Crédito: Rafael Motta
Instrumentos inusitados marcam presença no palco da Sala Minas Gerais em concertos da Filarmônica de Minas Gerais nos dias 28 e 29 de abril, às 20h30. Máquina de escrever, roda de bicicleta, uma arma de espoleta de brinquedo, sirene e até um garrafofone se unem ao naipe de percussão da Orquestra para interpretar o balé Parade, de Erik Satie, compositor nascido há 150 anos que recebe homenagem na Temporada 2016. Sob regência do maestro Fabio Mechetti, o concerto, dedicado à música francesa, também traz a obra As Sombras do Tempo, de Henri Dutilleux – cujo centenário é celebrado este ano –; a Sinfonia nº 1 em Dó maior, de Bizet; e L’Isle Joyeuse, de Debussy.
O percussionista principal da Orquestra, Rafael Alberto, explica que, para interpretar a obra de Satie, foi necessário buscar outros objetos, para servir como elementos da percussão e, ainda, construir um novo instrumento: o garrafofone. “A partitura do compositor pede esse instrumento inusitado, que se trata de um xilofone feito de garrafas. Foi necessário encontrar as garrafas certas, com tamanho e espessura variados, e ir afinando o som com diferentes níveis de água em cada uma delas até chegar ao idealizado pelo compositor”, relata.
Para o maestro Fabio Mechetti, "o grande diferencial de Satie, em relação a quase todos os outros compositores da história, é que ele nunca se levou a sério. E essa atitude despojada fez com que ele se tornasse um dos criadores mais instigantes da história da música, graças ao seu experimentalismo. Em Parade, como num desfile de figuras inesperadas, somos introduzidos a sons nunca antes presenciados numa sala de concerto até então".
Antes das apresentações, entre 19h30 e 20h, o público poderá participar dos Concertos Comentados, palestras que abordam aspectos do repertório. O palestrante das duas noites é Werner Silveira, percussionista da Filarmônica e curador dos Concertos Comentados. A entrada é gratuita, aberta às primeiras 65 pessoas que chegarem e apresentarem o ingresso para a apresentação da noite.
Estes concertos são apresentados pelo Ministério da Cultura e Governo de Minas Gerais e contam com o patrocínio do Mercantil do Brasil por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. Já as palestras dos Concertos Comentados são apresentadas pelo Ministério da Cultura, Governo de Minas Gerais e Supermix por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.
O repertório
Erik Satie (França, 1866-1925)e a obra Parade: Balé realista sobre um tema de Jean Cocteau (1917)
Parade é considerada a composição mais importante de Satie. Esse balé em um ato, com argumento de Jean Cocteau, costumes desenhados por Picasso e coreografia de Léonide Massine, foi escrito para os Ballets Russes de Sergei Diaghilev, que o estrearam no Théâtre du Châtelet, em Paris, em maio de 1917, com regência de Ernest Ansermet. Sobre a obra, Jean Cocteau escreveu que se tratava de “uma banda carregada de sonho”. O próprio Satie, com ironia e falsa modéstia, a declarou “um fundo com certos barulhos que Cocteau julga indispensáveis”. Apollinaire disse que se tratava de “une sorte de surréalisme” (uma espécie de surrealismo), três anos antes de o movimento surrealista surgir em Paris. Na música de Parade, a ironia e o eterno espírito subversivo de Satie estão condensados.
Henri Dutilleux (França, 1916-2013) e a obra As Sombras do Tempo (1997)
A música de Dutilleux frequentemente se inspira em obras literárias ou pictóricas, mas o compositor se declara contrário ao “programa descritivo” dos poemas sinfônicos do século XIX e usa essa inspiração de maneira muito pessoal.As Sombras do Tempo, de 1997, tem como referência o livro O Diário de Anne Frank e é uma meditação sobre o tempo. Construído em quatro movimentos, a música trabalha com um tempo que não deveria jamais ser esquecido. Segundo o próprio Dutilleux, a unidade da peça resulta de alusões “tanto a imagens atemporais quanto a acontecimentos passados, cuja lembrança, apesar das marcas do tempo, não cessam de me assombrar”. Um coro de seis vozes juvenis canta um pequeno trecho do livro.
Georges Bizet (França, 1838-1875) e a Sinfonia nº 1 em Dó maior (1855)
Bizet tinha apenas dezessete anos e era ainda aluno do Conservatório de Paris quando compôs sua Primeira Sinfonia. A obra teve como modelo a Sinfonia no 1 de Charles Gounod, seu professor, cujo arranjo para dois pianos tinha sido feito por Bizet. Pelo pouco esforço que Bizet fez para conseguir que sua Primeira Sinfonia fosse executada, presume-se que se tratava de um trabalho da aula de composição. Após a sua morte, a obra ficou esquecida. Em 1933, o musicólogo francês Jean Chantavoine descobriu o manuscrito na Biblioteca do Conservatório de Paris e a Sinfonia foi apresentada pela primeira vez em 1935 na Basileia, regida por Felix Weingartner. Embora seja uma obra de juventude, ela já revela o talento de Bizet em sua riqueza melódica e colorido orquestral. Aos poucos, A Sinfonia no 1 entrou para o repertório orquestral, enquanto a sinfonia de seu mestre caía no esquecimento.
Claude Debussy (França, 1862-1918) e a obra L’Isle Joyeuse (1904, orquestrada por Bernardino Molinari em 1917)
Em 1717, Citera, a mitológica ilha grega dos amantes, serviu de inspiração a Antoine Watteau para pintar sua Peregrinação à ilha de Citera. Muito se disse que esse quadro serviu de inspiração paraL’Isle Joyeusede Claude Debussy, mas há outras camadas nesta história. À época da composição, Debussy vivia um sucesso crescente como músico e projetava-se como figura central no cenário musical francês. Porém, o relacionamento extraconjugal com Emma Bardac, esposa de um importante banqueiro, ameaçava sua reputação. Assim, em 1904, absorvido pela escrita deLa Mere sufocado pela sociedade parisiense, Debussy decide isolar-se com Emma na ilha de Jersey, próxima à Normandia, onde trabalha em diversas obras e revisaL’Isle Joyeuse. Essa ilha, onde Debussy pôde viver seu amor proibido, parece ser a verdadeira inspiração para a obra estreada pelo pianista Ricardo Viñes em fevereiro de 1905. Seu amigo, o regente italiano Bernardino Molinari, acompanhado de perto pelo próprio compositor, orquestrou L’Isle Joyeuse em 1917.
Maestro Fabio Mechetti
Desde 2008, Fabio Mechetti é Diretor Artístico e Regente Titular da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais. Com seu trabalho, Mechetti posicionou a orquestra mineira nos cenários nacional e internacional e conquistou vários prêmios. Com ela, realizou turnês pelo Uruguai e Argentina e realizou gravações para o selo Naxos. Natural de São Paulo, Fabio Mechettiserviu recentemente como Regente Principal da Orquestra Filarmônica da Malásia, tornando-se o primeiro regente brasileiro a ser titular de uma orquestra asiática. Depois de quatorze anos à frente da Orquestra Sinfônica de Jacksonville, Estados Unidos, atualmente é seu Regente Titular Emérito. Foi também Regente Titular da Sinfônica de Syracuse e da Sinfônica de Spokane. Desta última é, agora, Regente Emérito. Foi regente associado de Mstislav Rostropovich na Orquestra Sinfônica Nacional de Washington e com ela dirigiu concertos no Kennedy Center e no Capitólio norte-americano. Da Orquestra Sinfônica de San Diego, foi Regente Residente. Fez sua estreia no Carnegie Hall de Nova York conduzindo a Orquestra Sinfônica de Nova Jersey e tem dirigido inúmeras orquestras norte-americanas, como as de Seattle, Buffalo, Utah, Rochester, Phoenix, Columbus, entre outras. É convidado frequente dos festivais de verão nos Estados Unidos, entre eles os de Grant Park em Chicago e Chautauqua em Nova York.
Realizou diversos concertos no México, Espanha e Venezuela. No Japão dirigiu as orquestras sinfônicas de Tóquio, Sapporo e Hiroshima. Regeu também a Orquestra Sinfônica da BBC da Escócia, a Orquestra da Rádio e TV Espanhola em Madrid, a Filarmônica de Auckland, Nova Zelândia, e a Orquestra Sinfônica de Quebec, Canadá. Vencedor do Concurso Internacional de Regência Nicolai Malko, na Dinamarca, Mechetti dirige regularmente na Escandinávia, particularmente a Orquestra da Rádio Dinamarquesa e a de Helsingborg, Suécia. Recentemente fez sua estreia na Finlândia dirigindo a Filarmônica de Tampere e na Itália, dirigindo a Orquestra Sinfônica de Roma. Em 2016 fará sua estreia com a Filarmônica de Odense, na Dinamarca.
Igualmente aclamado como regente de ópera, estreou nos Estados Unidos dirigindo a Ópera de Washington. No seu repertório destacam-se produções de Tosca, Turandot, Carmen,Don Giovanni, Così fan tutte, La Bohème, Madame Butterfly, O barbeiro de Sevilha, La Traviata e Otello. Fabio Mechetti recebeu títulos de mestrado em Regência e em Composição pela prestigiosa Juilliard School de Nova York.
Sobre a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais
Com apenas oito anos de existência, a Filarmônica de Minas Gerais recebeu três prêmios de melhor grupo musical brasileiro, efetivando-se como um dos projetos mais bem-sucedidos de Minas Gerais e do Brasil no campo da música erudita. Sob a direção artística e regência titular de Fabio Mechetti, a Orquestra é atualmente formada por 92 músicos provenientes de todo o Brasil, Europa, Ásia, Américas Central, do Norte e Oceania, selecionados por um rigoroso processo de audição. Neste período, realizou 554 concertos, com a execução de 915 obras de 77 compositores brasileiros e 150 estrangeiros, para mais de 709 mil pessoas, sendo que mais de 40% do público pôde assistir às apresentações gratuitamente. O impacto desse projeto artístico durante os anos também pode ser medido pela geração de 59 mil oportunidades de trabalho direto e indireto.
O corpo artístico Orquestra Filarmônica de Minas Gerais é oriundo de política pública formulada pelo Governo do Estado de Minas Gerais. Em 2008, com a finalidade de criar uma nova orquestra para o Estado, o Governo optou pela execução dessa política por meio de parceria com o Instituto Cultural Filarmônica, uma entidade privada sem fins lucrativos qualificada com o título de Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip). Tal escolha objetivou um modelo de gestão flexível e dinâmico, baseado no acompanhamento e avaliação de resultados. Um Termo de Parceria foi celebrado como instrumento que rege essa relação entre o Estado e a Oscip, contendo a definição das atividades e metas, bem como o orçamento necessário à sua execução.
Programação
A partir de 2015, quando a Orquestra passou a se apresentar em sua sede, a Sala Minas Gerais, sua programação foi intensificada. De 24, saltou para 57 concertos por assinatura, sempre com convidados da cena sinfônica mundial. Em 2016, estreiam com a Orquestra os regentes convidados Justin Brown e Dorian Wilson, além dos solistas Luis Ascot, Gabriela Montero, Javier Perianes, Clélia Iruzun, Antti Siirala, Lara St. John e Ji Young Lim. O público também terá a oportunidade de rever grandes músicos, como os regentes Rodolfo Fischer, Carl St. Clair, Marcelo Lehninger, Carlos Miguel Prieto e Cláudio Cruz, e os solistas Celina Szrvinsk, Miguel Rosselini, Barry Douglas, Angela Cheng, Arnaldo Cohen, Conrad Tao, Natasha Paremski, Cristina Ortiz, Luíz Filíp, Vadim Gluzman, Asier Polo, Leonard Elschenbroich, Fábio Zanon, Denise de Freitas e Fernando Portari.
A Filarmônica também desenvolve projetos dedicados à democratização do acesso à música clássica de qualidade. São turnês em cidades do interior do estado, concertos para formação de público, apresentações de grupos de câmara, bem como iniciativas de estímulo à profissionalização do setor no Brasil – o Festival Tinta Fresca, dedicado a compositores, e o Laboratório de Regência, destinado ao aprimoramento de jovens regentes. Já foram realizadas 82 apresentações em cidades mineiras e 29 concertos em praças públicas e parques da Região Metropolitana de Belo Horizonte, mobilizando um público de 274 mil pessoas. Mais de 70 mil estudantes e trabalhadores tiveram a oportunidade de aprender um pouco sobre obras sinfônicas, contexto histórico musical e os instrumentos de uma orquestra, participando de concertos didáticos.
O nome e o compromisso de Minas Gerais com a arte e a qualidade foram levados a 15 festivais nacionais, a 32 apresentações em turnês pelas cinco regiões brasileiras, bem como a cinco apresentações internacionais, em cidades da Argentina e do Uruguai.
A Filarmônica tem aberto outras frentes de trabalho, como a gravação da trilha sonora do espetáculo comemorativo dos 40 anos do Grupo Corpo, Dança Sinfônica (2015), criada pelo músico Marco Antônio Guimarães (Uakti). Com o Giramundo Teatro de Bonecos, realizou o conto musical Pedro e o Lobo (2014), de Sergei Prokofiev. Comercialmente, a Orquestra já lançou um álbum com a Sinfonia nº 9, “A Grande” de Schubert (distribuído pela Sonhos e Sons) e outros três discos com obras de Villa-Lobos para o selo internacional Naxos.
Prêmios
Reconhecida e elogiada pelo público e pela crítica especializada, a Filarmônica, em conjunto com a Sala Minas Gerais, recebeu o Grande Prêmio Concerto 2015. Em 2012, ganhou o Prêmio Carlos Gomes de melhor orquestra do Brasil e, em 2010, o Prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes) de melhor grupo musical erudito. O maestro Fabio Mechetti recebeu o Prêmio Minas Gerais de Desenvolvimento Econômico de 2015 e o Carlos Gomes de melhor regente brasileiro em 2009 por seu trabalho à frente da Filarmônica. Neste ano, 2016, a Filarmônica e o maestro Mechetti recebem o Troféu JK de Cultura e Desenvolvimento de Minas Gerais, uma iniciativa da publicação Mercado Comum.
O Instituto Cultural Filarmônica recebeu dois prêmios dentro do segmento de gestão de excelência. Em 2013, concedido pela Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão de Minas Gerais, em parceria com o Instituto Qualidade Minas (IQM), e em 2010, conferido pela Fundação Instituto de Administração da Universidade de São Paulo (USP). Na área de Comunicação, foi reconhecido com o prêmio Minas de Comunicação (2012), na 10ª Bienal Brasileira de Design Gráfico (2013) e na 14ª Bienal Interamericana de Design, ocorrida em Madri, Espanha (2014).
SERVIÇO
Orquestra Filarmônica de Minas Gerais
Série Allegro
28 de abril–20h30
Sala Minas Gerais
Série Vivace
29 de abril–20h30
Sala Minas Gerais
Fabio Mechetti, regente
SATIE Parade
DUTILLEUX As Sombras do Tempo
BIZET Sinfonia nº 1 em Dó maior
DEBUSSY/Molinari L’Isle Joyeuse
Ingressos: R$ 34,00 (Balcão Palco e Coro), R$ 44,00 (Mezanino), R$ 56,00 (Balcão Lateral), R$78,00 (Plateia Central) e R$98,00 (Balcão Principal).
Meia-entrada para estudantes e maiores de 60 anos, mediante comprovação.
Informações:(31) 3219-9000 ou www.filarmonica.art.br
Funcionamento da bilheteria:
Sala Minas Gerais – Rua Tenente Brito Melo, 1090 – Bairro Barro Preto
De terça-feira a sexta-feira, das 12h às 21h.
Aos sábados, das 12h às 18h.
Em sábados de concerto, das 12h às 21h.
Em domingos de concerto, das 9h às 13h.