Trinta afiados poetas de diversas regiões do país reunidos em um livro que representa a história do Salão Nacional de Poesia Psiu Poético. A Sala Juvenal Dias do Palácio das Artes recebe no dia 10 de junho, às 20h, o lançamento do título que desafia a atravessar mais de três décadas de poesia.
A antologia “Trinta Anos-Luz: poetas celebram 30 anos do Psiu Poético” foi organizada pelos escritores Aroldo Pereira (MG), Luis Turiba (RJ) e Wagner Merije (SP) e publicada pela editora Aquarela Brasileira Livros, de São Paulo.
Antecede o lançamento, às 19h, uma palestra sobre a trajetória do movimento cultural a ser ministrada pelo poeta Aroldo Pereira, que abordará a iniciativa como a grande Festa da Poesia Brasileira em Minas Gerais.
O Salão de Poesia acontece anualmente no mês de outubro, em Montes Claros, norte de Minas Gerais. A iniciativa homenageia poetas vivos que contribuem ativamente para a produção e discussão da poesia contemporânea. Nomes como Jorge Mautner, Mirna Mendes, Thiago de Mello, Arnaldo Antunes e Adélia Prado já marcaram presença no evento.
A obra
Coube ao professor e poeta Anelito de Oliveira, que viu o Salão de Poesia nascer na década de 80, falar sobre a aventura estética da edição. Crítico literário, Anelito é ex-editor do Suplemento Literário de Minas Gerais (1999-2003) e acredita que a nova antologia coloca o Salão mais como um movimento de processo infinito do que como um lugar de chegada, uma conclusão.
Para Anelito, não se trata de uma antologia empenhada em legitimar nomes, até porque muitos já estão legitimados, mas antes como uma mostra que visa configurar um desenho, tanto quanto possível, sobre o Psiu Poético, revelando, a partir da pluralidade de linguagens, o traço distintivo, referencial do Psiu Poético, que é o convívio dos diferentes como diferentes.
Segundo a professora Ivone Daré Rabello, do Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, o título reúne muitas vozes e modos de expressão. “O interesse da publicação não está na diversidade de pontos de vista, escolhas de linguagem, opções imagéticas e estilísticas. Nem na dificuldade em atingir de fato a plena realização formal. Essa diversidade e essa dificuldade são seus pressupostos. O interesse mais autêntico está nas surpresas e nas ponderações a que ela nos conduz”, avalia a especialista.
SERVIÇO
Lançamento
Data: sexta-feira, 10 de junho.
Horário: 20h
Local: Sala Juvenal Dias do Palácio das Artes
Trinta Anos-Luz : Poetas celebram 30 anos de Psiu Poético
Editora: Aquarela Brasileira (aquarelabrasileira.com.br)
Gênero: Poesia
Formato: 16×23 cm
Número de páginas: 200
ISBN: 978-85-92552-01-5
Valor: R$ 35,00
Psiu, são 30 anos de poesia
Angelo Oswaldo de Araújo Santos
Não é vã guarda a prontidão de Aroldo Pereira na poesia dos últimos trinta anos. Resulta em extensa obra que atrai o interesse e sempre surpreende quem ouve o seu psiu poético, siflado numa esquina de Montes Claros para ecoar mundo afora. Presença frutífera, ágil e inquieta, a poesia de Aroldo Pereira nasceu na década de 80 e celebra, com nova safra, os três decênios. O país emergia do autoritarismo, e uma vaga de experimentação renovava os influxos da tropicália, das artimanhas da Nuvem Cigana e da poesia beat, no corredor polonês das vanguardas, quando ele começou a escrever e lançou o salão nacional de poesia Psiu Poético. Tanto o encontro anual em Montes Claros quanto a sua inventiva produção guardam uma vitalidade que enfatiza a importância da poesia na cultura brasileira.
O raio desordenador de Raymundo Colares atravessou a cabeça de Aroldo Pereira, enquanto Hélio Oiticica revestiu os passos do poeta na ginga do parangolé. A marginalidade tem centros luminosos. No tédio e na solidão de sua “princesa decadente”, arando os campos haroldos e ovacionando Oswald, o criador do Psiu flertou com os tropicalistas do Brasil e os beats americanos, varou os grafites e a velocidade das ruas, cortou tribos e territórios urbanos e decolou do sertão para ganhar altura. No mundo das imagens, a ereção do poema se faz com palavras acesas. Torcer o verso como Torquato, gritar Olé, Oiticica, ler o “gibi” de Colares, escrever no fio da navalha para cortar as realidades repletas de “verdades vadias”. Rapto rápido como o rap no universo do verbo.
A comemoração das três décadas do Psiu Poético é um acontecimento significativo. Em outubro, em Montes Claros, poetas se reunirão no abraço a Aroldo Pereira, celebrando a vida, porque
há coisas miúdas q. nos encantam
mesmo faltando dinheiro para o aluguel
e a visita tendo q. dormir no sofá
Poeta, ator, compositor e agitador cultural, ele “não se cansa de reivindicar, através de sua relação com a linguagem e com a vida, um lugar para o homem na ordem das coisas”, como registra Wagner Rocha, na abertura de “Parangolivro”, editado pela 7Letras em 2010. Sua poesia, enfatiza Rocha, “é marcada por uma necessidade de mexer nas feridas sociais, de traduzir em versos toda a dor da humanidade que atravessa grandes conflitos”. Poeta do nosso tempo, em “Geração” ele diz
passar no asilo
ver se reservaram
vaga pra minha
Aroldo Pereira pode saber que, nas bibliotecas, registros e acervos de poesia, a reserva está confirmada. Ele não precisa pedir licença para entrar. Sua numerosa lista de livros publicados tem lugar garantido pelo tempo que for, para o acesso das gerações que vierem.