Agregar valor não só ao pão de queijo, mas também ao queijo que dá a sua forma. Honrar o bolo de fubá, mas não se esquecer do leite e do ovo caipira que dão o sabor e que vêm dos muitos quintais mineiros responsáveis por abastecer despensas e sustentar famílias. Reconhecer e valorizar os produtos mineiros, suas origens e produtores e promover a sustentabilidade da cadeia produtiva da gastronomia é uma das propostas do Plano Estadual da Gastronomia Mineira (PEGM), que é coordenado pela Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais (Secult) em parceria com outras pastas do Governo de Minas Gerais, entidades vinculadas e instituições ligadas ao setor.
Nesta quinta-feira (20/8), aconteceu a 7ª reunião do grupo gestor do PEGM, realizada mensalmente para alinhamento das estratégias de promoção e desenvolvimento da gastronomia mineira. Na ocasião, o Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), entidade vinculada à Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (SEAPA) apresentou os processos de rotulagem de produtos com selos de qualidade dos produtos mineiros – processo importante tanto para produtores quanto consumidores, já que indica a garantia de boas práticas de produção, respeito ao meio ambiente, segurança alimentar e valor agregado para fins comerciais.
A subsecretária de Turismo da Secult, Marina Simião, explica que, no coletivo de gestores do PEGM há, entre outros, um grupo de trabalho específico de “Fortalecimento Institucional da Cadeia Produtiva”, cujo objetivo é criar oportunidades produtivas e promover a sustentabilidade dos setores da cadeia da gastronomia.
“Dentro deste grupo, liderado com excelência pela Seapa, a ideia é promover as boas práticas de produção para o produto artesanal, incentivar os produtores a fazerem parte dos programas de certificação e, juntamente com outras iniciativas, desenvolver a comercialização dos produtos mineiros de forma a destacar Minas Gerais não só pelos sabores e tradições culinárias, mas como um destino onde se encontra uma gastronomia com ingredientes de qualidade e procedência garantida, manipulados por produtores que praticam a boa gestão e o respeito ao meio ambiente aos modos de trabalho”, ressaltou a subsecretária.
Para o superintendente de Inovação e Economia Agropecuária da Seapa, Carlos Bovo, a certificação é uma tendência mundial – pessoas buscam produtos que cumpram princípios e legislações, o que confere a eles um grande diferencial. “O Certifica Minas, programa de certificação da Seapa, trabalha questões que são pilares, como a social, no que se refere aos modos de trabalho e ao empoderamento do produtor, a ambiental, que leva em conta a preservação e manutenção do meio ambiente, e outras relativas aos modos de se fazer e suas origens. Um produto que leva um selo de qualidade tem toda essa carga de trabalho, de consciência ambiental, responsabilidade social, rastreabilidade e de tantos outros valores agregados aos processos de certificação”, pontuou Bovo.
Exemplo que vai da roça para a capital
A valorização dos ingredientes vindos dos quintais do interior de Minas Gerais tem endereço em Belo Horizonte: é um estabelecimento onde se pode almoçar ou fazer um lanche e ainda levar pra casa o embornal com produtos da roça: ovo caipira, banha de porco, requeijão, quitandas, queijos – todos com garantia de procedência. Essa foi a ideia da chef de cozinha Mariana Gontijo, proprietária de dois restaurantes em Belo Horizonte. Um deles – chamado de Roça Grande – funciona também como armazém e é por meio dele que a chef escoa produtos da agricultura familiar da região de Moema, município da região Centro-Oeste de Minas Gerais.
Nascida e criada na “roça”, como ela mesma diz, Mariana conhece praticamente todos os responsáveis pelos produtos que coloca à venda em seu estabelecimento, e faz questão de se certificar, pessoalmente, da rastreabilidade e processos de produção. “O Roça Grande nasceu do desejo de apresentar para as pessoas a verdadeira cultura alimentar mineira e de mostrar também o lado B da nossa cozinha, que pra mim é o mais importante. Ou seja, mostrar os produtos e pessoas que estão por trás da comida mineira caipira, do dia a dia. Eu mesma faço a rastreabilidade dos produtos – visito as roças, vou ver se a galinha é caipira mesmo, a condição da horta, conheço as famílias. É um fortalecimento da comida como um ato político, pois questões sociopolíticas estão diretamente relacionadas à cultura alimentar e, sobre isso, estou sempre ao lado dos produtores e agricultores familiares. Eles e seus produtos precisam ser reconhecidos como merecem”, ressaltou a chef.
Uma das receitas da chef Mariana Gontijo está disponível no blog Gosto de Minas, do portal Minas Gerais. Você pode conferir como fazer o “Tutu Tonto do Reinado”, considerado na roça como comida de festividade, clicando AQUI.