Depois do sucesso da mostra OiR – Outras Ideias para o Rio, que no ano passado transformou a capital carioca em um enorme museu a céu aberto, agora será a vez de Belo Horizonte sediar um grande evento internacional de arte pública. A partir do dia 12 de outubro, o projeto BHÁsia – Ásia ocupa a cidade e levará a locais emblemáticos da capital mineira megainstalações criadas por artistas renomados do maior continente do planeta. Zhang Huan e Jennifer Wen Ma, ambos da China, Subodh Gupta, da Índia, e Tatzu Nishi, do Japão, conceberam para o evento, respectivamente, uma ilha artificial, uma urna ancestral, uma casa em cima de uma chaminé e um barco gigante.
A exposição, que conta com patrocínio do banco HSBC e apoio do Instituto Goethe, da Prefeitura de Belo Horizonte e da Fundação Municipal de Culturaficará em cartaz até o dia 8 de dezembro. A curadoria é de Marcello Dantas, responsável pelo OiR e também pela concepção artística de diversas instituições, como o Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, o Museu das Minas e do Metal e o Palácio da Liberdade, os dois em Belo Horizonte, além de diversas mostras no Brasil e no exterior.
“A Ásia é o lugar mais diametralmente oposto ao Brasil no globo terrestre. Seu ponto de vista é necessariamente invertido ao nosso. E esse projeto é, de certa forma, uma oportunidade de se ver o mundo ao contrário. Esse contato com o estrangeiro através dos tempos foi a base que permitiu que a identidade brasileira se definisse, ainda que antropofagicamente lasciva. Nosso apetite pede diversidade. É hora de experimentarmos outros pratos que nos façam entender melhor quem somos”, analisa Dantas. “Minas Gerais, por conta de sua exploração mineral, é um estado com uma relação econômica fortíssima com a Ásia, porém as trocas culturais entre aquela parte do mundo e esta são praticamente inexistentes”, continua.
A artista chinesa Jennifer Wen Ma idealizou um lugar imaginário na Barragem Santa Lúcia: uma ilha de aproximadamente 200 metros quadrados, literalmente inventada, com seus próprios canais e caminhos. As plantas, meticulosamente pintadas à mão com cerca de 650 litros de tinta nanquim preta, de base natural, serão inicialmente impossibilitadas de fazer fotossíntese por conta do pigmento que as cobre. A urgência de sobreviver, no entanto, fará com que elas brotem verdes e potentes em meio às folhas negras. O público poderá visitar a ilha por meio de pedalinhos para conferir de perto todos os delicados detalhes paisagísticos e arquitetônicos da obra.
O indiano Subodh Gupta inverte o conceito tradicional do barco, oferecendo a Belo Horizonte, uma cidade sem mar, uma enorme embarcação repleta d’água – cerca de 80 mil litros – que “penetrará” na cidade pela montanha da Praça do Papa, no alto do bairro Mangabeiras. O barco levará dentro de si, além de seu próprio “oceano”, objetos do dia-a-dia doados pelos moradores da cidade, transformando-se assim em uma espécie de mercador de culturas.
“E assim como propõe o poeta Jorge de Lima, quando diz que ‘há sempre um copo de mar para um homem navegar’, Gupta traz o sonho do mar para o interior desse barco que brota de dentro da terra. Um barco que nos leva em direção a uma utopia perdida”, explica Dantas.
O japonês Tatzu Nishi, conhecido por suas espetaculares instalações em que intervém sobre monumentos públicos, desenvolverá em Belo Horizonte uma obra diferente das que costuma produzir. Para o BHÁsia, o artista pensou inicialmente em construir uma casa em cima de uma chaminé existente na cidade, sugerindo, como metáfora, o mais inusitado lugar possível que uma pessoa poderia habitar. Como faltam, porém, chaminés antigas capazes de suportar uma casa em seu topo, a solução foi construir uma inteiramente nova no estacionamento da rodoviária, um dos grandes marcos da capital mineira, para servir de alicerce à habitação. O artista usará na obra aproximadamente 10 mil tijolos e 300 litros de fluído para fumaça.
“Essa casa suspensa no céu de Belo Horizonte marca outro extremo simbólico da ideia de viagem: o nosso ponto de partida é inatingível, irretornável. O lar é uma abstração, um dado passado e, no mundo atual, o aconchego não passa de uma ilusão. A casa, com suas luzes acesas e chaminé soltando fumaça fala desse lugar que só existe em nossa memória”, reflete o curador.
O artista chinês Zhang Huan, dono de uma linguagem surreal a partir de suas grandes esculturas, instalações e pinturas de cinzas, surgiu com uma proposta extraordinária: a de criar uma urna ancestral chinesa em proporções gigantescas a ser instalada na Praça da Liberdade. Na China, existe a tradição milenar de se fazer em vida urnas onde serão depositados os bens afetivos de uma pessoa quando ela morrer. Esses bens são enterrados junto com o corpo, para que o acompanhem na última viagem de quem os guardou com tanto carinho. O público poderá ingressar na urna composta por 185 placas de minério de ferro – a maior riqueza do subsolo de Belo Horizonte – e um piso de placas de vidro iluminadas.
Biografia de Jennifer Wen Ma
Jennifer Wen Ma nasceu em 1973, em Beijing, na China. A artista mudou-se para os Estados Unidos em 1986 e recebeu diploma de Mestre em Belas Artes da Pratt Institute, Nova York, em 1999. Hoje, sua vida e trabalho se dividem entre Nova York e Pequim. Sua prática interdisciplinar abarca mídias variadas, como instalação, vídeo, desenho, performance, arte pública e design de moda, muitas vezes juntando elementos improváveis numa única peça para criar obras sensíveis, poéticas e tocantes. Projetos recentes incluem a instalação de iluminação pública permanente para o Centro Aquático Nacional de Pequim, bem como exposições individuais em Hanart Square, Hong Kong (2013); Ullens Center for Contemporary Art, Beijing (2012); Art Space NIJI em Kyoto, Japão, e The Phillips Collection, Washington, DC (2011). Seus projetos públicos permanentes incluem uma instalação multimídia para Digital Beijing Building (2008). Em 2008, ela foi um dos sete membros da principal equipe de criação para as cerimônias de abertura e encerramento dos Jogos Olímpicos de Pequim, atuando como designer-chefe de efeitos visuais e especiais.
Biografia de Subodh Gupta
A mudança de Subodh Gupta de Khagual, Bihar, o vilarejo onde nasceu, em 1964, para o grande centro urbano de Nova Delhi, onde trabalha agora, poderia ser uma alegoria da Índia de hoje. Gupta se interessa por aquilo que inevitavelmente desaparece no processo de mudança. Ele faz uso extenso de utensílios de aço inoxidável em obras de magnitude descomunal, com objetos cotidianos despidos de sua normalidade pela massa e volume, em proporções totalmente exageradas, para referenciar a complexa situação socioeconômica e cultural da Índia atual. As panelas que brilham em suas pinturas também se conectam à memória coletiva. O inox tornou-se disponível para consumo de massa, mas ainda assim continuou a atrair designers sofisticados, e as associações com diferenças de classe entram em jogo à medida que espectadores respondem a seu trabalho – o que era a intenção original. Mostras importantes recentes foram realizadas pela galeria Hauser & Wirth (London, 2013), o Centro de Arte Contemporáneo (Malaga, 2013), Kiran Nadar Museum (Nova Delhi, 2012), Tate Britain (London, 2009), e 51ª Venice Bienalle (Veneza, 2005).
Biografia de Tatzu Nishi
O artista Tatzu Nishi nasceu em Nagoya, no Japão, em 1960. Atualmente ele vive e trabalha em Tokyo e Berlim. Nishi é conhecido internacionalmente por projetos de grande escala em espaços públicos, que transformam a experiência e percepção de monumentos, estátuas ou elementos arquitetônicos da cidade. Em trabalhos típicos, ele constrói uma sala ou um quarto de hotel de modo a envolver objetos públicos – como parte de um monumento ou um poste de iluminação. Para seu recente projeto em Nova York, Discovering Columbus, ele construiu e decorou uma sala de estar a aproximadamente 18 metros acima do solo, no topo do pedestal do monumento a Cristóvão Colombo, e fez com que a estátua, com seus quase 4 metros de altura, fizesse parte da decoração interior. Para a instalação The Merlion Hotel, na Singapore Biennale de 2011, ele construiu um quarto de hotel que contivesse o famoso monumento Merlion.
Biografia de Zhang Huan
Zhang Huan, artista chinês aclamado internacionalmente, nasceu em 1965, em Anyang, Província de Henan, e atualmente reside e trabalha em Xangai. Ativo em Pequim na década de 1990, ele foi considerado um dos maiores artistas de vanguarda do país. Quando viveu em Nova York, de 1998 a 2005, ganhou reconhecimento internacional. Ao voltar para Xangai, em 2005, ele fundou o Zhang Huan Studio onde continuou a ampliar o escopo de seu trabalho artístico, criando novas formas e explorando novas áreas. Suas pinturas com cinzas acrescentaram uma nova técnica à história da arte. Ele abriu caminho com ainda outras técnicas como escultura em couro de boi e em portas, e xilogravuras com penas, para citar algumas. Exposições individuais aconteceram no Norton Museum of Art na Florida, Shangai Art Museum, Gallery of Ontario em Toronto, Canadá, e Palazzo Vecchio e Forte de Belvedere em Florence, Italy. Suas obras podem ser encontradas nas coleções de museus de arte contemporânea e de fundações em grandes cidades ao redor do mundo.
Biografia do curador Marcello Dantas
Marcello Dantas, curador e diretor artístico, é a mente por trás de alguns dos melhores museus e mostras dos últimos anos no Brasil: “Bossa na Oca”, “Roberto Carlos – 50 anos de musica”, “Água na Oca”, “50 anos de TV e +”, Museu da Língua Portuguesa, Museu do Homem Americano, Museus das Telecomunicações, Museu das Minas e Metal, e exposições de artistas estrangeiros consagrados como Cai Guo Qiang, Antony Gormley, Christian Boltanski, Anish Kapoor, Bill Viola e Laurie Anderson – sem falar em projetos internacionais como o Museu do Caribe, em Barranquilla (Colômbia) e a “Pelé Station”, em Berlim, durante a Copa do Mundo da Alemanha. Foi responsável por inovar o conceito de museologia no Brasil ao temperá-lo com doses inéditas de tecnologia, de interatividade e de recursos multimídia para oferecer ao visitante o que ele chama de imersão total.
SERVIÇO:
OBRA ‘ILHA DE ENCANTAMENTO’, DE JENNIFER WEN MA
Especificações técnicas: Ilha flutuante artificial composta de vegetação, madeira, terra e tinta nanquim preta;
187m2 de área de área
Localização: Barragem Santa Lúcia
Endereço: Avenida Arthur Bernardes, s/n - São Bento
Visitação: Passeio de pedalinho através e ao redor da ilha, todos os dias, de 10h às 18h
Entrada franca
OBRA ‘DESTE CORPO PARA OUTRO’, DE SUBODH GUPTA
Especificações técnicas: Barco de madeira repleto d’água, com utensílios de cozinha diversos, de alumínio; 18m de comprimento, 5m de largura
Localização: Praça do Papa
Endereço: Avenida Agulhas Negras, s/n - Mangabeiras
Visitação: Todos os dias, aberto 24h
Entrada franca
OBRA ‘A CORRENTEZA DE MODERNIZAÇÃO’, DE TATZU NISHI
Especificações técnicas: Casa instalada em cima de chaminé metálica, revestida de tijolos, que produz fumaça;
24m de altura (20m de chaminé; 4m de casa); A base da chaminé tem 3m de diâmetro
Localização: Rodoviária de Belo Horizonte
Endereço:Praça Rio Branco, 100, Centro
Visitação: Todos os dias, aberto 24h
Entrada franca
OBRA ‘O DRAGÃO AZUL-CELESTE, TIGRE BRANCO, PÁSSARO VERMELHO E TARTARUGA NEGRA VIVEM EM MINÉRIO DE FERRO’, DE ZHANG HUAN
Especificações técnicas: Estrutura metálica revestida de placas pré-moldadas de minério de ferro; piso de vidro iluminado;
8,68m de comprimento, 4,09m de largura e 5,56m de altura
Localização: Praça da Liberdade
Endereço: Praça da Liberdade, s/n - Savassi
Visitação: Todos os dias, de 8h às 22h
Entrada franca