Hoje (31) é um dia de celebração e conquista para a memória e a preservação do patrimônio cultural mineiro, importante ativo turístico do estado. Após dois anos de obras, o Governo de Minas Gerais, por meio da Secretaria de Estado de Cultura e do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha-MG), em parceria com a APPA - Arte e Cultura, reabre a Fazenda Boa Esperança para visitação pública, com inauguração de exposição e projeto educativo. Localizada no município de Belo Vale/MG, região Central do estado, o bem cultural, tombado pelo Iepha-MG e também pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), recebeu, entre 2017 e 2018, restauração arquitetônica e estrutural em sua sede.
Uma exposição de longa duração está presente nessa primeira etapa da reabertura do espaço para a visitação pública. A mostra traz informações sobre a ocupação do território em que a Fazenda está inserida, suas características econômicas e produtivas, sua arquitetura e seu cotidiano, um convite ao visitante para conhecer parte da dinâmica do trabalho para a preservação e conservação desse importante patrimônio cultural.
Ao destacar o trabalho dos parceiros envolvidos e agradecer a colaboração das duas comunidades quilombolas da região, Chacrinha dos Pretos e Boa Morte, o secretário de Cultura e Turismo de Minas Gerais, Marcelo Matte, destacou a importância da reabertura da Fazenda. “Nossa missão é usar o patrimônio cultural como ferramenta de ativação turística e econômica, de tal forma que possa gerar empregos, animar a economia e arrecadar impostos, promovendo, portanto, o crescimento socioeconômico das comunidades daqui e do entorno”, declarou.
A reabertura da Fazenda conta também com o programa educativo “Encontro com Educadores - Redescobrindo Sentidos”. Essa ação tem como principal objetivo construir, com educadores formais e informais, conhecimentos que potencializem as discussões e as práticas em torno da temática do patrimônio cultural. Ao final, uma visita mediada na Fazenda Boa Esperança é realizada com os participantes.
Todas as atividades foram viabilizadas pelo projeto de restauração e pelo ReFazenda, uma parceria entre o Instituto Inhotim e o Iepha-MG que permitiu que o público e as comunidades locais tivessem experiências e reflexões sobre patrimônio e políticas culturais.
A presidente do Iepha-MG, Michele Arroyo, ressalta que a Fazenda é um patrimônio singular que está sendo reaberto à fruição pública, “agora com mais qualidade e infraestrutura, tanto para quem visita o local no final de semana, quanto para estudantes e professores que são atendidos pelo programa educativo”.
Para o prefeito de Belo Vale, José Lapa dos Santos, a reinauguração da Fazenda representa um sonho da população do município. “É uma alegria enorme para todos nós ter a Fazenda restaurada, o que vai promover a integração do turismo de Belo Vale com as outras regiões, principalmente com as cidades vizinhas”.
A Fazenda Boa Esperança
Segundo registros, a construção da Fazenda Boa Esperança teria começado entre os anos de 1760 e 1780, com sua inauguração ocorrida possivelmente em 1822. Durante o período em que pertenceu a Romualdo José Monteiro de Barros, o Barão de Paraopeba, foi elemento central de um complexo produtivo que abarcava outras Fazendas, também de propriedade da família Monteiro de Barros. Além da produção agrícola, que contribuía para o abastecimento, não apenas o Vale do Paraopeba, mas, também, de Ouro Preto e de Barbacena, eram produzidos fios, roupas e ferramentas que a tornavam autossustentável. De acordo com relatos, os escravos que viveram na Fazenda e seus descendentes teriam dado origem a pequenas comunidades no entorno, entre elas a “Boa Morte” e “Chacrinha dos Pretos”.
A Fazenda Boa Esperança foi adquirida pelo Governo do Estado de Minas Gerais em 1974 e constituiu o patrimônio de fundação do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais - Iepha-MG. Em 1959, a Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, hoje, Iphan, já havia reconhecido a propriedade como importante patrimônio histórico, realizando seu tombamento. Em 1975 coube ao Iepha-MG realizar o tombamento estadual, em busca de preservar o registro histórico do modo de vida das sociedades rurais do período colonial brasileiro.
Com a revitalização, o espaço passa a compor o circuito de equipamentos culturais da região do Vale do Paraopeba.
Histórico das obras e ocupações da Fazenda
A Fazenda foi restaurada do período de 1976 a 1979, porém sem uma definição de ocupação e uso. Houve após essa época a instalação elétrica, captando energia do arraial de Boa Morte.
Na década de 1980 foi feita parceria entre Governo e a Escola de veterinária da UFMG com o objetivo de implantar e desenvolver um centro de pesquisas de projetos do universo agrário mineiro, bem como promover a preservação do monumento. O projeto foi cancelado depois de um ano por estar degradando o entorno da sede, com instalação inadequada de pocilga junto ao córrego, apreensão ilegal de aves silvestres, entre outros.
Ainda na mesma década tentou-se dar novo uso à propriedade, com arrendamento de pequenas áreas, mas que novamente deteriorava o terreno, deixando espaços de possíveis vestígios arqueológicos destruídos.
Em 1997, firmou-se um convênio entre Iepha-MG e Instituto Metodista Izabela Hendrix, para realização do Curso de Arqueologia Histórica, objetivando realizar prospecções arqueológicas, no entorno da sede. Durante o período de 1995 a 1997, aconteceram três cursos.
Em 1998, foi feita intervenção na Fazenda, com recomposição dos muros de pedra, recuperação dos beirais da cobertura da capela, imunização preventiva, com realização de barreira química do entorno da sede, reconstituição da cobertura da sede, substituição do forro em esteira e sua pintura, substituição de parte do piso em madeira e instalação de piso de concreto em parte de cômodos que eram em terra batida.
Desde então, vêm sendo realizadas ações pontuais de recuperação de partes deterioradas, sem intervenções mais abrangentes, sem uso específico do espaço.