e o destino das pessoas. Interpretada pelo Coral Lírico de Minas Gerais, com acompanhamento musical do Grupo de Percussão da UFMG e dos pianistas Islei Correa e Wagner Sander, a apresentação terá ainda a participação especial dos solistas Maíra Lautert (soprano), Jean Nardoto (Tenor) e Eduardo Sant’Anna (Baixo-Barítono). A regência é do Maestro Lincoln Andrade.
Carmina Burana é uma cantata, peça formada de recitativo e ária. O público terá a oportunidade de ouvir, pela primeira vez, a versão preparada pelo aluno de Carl, Wilhelm Killmayer, que preserva essencialmente intactas as partes vocais. “Carmina Burana é uma peça que valoriza muito o Coro, ele é a grande estrela. Essa versão foi escrita preservando essa característica e possibilitando que a cantata possa ser apresentada com um grupo menor do que uma Orquestra”, explica Lincoln Andrade.
A obra, cantada em Latim, Francês e Alemão da Alta Idade Média, foi escolhida pela celebração dos 45 anos por ser uma composição alegre e convidativa. “Essa obra possui uma recepção muito boa por parte do público, já tendo sido encenada diversas vezes na Fundação Clóvis Salgado, deixando sempre vontade de quero mais”, diz o maestro Lincoln Andrade. A última vez que o Coro apresentou o título foi em 2013. Carmina Burana destaca-se pela originalidade e pela combinação de diferentes andamentos em uma obra de melodia diversa, pulsante e atraente.
Ainda atual – A primeira de uma trilogia de cantatas de Carl Orff, Carmina Burana é uma seleção de 25 canções retiradas de obra homônima, datada do século XII, que reunia aproximadamente 400 poemas escritos em Latim, Francês Meridional e Alemão da Alta Idade Média. As canções foram compostas e compiladas por bávaros conhecidos como Goliardos, eruditos e clérigos afastados da Igreja Católica dedicados à composição de poemas satíricos e cínicos que muitas vezes relatavam problemas sociais, erotismo e os prazeres da vida. O nome vem do Latim e quer dizer Canções de Beuren, referindo-se ao Monastério Beneditino, em Bendiktbeuren, na região da Bavária, Alemanha.
A obra é dividida em três partes: Fortuna, Na taverna e Corte do Amor. O primeiro momento, Fortuna, também conhecido como Primavera, relata o momento em que a sorte e o destino voltam a sorrir na Europa. “A primavera é quando tudo acontece, tudo revive. Para os Europeus é a hora de sair de casa depois do rigoroso inverno”, explica Lincoln Andrade. No trecho, os Goliardos falam de como o destino é imprevisível e a sorte é mutável. Nessa parte, as vozes femininas e masculinas se misturam para dar boas-vindas à deusa da mitologia greco-romana, que simbolizava a distribuição de bens e a coordenação da vida dos homens. Mas, até essas boas-vindas são satíricas.
Na segunda parte apenas as vozes masculinas do coro interpretam Na Taverna, que mostra a reunião dos personagens em um ambiente dominado por homens que não aceitava o público feminino. Lá entoam canções sobre as relações humanas e o cotidiano. Dessa forma abordam temas como: a fortíssima instituição da Igreja Católica e suas perversões, sexo e bebidas.
O Concerto termina com a Corte do Amor em que a montagem aborda amor, erotismo e relacionamentos. “Acredito que a temática da obra é bastante atual, muitas das questões ainda podem ser abordadas nos dias de hoje. Muito das relações humanas permanecem as mesmas”, conclui o maestro.
Obra controversa – Carmina Burana estreou em junho de 1937 em Frankfurt, na Alemanha, auge do governo Nazista de Adolf Hitler. O Furher assistiu à primeira apresentação e se encantou com a obra de Orff, que fez grande turnê pela Europa. Para Lincoln Andrade, o fato de ter feito sucesso durante a ditadura nazista fez com que muitos acreditassem que o compositor era integrante do regime. “Não há nada que indique que a obra, ou Carl, compactuassem com o nazismo. A composição é alegre, convidativa e fala de valores que não eram, necessariamente, os mesmos do regime. Mas ter feito sucesso naquela época trouxe muitos questionamentos sobre o compositor”, revela.
Sobre os convidados:
Maíra Lautert – soprano – Gaúcha, de Porto Alegre (RS), Maíra Lautert tem percorrido uma trajetória ascendente na cena lírica brasileira. Conquistou o 1º lugar no VII Concurso Nacional Villa-Lobos, 3º lugar no VII Concurso Internacional de Canto Bidu Sayão e 3º lugar no I Concurso de Canto Lírico/Ópera da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em 2013 estreou no papel título em A Raposinha Esperta, de Janacek, e Primeira Donzela em Parsifal, no Festival Amazonas de Ópera. Em 2012 cantou Adele (Il Pirata, Bellini), sob regência de Tiziano Severini, e Anjo Negro (Ripper), sob regência de A. Rocha, no Parque Lage. Estreou no Theatro Municipal de São Paulo, como Ortlinde em A Valquíria, sob regência de L. F. Malheiro. Outras performances incluem a Segunda Criada em O Anão de Zemlinky, com a Petrobras Sinfônica, sob regência de I. Karabtchevsky.
Eduardo Sant’Anna – barítono – Natural do Rio de Janeiro, Eduardo Sant’Anna é ex-integrante do Coral Lírico de Minas Gerais e iniciou sua formação musical aos 14 anos, na Escola de Música Villa-Lobos (RJ). Licenciado em Canto Lírico pela Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG), cursou Aperfeiçoamento em Ópera com o maestro Silvio Viegas, pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), abordando as óperas Cosi Fan Tutte e As Bodas de Fígaro (Wolfgang A. Mozart), em 1999 e 2000. Estreou como solista de ópera em 1999, quando interpretou Zuniga, em Carmen, de Bizet, sob direção de Bibi Ferreira. Desde então, tem atuado como barítono nas óperas La Serva Padrona, A Flauta Mágica, O Barbeiro de Sevilha e Rigoletto. É membro vitalício da Internacional Writers and Artists Association, desde 2005, onde foi condecorado com o “The Best Performing Artist of Brazil–2013”, além de Comendador Humanitário da Paz e Honra ao Mérito pela Academia Nacional e Internacional de Ciências, Artes e Letras – ANICAL.
Jean Nardoto – tenor – Graduado em Canto pela Universidade Federal de Brasília e mestre em performance vocal pela University of Wyoming, nos Estados Unidos, Jean Nardoto é natural de Brasília (DF). Conquistou o 1º lugar no programa Young Artist Award, do Metropolitan National Council (2005), em música sacra. Foi solista na Missa Longa em Ré Menor (Marconi Araújo) em Lisboa, Florença, Roma e Vaticano. Interpretou papéis principais em óperas como La Bohème (Giacomo Puccini), La Traviata (Giuseppe Verdi), Carmen (Georges Bizet), entre outros títulos de renome internacional. Recentemente, atuou como Tamino, em Die Zauberflöte, na cidade de Weimar, Alemanha, e no papel de Duca, na ópera Rigoletto, montagem da Fundação Clóvis Salgado (2014).
Grupo de Percussão da UFMG – Criado em 1998, o Grupo de Percussão da UFMG explora instrumentos como vibrafone, xilofone, tímpanos, marimba, pandeiros e objetos não convencionais em suas apresentações. O Grupo também prioriza a música contemporânea e arranjos originalmente brasileiros no repertório. Com 16 anos de história, o Grupo de Percussão da UFMG tem marcado presença nos principais eventos culturais de Minas Gerais, entre eles: Verão Arte Contemporânea, FID, FIT, Ciclo de Música Contemporânea de Inhotim, Festival de Inverno de Ouro Preto, Semana da Música de Itabira e Festival de Música de Juiz de Fora. Além disso, participou de eventos internacionais como PASIC (EUA), maior encontro mundial de percussão, e o VII Encontro Latino-Americano de Percussão. Em 2004, além de organizar a primeira edição do Festival Internacional de Música de Belo Horizonte (FIM), lançaram o CD Villa-Lobos e os Brinquedos de Roda.
SERVIÇO
Evento: Carmina Burana com Coral Lírico de Minas Gerais, Grupo de Percussão da UFMG, músicos e solistas convidados.
Local: Grande Teatro do Palácio das Artes - Palácio das Artes - av. Afonso Pena, 1537 – Centro
Período: 15 de março
Horário: 20h30
Preço: R$ 40 (inteira) R$ 20 (meia-entrada)
Classificação indicativa: 10 anos
Duração: 1h
Informações para o público: (31) 3236-7400