A Comunidade dos Ramos, do município de Angelândia/MG, realiza no dias 30 setembro e 1° de outubro, sábado e domngo, o II Encontro de flautas do Jequitinhonha. Trata-se de um festival dedicado a uma das expressões mais singulares do Vale do Jequitinhonha, as bandas de taquara. Com entrada franca, o evento reunirá as bandas de taquara do Alto-Médio Jequitinhonha. O evento tem patrocínio da Codemig.
Localizada na zona rural, a 2 km da sede municipal de Angelândia, a Comunidade dos Ramos terá apresentações de grupos tradicionais da região, oficinas de construção de flautas, confecção de máscaras das bandas de taquara, cerâmica e vozes da folia. O público ainda poderá levar para casa produtos da feira de artesanato e agricultura familiar produzidos em diversas comunidades e aprender danças tradicionais no baile regional. Estão previstas ainda a participação da Folia de Reis da Comunidade dos Ramos e o tradicional Leilão de Quitandas. No Encontro, dez bandas de taquara dos municípios de Minas Novas, Capelinha, Angelândia e Setubinha, estarão presentes.
Foto: Kika Antunes
O evento já celebra desdobramentos especiais. Seu valor cultural agregado já pôde ser constatado a partir de sua primeira edição, realizada na comunidade rural de Quilombo, no município de Minas Novas, Minas Gerais.Incentivados pelo Festival, uma das famílias da comunidade anfitriã retomou o artesanato de cerâmica que, há duas décadas, estava parado. Dona Cota já prepara panelas, botijas e outras peças para expor na feira, junto com as esteiras de palha que também são feitas na comunidade.
O ENCONTRO
Em novembro de 2016 foi realizado o I Encontro de Flautas do Jequitinhonha na comunidade quilombola de Quilombo, área rural do município de Minas Novas. O evento contou com apresentações musicais de diversos grupos tradicionais da região, oficinas de construção de instrumentos e máscaras. O público ainda pôde aprender como se faz a extração e manejo da cera de abelha, que é usada na fabricação de flautas, caixas e máscaras, aprender diversas danças tradicionais da região e participar de uma roda de conversa sobre patrimônio cultural e direito quilombola. Ainda foram proporcionadas atividades para crianças, que ficaram a cargo dos brincantes Adelsin e Viviane Fortes. Foi a primeira vez em que sete bandas de taquara dos municípios de Minas Novas, Capelinha e Angelândia se reuniram em um mesmo evento.
Farinhas, feijões, legumes, frutas, peças de cerâmica e madeira e instrumentos musicais diversos deram o tom da feira de artesanato e agricultura familiar. Os visitantes tiveram a oportunidade de adquirir os produtos oriundos das oito comunidades presentes e conhecer melhor seus alimentos e utilitários, como gamelas e cuias feitas em cabaça ou coité.
O evento, que teve um público de cerca de 700 pessoas, foi muito bem avaliado na região pelas comunidades e bandas de taquara participantes e ensejou uma continuidade, que se concretiza agora, com o II Encontro de Flautas do Jequitinhonha.
AS BANDAS DE TAQUARA DO JEQUITINHONHA
Por Daniel de Lima Magalhães, idealizador e coordenador do Encontro de Flautas do Jequitinhonha
“Na zona rural próxima às cidades de Capelinha, Minas Novas, Angelândia e Setubinha, no Alto Jequitinhonha, tornou-se popular a figura do ‘canudeiro’, tocando uma flauta chamada ‘canudo’. Este é um nome regional que se refere à mesma flauta conhecida por ‘gaita’ em outras partes do Norte de Minas, em Sergipe e na Bahia. Participa o canudeiro de conjuntos musicais centenários, conhecidos por ‘bandas de taquara’, um nome que revela ao mesmo tempo o material de que são feitos os canudos e a proeminência que eles têm no grupo. Atualmente existem nove bandas de taquara em atividade, em comunidades rurais: Bem Posta e Santiago/Quilombo, no município de Minas Novas; Santo Antônio do Fanado e Chapadinha, no município de Capelinha; Santo Antônio dos Moreiras (onde há duas) e Sapé/Timirim, no município de Angelândia; Quaresma e Córrego dos Mendes, no município de Setubinha.
Uma das características fundamentais destes grupos é a presença de uma gama definida de instrumentos musicais, tendo por base duas flautas, algumas caixas (três ou mais), zabumba (um ou mais), pandeiros e reco-recos. Algumas bandas incluem um instrumento harmônico, ocasionalmente, como o acordeon, a viola ou o cavaquinho. Chocalho de latinha, matraca e outras percussões pequenas são também ocasionalmente vistos. As bandas de taquara têm uma média de 12 a 15 integrantes, podendo chegar a 20 tocadores ou mais, em alguns casos.
Entre as bandas, há algumas bem antigas, contando certamente com mais de 100 anos de atividade contínua, como a da Bem Posta e a de Santo Antônio dos Moreiras. A maioria delas, porém, é mais recente, apesar de formadas por tocadores experientes, que participaram de grupos antigos, já extintos. É o caso das marujadas das comunidades de Sapé/Timirim e Chapadinha, criadas por seus líderes há cerca de 15 anos. A criação de novas bandas continua em pleno vigor, tendo a última marujada surgido há 6 anos, na comunidade de Santo Antônio do Fanado, município de Capelinha. Na realidade, o que houve foi a retomada de um antigo grupo, desativado há mais de 40 anos.
As bandas de taquara, enquanto ‘bandas de música’, são requisitadas principalmente para as domingadas e as festas de santo, sendo as responsáveis pelos levantamentos de mastro, procissões, alvoradas, acompanhamento de danças, leilões e outros eventos. Apesar das incertezas quanto à origem destas bandas ou ‘marujadas’ (outra denominação pelos quais são conhecidos estes grupos), pode-se dizer que elas são peculiares a esta região, com características marcantes, que as distinguem de outras marujadas mineiras (há delas em várias partes do Estado) e de formações que têm presença de flautas e caixas (como os tocadores de pífanos do Serro e Minas Novas ou as folias do Baixo Jequitinhonha e das demais bandas de pífanos espalhados por todo o Nordeste brasileiro). Tal singularidade confere a este patrimônio uma grande relevância que deveria ser traduzida em ações de salvaguarda compatíveis com seu valor cultural. “
(Texto de Daniel de Lima Magalhães, autor do livro “Canudos, gaitas e pífanos: as flautas do norte de Minas” (2010), entre outras publicações.)
***Daniel de Lima Magalhães, idealizador e coordenador do Encontro de Flautas do Jequitinhonha: Natural de Belo Horizonte, músico, educador musical, lutier e pesquisador. Graduado em Música e Mestre em Musicologia, ambos pela UFMG. Vencedor do Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, do IPHAN, na categoria Salvaguarda de Bens de Natureza Imaterial, com a ação "Flautas tradicionais do Vale do Jequitinhonha". Autor dos livros “Canudos, gaitas e pífanos: as flautas do norte de Minas” e “Cancioneiro do Jequitinhonha: 160 partituras para flauta”, além da realização de documentários e outras publicações sobre a cultura popular no norte de Minas. Fundador e integrante do grupo musical Cataventoré e integrante do Pipiruí, grupo tradicional de pifeiros de Conceição do Mato Dentro.
PROGRAMAÇÃO:
30 de setembro, sábado, de 8h às 22h:
Feira de artesanato e agricultura familiar
Leilão
Baile Regional
Oficinas:
ü confecção de flautas
ü confecção de careta (máscaras usadas nas bandas de taquara)
ü cerâmica
ü vozes da folia
ü danças regionais
Apresentações musicais:
ü Bandas de taquara
ü Folia de Santos Reis da Comunidade dos Ramos
1 º de outubro, domingo, de 8h às 18h
Feira de artesanato e agricultura familiar
Leilão
Bingo
Roda de Conversa: Banda de taquara mirim – uma proposta para a escola regular
Homenagem a mestres e tocadores
Cortejo
Oficina:
ü confecção de flautas
Apresentações musicais:
ü Bandas de taquara
HOSPEDAGEM
Para a hospedagem durante o II Encontro foram cadastrados cerca de 30 residências na comunidade rural dos Ramos - onde será realizado o evento - e comunidades próximas, que se ofereceram para receber os participantes que vêm de cidades distantes. Há um número limitado de vagas que serão preenchidas na medida em que os interessados forem confirmando a participação e realizando o depósito bancário de reserva da vaga.
Diária de hospedagem nas casas incluindo café da manhã: R$ 25,00
Diária de hospedagem nas casas sem café da manhã: R$ 20,00
Os contatos para reserva podem ser feitos até o dia 27 de setembro, inbox em: www.facebook.com/flautasdojequitinhonha
Hotéis e pousadas da região
Angelândia (2 km distante do local do evento):
Pousada Cintra; (33) 98832-7441
Hotel Sinhá: (33) 3516-9148
Capelinha (40 km distante do local:
Catuaí Palace Hotel: (33) 3516-1401
Hotel Aranãs: (33) 3516-1261
Marinho Plaza Hotel: (33) 3516-3617
Hotel Icatu: (33) 3516-1510
VISITE:
www.facebook.com/flautasdojequitinhonha
http://benfeitoria.com/FLAUTASDOJEQUITINHONHA
II ENCONTRO DE FLAUTAS DO JEQUITINHONHA
Comunidade dos Ramos – Angelândia/MG
30 setembro, sábado, de 8h às 22h
1° de outubro, domngo, de 8h às 18h
ENTRADA FRANCA
Idealização e coordenação: Daniel de Lima Magalhães e Letícia Bertelli
Realização: Comunidade dos Ramos
Parcerias: Prefeitura Municipal de Angelândia / Prefeitura Municipal de Setubinha Programa Canta Minas (Rádio Aranãs)
Patrocínio: CODEMIG
Informações adicionais:
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