
Questionar, criar espaços para rupturas, propor novos caminhos e formas de perceber e sentir o mundo O audiovisual, assim como outras manifestações artísticas, busca sensibilizar o indivíduo por meio de sua linguagem, desmitificando valores socialmente arraigados e ajudando a descontruir preconceitos. Pensando nisso e no potencial da sétima arte para mobilizar a sociedade, a Secretaria de Estado de Cultura (SEC), em parceria com a Secretaria de Estado de Direitos Humanos, Participação Social e Cidadania (SEDPAC), realiza a 2ª Mostra Internacional de Cinema em Cores. Com uma programação que se divide entre os dias 6 e 10 de abril, o evento também conta com a participação do UNA-Se Contra a LGBTfobia, do coletivo cineclubista cinefronteira e Fundação Clóvis Salgado. Ao todo, o Cine Humberto Mauro, no Palácio das Artes, irá exibir 19 filmes que trabalham os princípios de diversidade, liberdade, visibilidade e igualdade para toda a comunidade LGBT. Debates após alguns filmes irão contar com a presença de diretores, pesquisadores, jornalistas e militantes LGBT. Toda a programação é gratuita e a retirada dos ingressos deve ser realizada 30 minutos antes de cada sessão.
Os curadores Luiz Gustavo Guimarães e Jacson Dias tentaram elaborar um recorte audiovisual sobre as principais questões que afligem a existência LGBT e impedem os direitos dessa população. A transfobia é abordada em filmes como “Dandara”, “A Vida que Não me Cabe” e “Belize”; o diálogo da religião com os LGBTs é percebido em “A Fé Que Nos Une”; enquanto as questões da vida lésbica podem ser conferidas nos filmes “Piscina” e “Na Esquina da Minha Rua Favorita com a Sua”.
Ampliar a visibilidade das pautas da comunidade LGBT é um dos objetivos da Mostra, conforme explica o secretário-adjunto de Estado de Cultura, João Miguel. “É fundamental inserirmos dentro das políticas públicas de cultura ações que possam auxiliar no reconhecimento dos LGBTs na sociedade e contribuir para o combate ao preconceito”, disse. “É preciso que os espaços, sejam eles simbólicos, políticos ou públicos, possam ser ocupados por todos”, completou João Miguel.
O argumento é compartilhado por Francisco Matias, diretor de Fomento à Produção Audiovisual, da Secretaria de Estado de Cultura. Para ele, a mostra cumpre um papel de fortalecer o discurso LGBT. “Produzir eventos com essa temática significa lutarmos pela igualdade, fraternidade e respeito. Ao realizar a mostra, a Secretaria de Cultura dá mais um passo em direção à visibilidade positiva de uma comunidade que é cotidianamente ainda desrespeitada”, avalia Francisco.
Filmes que retratam a vivência e a existência LGBT prometem comover e gerar reflexão junto ao público presente, especialmente num país como o Brasil, onde a homofobia é presente e a transfobia é a mais fatal do mundo. Diante desse triste cenário, demonstrar como o audiovisual dialoga com o universo LGBT é mais do que urgente, conforme avalia Jacson Dias, integrante do cinefronteira e um dos curadores da mostra. "Nesses tempos nebulosos em que vivemos, é extremamente importante ter uma Mostra de cinema que fala sobre diversidade para o público em geral. Em pleno século 21 é necessário discutir esses assuntos de forma objetiva, franca e sem medo. A 2ª Mostra Internacional de Cinema em Cores traz um sopro de esperança no meio do caos".
DESTAQUES DA PROGRAMAÇÃO
Diante desse triste cenário, o primeiro dia do evento merece destaque por exibir o documentário “Luana Muniz: Filha da Lua”, dos diretores Rian Córdova e Leonardo Menezes. O filme retrata a rotina de Luana, uma travesti que divide sua vida entre a prostituição, a militância LGBT e shows em cabarés. Focado no trabalho artístico-performático da travesti conhecida como a Rainha da Lapa, o documentário conquistou o prêmio de melhor longa no Festival de Gênero e Sexualidade do Rio no Cinema 2017.
As sessões comentadas irão amplificar as questões relacionadas aos filmes e ao universo LGBT. A chamada “Noite com temática trans”, que acontece no sábado (7), é uma das mais aguardadas. Mediada por Jacson Dias, curador da mostra, a mesa vai contar com a presença de Augusto Brasil, diretor de “Maravilhosa”; Fred Bottrel, diretor de “Dandara”; Maick Hannder, diretor de “Ingrid”; Lázaro dos Anjos, protagonista do curta “Maravilhosa”; e Gael Benitez, homem transexual e produtor de mídias audiovisuais.
O papel da religião e sua relação com a comunidade LGBT também serão abordados, especialmente com a exibição do filme "A fé que nos une", do belo-horizontino Paulo Guerra. O documentário evidencia o trabalho das igrejas inclusivas da capital mineira e sua função agregadora para a comunidade LGBT. A narrativa traz histórias de pessoas que tiveram que se retirar das igrejas tradicionais para ir em busca de espiritualidade. Em seguida, a sala será ocupada por um debate sobre a importância da fé como instrumento agregador para a comunidade LGBT. Participam da discussão Célia Batista e Myriam Salum, ambas integrantes do grupo Mães pela Diversidade; Sandro Silva, um dos personagens do filme e pastor da Igreja da Comunidade Metropolitana de Belo Horizonte; e o diretor Paulo Guerra.No domingo, às 17h, será veiculado o clássico da visibilidade LGBT nos Estados Unidos. Intitulado “Paris em Chamas”, a obra percorre a cena das Casas de Baile nova-iorquinas da década de 1980, criadas pelas populações LGBT afro-latinas. O filme explora os aspectos e as reflexões daquele contexto, buscando no retrato de seus personagens apresentar a história daquele momento. A sessão também será seguida de debate, que acontece entre o Mário Rosa, dramaturgo e integrante do projeto segundaPRTEA, e Tatiana Carvalho, professora de jornalismo e coordenadora do Projeto de Extensão Pretança do UNA.
O recorte brasileiro para a história do movimento LGBT fica a cargo do filme "São Paulo em Hifi”, de Lufe Steffen. O trabalho narra histórias das noites gays na capital paulista nas décadas de 1960, 1970 e 1980. Após a sessão, um debate vai contar com a presença de Luiz Morando, professor do curso de Letras do Uni-BH; e do jornalista Paulo Proença, colunista LGBT da Rádio Inconfidência.