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Secretário de Estado de Cultura fala sobre os desafios à frente da pasta


O Secretário, Angelo Oswaldo, concedeu entrevista ao jornal Tribuna de Minas, em que aponta os desafios para a atual gestão da Secretaria de Estado de Cultura.

Confira na integra:

Escritor, curador e crítico de arte reconhecido, além de advogado por formação, Angelo Oswaldo se compromete a não defender apenas a erudição, da qual é bastante íntimo, mas a cultura popular e periférica. Recém-saído da presidência do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), órgão que deixou para assumir o novo cargo, o ex-prefeito de Ouro Preto por três mandatos (1993-1996; 2005-2008 e 2009-2012) chega para a nova empreitada conhecendo números superlativos. “Tive uma experiência muito positiva no Ibram, com um contato muito direto com o país e um diálogo internacional muito rico”, diz ele sobre a instituição com cerca de 3.500 museus subordinados.

Realista, Angelo Oswaldo não nega o presente tortuoso, mas não se mostra temeroso. “Num momento de crise, de dificuldades, com uma herança pesada que recebemos, vejo com otimismo o desenvolvimento de uma política pública de cultura”, aponta. Sem anúncios e projetos materializados, ele diz que é tempo de conversa. Já recebeu o prefeito Bruno Siqueira e, em outra ocasião, o superintendente da Funalfa, Toninho Dutra, com o deputado Isauro Calais. “Temos debatido a vida cultural de Juiz de Fora”, conta ele, presença frequente em discussões com a classe. Questionado sobre a força de Juiz de Fora dentro da política estadual de cultura, é subjetivo, quase vago. Novamente, diz que é tempo de conversa. E, calmamente, conversa com a Tribuna, por telefone, num tom quase enigmático de que tudo pode mudar.

Tribuna – É possível pensar em promessas num ano que já tem se mostrado tão difícil?

Angelo Oswaldo – O que nós temos que fazer é compromisso e não promessa. Promessa pressupõe, até, previsão. Fizemos uma avaliação, e o Governo apurou um déficit orçamentário, este ano, na ordem de R$ 6 bilhões, além de uma série de problemas gerenciais com graves consequências para a administração. Na área da cultura, a situação é gravíssima. A Lei Estadual de Incentivo à Cultura teve seu teto estourado em março e, no ano passado, em agosto. Houve um excesso de aprovação de projetos, para além da previsão anual, o que gerou um acúmulo e afeta a prática da lei até 2017. Nossa meta é obter recursos para o Fundo Estadual de Cultura e, assim, podermos executar um programa de estímulo às atividades culturais. Temos problemas tão graves que a solução não surge de uma hora para outra. Muitas pessoas, até, açodadamente, cobram soluções para problemas que foram criados e se acumularam nos últimos 12 anos. A lei de incentivo pede uma revisão, mas estamos ouvindo as pessoas. Nada se faz improvisadamente. O primeiro momento é de escuta, análise.

- Um dos temas mais debatidos na campanha foi a regionalização da cultura. Isso é um norte?

- Todas as linhas do Governo preveem a regionalização. Não falamos em interiorização, o que pressupõe centro e periferia, nem em descentralização. Respeitamos as realidades regionais nesse estado que é um dos de maior extensão territorial do Brasil, do tamanho da França. Identificamos 17 regiões em Minas, que apresentam características similares, e trabalharemos assim.

- Qual a importância de Juiz de Fora dentro da política da secretaria?

- Queremos que a secretaria de cultura esteja sintonizada com as aspirações da cidade. E um dos pontos que definimos é o apoio para a conclusão do Teatro Paschoal Carlos Magno. E o teatro daí é importante, com José Luiz Ribeiro e muitos outros que aguardam essa sala. Outro ponto é o apoio ao Museu Mariano Procópio. A Casa Fiat de Cultura deseja apresentar um recorte significativo desse acervo, o que considero fundamental, porque, pela primeira vez, Belo Horizonte poderá ver e reconhecer esse museu como um dos mais notáveis no país. Estaremos empenhados para que essa obra seja levada a bom termo. Ela não pode terminar de uma hora para outra, porque é uma obra sofisticada. Juiz de Fora participará de todos os programas de revitalização da vida cultural do estado que vamos empreender.

- Existe uma relação estreita entre governos estadual e municipal?

- Temos uma boa relação, inclusive o prefeito e eu somos do mesmo partido, o PMDB. E o mais importante é que somos do partido de Juiz de Fora.

- Dois impasses locais chegaram até você, quando ainda estava no Ibram: as obras de Murilo Mendes que não chegaram ao Brasil e o futuro do Castelinho dos Bracher. Como secretário, prevê alguma ação?

- É necessário que a universidade resolva imediatamente essas questões. Tanto como presidente do Ibram, quanto como secretário de estado da cultura, mantenho a mesma posição de demanda de uma atitude consequente da UFJF quanto à coleção Murilo Mendes e quanto ao Castelinho dos Bracher. Sou muito amigo do Carlos Bracher e conversei muito com ele. O Paulo Delgado apresentou um projeto ao Ministério da Educação, mas isso dependia da universidade. Já fiz contato, mas não consegui falar nem com o ex-reitor nem com o atual.

- E o Governo estadual poderia assumir o Castelinho (atualmente o Governo tem a posse do Grupo Central e do prédio da Secretaria de Estado da Educação, no Mariano Procópio, ambos deteriorados)?

- No momento não vejo a possibilidade de fazermos isso. Estamos em um quadro de dificuldades, sem nenhum recurso, e comprar essa casa seria complicado. E não é simplesmente musealizar, mas ter um ateliê em sintonia com os outros espaços, o que envolveria a universidade. Não que eu queira omitir uma posição do Governo do estado, mas vejo como mais adequado. Fora que isso demandaria um recurso extra do Ministério da Educação, o que não afetaria o orçamento da universidade.

- Existe algum imperativo nessa gestão?

- Um dos pontos que verificamos é a omissão total das políticas de cultura do Estado com relação à nossa herança afro-brasileira. Queremos investir mais no resgate dessa cultura. Juiz de Fora tem uma contribuição muito grande nisso, através do trabalho do Edimilson de Almeida Pereira, que é um intelectual que precisa ser ouvido.

- Nesse momento, já estão previstos cortes?

- Nosso orçamento já é bastante reduzido. A lei estadual já representa um corte brutal. Havia uma previsão de R$ 80 milhões via lei de incentivo, o que já se esgotou. Os projetos de editais de anos anteriores absorveram isso. Mas acredito que temos, junto aos produtores culturais, possibilidades de vencer obstáculos. Muitos querem enfatizar um tom negativo e pessimista, mas eu, ao contrário, trabalho com entusiasmo e otimismo. Acredito que vamos rapidamente ultrapassar esse momento.