A CâmeraSete – Casa da Fotografia de Minas Gerais recebe as exposições selecionadas no primeiro Edital de Ocupação de Fotografia da Fundação Clóvis Salgado. Desmembrado do Edital de Ocupação de Artes Visuais, em exposição nas galerias do Palácio das Artes, o Edital de Fotografia pretende fomentar a produção artística contemporânea de mais essa linguagem das artes visuais, em franca expansão. Os primeiros contemplados foram Luiza Baldan (RJ) e Nelton Pellenz (RS), com as exposições Entre Lugares e Abertura para o Incerto, respectivamente. Os projetos foram escolhidos dentre mais de 230 propostas recebidas pela Fundação entre dezembro de 2015 e janeiro de 2016.
A publicação de um edital exclusivo para a fotografia vai ao encontro da diretriz de valorização da arte fotográfica promovida pela Fundação Clóvis Salgado. Em junho de 2015, a FCS passou a dedicar o espaço localizado no hipercentro de Belo Horizonte à fotografia, a CâmeraSete. A adequação veio atender a uma necessidade do Estado, com o estabelecimento de um espaço referencial para ações de debates e reflexões sobre esta linguagem artística.
Com trabalhos do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul, os selecionados no primeiro edital de fotografia refletem a ampla adesão nacional às iniciativas da Fundação Clóvis Salgado. “Temos recebido cada vez mais trabalhos de todo o país. Isso é um resultado da projeção dos editais e indica o fortalecimento de um de seus principais objetivos: fomentar a produção e circulação de artes visuais no Brasil”, explica Uiara Azevedo, Gerente de Artes Visuais da Fundação Clóvis Salgado.
Os selecionados contam com apoio da FCS para publicação de catálogo e material educativo, assessoria de imprensa e ajuda de custo para a produção das exposições.
- Entre Lugares, de Luiza Baldan
Ressaltar a falta da forma humana em espaços habitados e passageiros. Essa é uma das propostas da exposição ENTRE LUGARES, de Luiza Baldan. Com fotografias realizadas a partir de 2004, o espectador é instigado a conhecer configurações espaciais de paisagens que se repetem, independentemente da localização geográfica.
A exposição é o resultado de uma pesquisa que vem sendo desenvolvida por Luiza sobre espaços habitados e transitórios. São 11 obras compostas de 5 séries fotográficas distintas, que retratam o cotidiano urbano, transitando entre ambientes fechados e abertos, como cômodos de casas e construções incompletas. “Minha pesquisa lida diretamente com dinâmicas urbanas que se estabelecem entre o homem e a arquitetura, a memória e a cidade. As imagens e textos resultam da inter-relação com o entorno”, explica Luiza.
Ao lidar com a constante mudança de ambiente ao longo da vida, a artista busca a temática do transitório para exercitar o olhar do expectador sobre coisas “banais”, do cotidiano. “Somo mais de 30 endereços ao longo de 35 anos. Trabalhar com essa questão sempre foi natural e, ao mesmo tempo, desafiante”, declara Baldan.
O título da mostra é influenciado pelo conceito de lugares distintos que possuem características semelhantes. Segundo a artista, o nome gira também em torno das influências de trabalhos passados, individuais e coletivos, que receberam nomes como Lugar Nenhum e Lugares que Habitam Lugares. “Por ser curioso ter tantas variações para o mesmo tema, me pareceu pertinente buscar um título que tentasse aproximar a ideia de intervalo entre tantos lugares percorridos”, explica Baldan.
As cinco séries expostas na CâmaraSete são: Diário Urbano (2004-2012), Pinturinhas (2009-2012), A uma casa de distância da minha (2012), Leituras de um Lugar Valioso (2012-2016) e Corta Luz (2013).
Sobre a artista
A carioca Luiza Baldan formou-se em Artes Visuais na Florida International University, em 2002. Atualmente, reside no Rio de Janeiro, onde dá andamento ao doutorado em Linguagens Visuais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Expôs parte da série fotográfica “Natal no Minhocão”, no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, em 2013, na mostra coletiva “Escavar o Futuro”.
- Abertura para o incerto, de Nelton Pellenz
Partir para o desconhecido e trazer novas abordagens sobre os espaços percebidos é o mote para a realização dos trabalhos de Nelton Pellenz. Situações corriqueiras presenciadas a sua volta, nos processos de deriva, são utilizadas pelo artista para, através do vídeo e da fotografia, evidenciar a carga poética de cada um desses momentos. Utilizando-se de ajustes técnicos na fase de pré ou de pós-produção, a proposta de Nelton é gerar alguns tensionamentos entre realidade e ficção, criando narrativas para apreender os sentidos do espectador.
Realizadas entre os anos de 2014 e 2015, as obras apresentadas na exposição Abertura para o incerto suscitam questões que envolvem os conceitos de fronteira, sejam elas físicas, psicossociais ou relacionadas à própria imagem que, sempre em tensão entre aquilo que ela deixa suspenso e o modo como o espectador a recebe e assoma, propõe novos questionamentos. Nesta exposição, a natureza, considerada a primeira fronteira, e em especial a água, servem como um elo de ligação para descrever uma série de leituras e sensações. Com seus vídeos e fotografias, Pellenz dá tons de mistério às suas obras, instiga a espera e explora sutilmente as incertezas que envolvem os diálogos fronteiriços.
Nelton esclarece ainda que a estética das imagens presentes nas obras é uma busca constante e o apuro de suas técnicas e características de filmagem deixam os trabalhos de vídeo mais próximos à linguagem fotográfica. As obras em vídeo destacam tempos diferentes e relações igualmente diversas com o espectador; a partir da utilização da câmera fixa e dos planos-sequência, os acontecimentos fortuitos acabam por conduzir as narrativas. O processo, desde a captura até a edição das imagens, parte da ideia de levar o espectador para um estado de contemplação, de imersão.
Para o artista, participar de um edital como esse é uma oportunidade única. “O que a Fundação faz com esse edital, que tem essa frequência, é muito importante para os artistas visuais, precisamos de outras iniciativas como essa. É algo único, principalmente, considerando o acompanhamento e essa assistência prestados pela Fundação Clóvis Salgado do início ao fim”, declara Nelton.
Sobre o artista
Natural de São Paulo das Missões e atualmente vivendo em Porto Alegre, ambos no Rio Grande do Sul, Nelton Pellenz iniciou sua carreira com a produção de vídeos, em 2005 e integra, desde então, o Projeto Cine Água, juntamente com o artista Dirnei Prates. Graduado em Administração pela Universidade Federal de Santa Maria / RS, frequentou diversos cursos e workshops voltados para o campo da arte. Desde 2006, tem seus trabalhos apresentados, sistematicamente, em mostras e festivais de cinema, vídeo e fotografia no Brasil e no exterior. Recentemente, recebeu o Prêmio Especial do Júri no 19º International Film Festival Zoom - Zblizenia, em Jelenia Góra / Polônia e Menção Honrosa no 13th IPA - International Photography Award, na Califórnia / EUA.
Edital de Ocupação de Artes Visuais 2016 da FCS - FOTOGRAFIA
Entre lugares, deLuiza Baldan
Abertura para o Incerto, de Nelton Pellenz
Local: CâmeraSete – Casa da Fotografia de Minas Gerais
Av. Afonso Pena, 737 – Centro
Período: 29 de abril a 9 de julho
Horário: terça a sábado das 9h30 às 21h
Entrada gratuita
Classificação livre
Informações para o público: (31) 3236-7400