Programação conta com 10 filmes de Yasujiro Ozu, Kenji Mizoguchi, Mikio Naruse e Kinuyo Tanaka, disponibilizados no site da FCS.
A Fundação Clóvis Salgado (FCS), por meio do Cine Humberto Mauro, dá início à mostra on-line “Clássicos do Cinema Japonês”, que reúne 10 filmes. Serão disponibilizados três longas do diretor Yasujiro Ozu (1903-1963), três de Kenji Mizoguchi (1898-1956), três de Mikio Naruse (1905-1969), e um da Kinuyo Tanaka (1909-1977), diretora e atriz que completaria 100 anos de vida em 2019. O programa integra o projeto Palácio em Sua Companhia, e tem o objetivo de continuar garantindo ao público o repertório do Cine Humberto Mauro durante o período de isolamento social, de forma acessível e segura.

As tradicionais sessões agora são realizadas na versão on-line, disponibilizadas no Site da Fundação Clóvis Salgado. O público terá o tempo da mostra para assistir aos filmes de forma gratuita. A equipe do Cine Humberto Mauro também preparou sessões especiais da tradicional História Permanente do Cinema, que contará com a exibição on-line ao vivo, pelo YouTube da FCS, de um longa de cada diretor da mostra, seguido de comentários de especialistas.
A ação representa mais uma incursão do Cine Humberto Mauro na cultura nipônica, após realizar a Mostra Mizoguchi (2019), e a Mostra de Cinema Japonês (2015). A atual mostra Clássicos do Cinema Japonês cria um novo percurso a partir desses recortes, disponibilizando uma cinematografia de difícil acesso nesse período de isolamento social.
Era de ouro do cinema japonês
A mostra conta com filmes do final dos anos 40 e início dos anos 50, após derrota do Japão na Segunda Guerra Mundial e a ocupação norte-americana no país. O período representa um ciclo de mudanças significativo na sociedade japonesa. Os filmes refletem sobre o momento de transição entre a tradição e a modernidade, tratando de temáticas como a conquista de direitos pelas mulheres, o matrimônio e a vida familiar e cotidiana.
Os longas se inscrevem no período em que esta cinematografia japonesa ganhou grande repercussão internacional. É neste momento que a crítica ocidental descobre a modernidade do cinema japonês, consolidando sua importância para a história do cinema mundial. Nas palavras do crítico francês André Bazin, fundador da revista Cahiers du Cinéma, a época foi “seguramente, o acontecimento cinematográfico mais considerável desde o neorrealismo italiano”.
Os cineastas
Conhecido por examinar profundamente as situações vivenciadas pelo homem comum, principalmente a tensão entre a tradição e a modernidade, Yasujiro Ozu trata dos ciclos de nascimento e morte, a transição da infância para a idade adulta. A II Guerra Mundial também marcou profundamente a obra de Ozu, tornando-o num dos maiores cronistas das mudanças que a família e a intimidade sofreram no pós-guerra. Pessoas comuns, com imperfeições, são abordadas em longos planos fixos, intermediados por espaços vazios.
A obra de Kenji Mizoguchi estabelece profundas críticas à sociedade japonesa de sua época, principalmente ao papel das mulheres, das mais diferentes classes, na vida social. Mesmo lidando com temas históricos, Mizoguchi apreende em suas imagens a simplicidade. O cineasta revela, com isso, um novo olhar sobre os seres, a sociedade e suas complexidades.
Kinuyo Tanaka, além de exercer um papel de exímio destaque como atriz, foi a segunda mulher no Japão a atuar como diretora. Sua estreia como cineasta foi em Carta de Amor, de 1953, filme que competiu no Festival de Cannes de 1954, e será exibido na mostra. Tanaka dirigiu mais cinco longas entre 1953 e 1962, e trabalhou posteriormente com a direção de programas televisivos.
Já o roteirista e produtor japonês Mikio Naruse dirigiu cerca de 89 filmes. Dentre os cineastas japoneses, é conhecido por construir narrativas mais sombrias e dramáticas sobre a classe trabalhadora, dando destaque a protagonistas femininas. Também trabalha com o cotidiano familiar e com a interseção entre a cultura japonesa tradicional e a moderna.
Cotidiano sensível
O olhar aprofundado e minucioso para o sujeito comum e para o cotidiano é um grande destaque na filmografia apresentada. Diferentemente do cinema comercial estadunidense, que sustenta sua narrativa a partir do arquétipo do herói virtuoso e inalcançável, a era de ouro do cinema japonês trouxe o frescor do exercício contemplativo da vida ordinária, sem os estímulos excessivos de uma dramaturgia que se distancia da vida da maioria das pessoas.
A fruição desses filmes no momento atual é uma oportunidade do espectador aprofundar a relação com o gesto do olhar. São filmes que se voltam para o ordinário, para a rotina, para o banal, e revelam a beleza extraordinária do cotidiano.
História Permanente do Cinema Especial
Um filme de cada diretor terá uma sessão ao vivo, transmitida pelo Youtube da FCS, com comentários após a exibição. Os filmes escolhidos para as sessões serão Era uma Vez em Tóquio (1953), de Yasujiro Ozu, será comentado por Diego Silva Souza; Contos da Lua Vaga (1953), de Kenji Mizoguchi, será comentado por Yasmine Evaristo; Relâmpago (1952), de Mikio Naruse, será comentado por João Paulo Campos; e Carta de Amor (1953), de Kinuyo Tanaka, será comentado por Thaiz Araujo. As sessões acontecerão sempre às 17h, nos dias 22, 24, 26 e 29 de junho.
A programação completa pode ser acessada no site da Fundação Clóvis Salgado, que é uma entidade vinculada à Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais.
Mostra online “Clássicos do Cinema Japonês”
Período: 18 de junho até 9 de julho de de 2020
Transmissão: www.fcs.mg.gov.br
Classificação Indicativa: De acordo com cada exibição (livre até 14 anos)
História Permanente do Cinema Especial
Datas: 22, 24, 26 e 29 de junho
Horário de exibição: 17h
Transmissão: www.fcs.mg.gov.br
Classificação Indicativa: De acordo com cada exibição (livre até 14 anos)
Imagens: Divulgação FCS