Por: Laura Maria
Antes utilizados como espaço para cumprimento de pena e exercício de funções administrativas das polícias Civil e Militar, cadeias públicas de três cidades mineiras ganharão nova funcionalidade: abrigarão centros culturais, como biblioteca, centro literário e museu. A iniciativa ocorre em Prados, no Campo das Vertentes, em Passa Tempo, na região Centro-Oeste do Estado, e em Cataguases, na Zona da Mata. Pertencentes à Secretaria de Estado de Segurança Pública, os prédios foram atribuídos à Secretaria de Estado de Cultura. Esta, por sua vez, cedeu os edifícios às prefeituras.
A documentação de transferência foi assinada em abril nas cidades de Prados e Cataguases. A entrega oficial do prédio em Passa Tempo será realizada no próximo dia 21 pelo secretário de Estado de Cultura, Angelo Oswaldo. Os prédios já estavam desativados há pelo menos cinco anos, porque o tipo de estrutura deles não atendia mais as necessidades de um presídio. As atuais delegacias estão funcionando em outros locais do município.
De acordo com Oswaldo, a cessão de edifícios do Estado aos municípios é resposta a uma demanda antiga. “Essa reivindicação vem das próprias cidades e da articulação de movimentos e grupos culturais. O assunto ganhou a Câmara dos Vereadores para que essas três cadeias fossem transformadas em centros culturais. São prédios antigos que demonstram clara vocação para essa funcionalidade”, argumenta.
A partir da assinatura do termo de cessão, as prefeituras passam a ser as responsáveis pela implantação e pela manutenção, inclusive orçamentária, de projetos culturais. O prazo para a conclusão dos projetos, entretanto, ainda não foi definido. A Secretaria de Estado de Cultura acompanhará o andamento das ações.
“O ideal é que tivéssemos mais centros culturais que cadeias. É uma realização muito grata poder transformar antigas prisões em centros culturais dinâmicos, que interagem com a comunidade”, diz Oswaldo.
Cidades.
Em Cataguases, a cadeia construída no início do século XX abrigará um centro literário com o objetivo de preservar a memória da “Revista Verde”. O periódico mensal, que circulou durante a década de 20, foi criado na cidade da Zona da Mata logo após a Semana de Arte Moderna, em 1922, e recebia contribuições de escritores modernistas, entre eles Mário e Oswald de Andrade, além de escritos assinados pelo poeta francês Blaise Cendrars.
“É de Cataguases que vêm dois importantes escritores, o grande Luiz Ruffato (autor de “Eles Eram Muitos Cavalos”), dono de uma trajetória importantíssima, e a poeta Lina Tâmega Peixoto, que hoje mora em Brasília. Na cidade também existe um memorial ao cineasta Humberto Mauro, mas faltava uma referência à ‘Revista Verde’”, destaca Oswaldo. O prédio, de arquitetura eclética, está localizado na rua Major Viêira, antiga Rio Pomba, no centro.
Já em Passa Tempo, a ideia é transferir a biblioteca pública da cidade, atualmente abrigada na Casa da Cultura de Passa Tempo, para a antiga cadeia. “Além da biblioteca, o espaço terá várias mostras de trabalhos culturais e de artesanato e sediará cursos”, afirma o secretário de Cultura, Maurício Rangel. A intenção, segundo ele, é preservar as características do prédio. “Vamos manter algumas grades, e as camas serão utilizadas como estantes para os livros”, diz Rangel.
O antigo presídio de Passa Tempo foi construído em 1920 e fica localizado na principal praça da cidade. “É um prédio muito bonito, de estilo eclético, meio art déco. As características históricas dele sugerem sua preservação”, diagnostica Oswaldo.
Em Prados, a antiga cadeia servirá de museu para abrigar a história da cidade. “Estamos tentando conseguir o espaço há um ano e meio. E, há 15 dias, isso se tornou realidade. Vamos transformar a cadeia de Prados, que tem mais de 200 anos de história, em um museu”, sentencia o secretário de Cultura da cidade, Jorge Rodrigues.
De acordo com ele, já existe um acervo para compor o espaço: “O engenheiro já está fazendo o trabalho internamente, e vamos ainda escolher o nome do museu. Não temos uma data específica para a entrega, mas esperamos que seja a mais rápida possível”.
“A cadeia de Prados está localizada atrás da Matriz de Nossa Senhora da Conceição, importante construção do barroco mineiro. Na cidade, morou Hipólita Jacinta Teixeira de Melo, que teve papel importante na Inconfidência Mineira”, fala Oswaldo. “Era um espaço que não tinha condições de continuar a ser cadeia, as celas eram muito pequenas”, completa o secretário.
Ideia semelhante
Em Minas Gerais, existe pelo menos mais um espaço cultural onde já funcionou como uma cadeia. Trata-se do Museu de Sant’Ana, localizado em Tiradentes, cidade de Campos das Vertentes. No local, estão abrigadas 291 imagens de Sant’Ana, representação da mãe da Virgem Maria, e a maior parte das peças é datada dos séculos XVII e XVIII, período de grande produção barroca. O acervo é privado e pertence a Angela Gutierrez. O prédio foi construído em 1.730 para funcionar como cadeia de Tiradentes. Em 1.829, ele foi atingido por um incêndio e passou por um processo de restauração em 1893. O interior do edifício foi preservado, mas as fachadas foram restauradas seguindo padrões neoclássicos. O museu foi inaugurado em 2014.
Outros
Segundo o secretário de Estado de Cultura, Angelo Oswaldo, existem mais espaços em Minas Gerais, como antigos fóruns e escolas, com a mesma potencialidade das cadeias para se transformarem em centros culturais. “Recentemente, cedemos uma antiga fábrica de seda para o grupo de teatro Ponto de Partida, em Barbacena. Em Mariana, a Secretaria de Estado também deu um espaço para que o jornalista Fernando Morais abrigasse seu acervo”, diz Oswaldo, ao se referir ao material que inclui fitas, vídeos, fotos e cartas de muitas personalidades.
Divulgação: Jornal O Tempo