O estado de Minas Gerais possui um relevante acervo cultural, que se torna alvo de proteção legal juntamente com primeiras ações preservacionistas do país. Tais ações contribuíram para visibilidade dos seus múltiplos e ricos acervos presentes no estado. A religiosidade, os artífices e as práticas que aqui se estabeleceram, na primeira metade do século XVIII, ainda possuem permanências e testemunhos, evidenciados nas igrejas, capelas, festas religiosas e manifestações materiais e imateriais da cultura popular e erudita.
A visibilidade dos acervos presentes no estado de Minas Gerais sedimentaram o desejo e a cobiça de muitos colecionadores, antiquários e comerciantes. Nesse caso, a situação dos bens móveis e integrados de cunho religioso é especialmente delicada, uma vez que no decorrer de sua história, o estado perdeu importantes referências culturais ocasionados por furtos, roubos ou vendas indevidas. Segundo Maria Cecília Londres Fonseca (2005), no caso dos bens móveis o reconhecimento de seu valor cultural certamente valoriza toda essa gama de bens no mercado de artes e antiguidades, que atualmente se encontra em ascensão.
Segundo o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (IEPHA), cerca de 600 obras de arte sacra estão desaparecidas, e outras tantas já foram recuperadas e retornaram a seus locais de origem. No entanto, cerca de 151 peças foram apreendidas pelo Ministério Público e Polícia Federal, mas seus locais de origem ainda não foram identificados.
Para ampliar a divulgação desses objetos e obter informações que levem à localização dos itens que estão desaparecidos e à identificação dos locais das peças já recuperadas, o Guiatel, em parceria com o IEPHA, vai lançar a 13ª edição das listas telefônicas – ciclo 2013/2014, cujas capas são ilustradas com imagens de objetos do patrimônio artístico-religioso de diversas cidades mineiras, que sumiram por furto, roubo, comércio ou apropriação indevida. A primeira capa irá circular a partir de agosto. Essa é mais uma ação do Programa de Apoio à Identificação e Restituição de Bens Culturais Desaparecidos, lançado pelo IEPHA há cinco anos, que realiza ações diversas com o intuito de localizar e restituir aos seus locais de origem ou procedência os bens culturais desaparecidos por apropriação indevida, roubo, furto, tráfico ilícito ou de exportação, causando danos à coletividade, assim como para reduzir, inibir e impedir a subtração de bens culturais do estado de Minas Gerais.
Segundo o IEPHA, em campanhas anteriores, a parceria entre os institutos de preservação do patrimônio em Minas Gerais e a disponibilização de informações nos diversos veículos de comunicação acarretou ganhos diretos e indiretos no acautelamento de bens culturais de origem sacra no estado. Como consequências diretas dessas ações, foram reconhecidas e recuperadas parte do acervo de igrejas e capelas. Como ganhos indiretos, podem ser mencionados a finalidade educativa da veiculação dessas informações, chamando a atenção para a vulnerabilidade dos templos e capelas mineiras, e suscitando práticas de acautelamento compartilhado mais assertivas e associativas por parte dos órgãos de preservação, proprietários dos bens e a comunidade onde estão inseridos.
De acordo com Wilson Melo Lima, Diretor do Guiatel, ao todo serão distribuídas pelo estado 29 listas contendo essas imagens na capa, totalizando 85 imagens. “É preciso que a população tenha a consciência de que, independentemente de religiosidade, as imagens dos altares são fortes elementos materiais que preservam aspectos da vida cultural de um povo. Elas são referenciais materiais para uma série de práticas imateriais, além de contarem nossa história e ancestralidade e possibilitar o resgate da memória coletiva".
Marcone Reis Fagundes, Diretor Presidente da empresa, destaca a relevância dessa parceria para a propagação das imagens desaparecidas. “Ao final de cada ciclo de edições, cerca de três milhões de exemplares são distribuídos em todo o Estado, levando informação para mais de 10 milhões de usuários. Diante desses números, acreditamos que essa iniciativa de espalhar em larga escala essas imagens desaparecidas pode trazer resultados satisfatórios. Quem ganha com isso é a cultura mineira. Esperamos que ela recupere um grande pedaço de sua história e acervo”, afirma.
Contato para denúncias
As denúncias de desaparecimentos de bens materiais, objetos e peças sacras de igrejas e museus podem ser feitas através do telefone (31) 3235-2800 ou pelo fale conosco do site www.iepha.mg.gov.br.
Confira algumas imagens que circularão nas listas telefônicas do Guiatel – ciclo 2013/2014, nas diversas regiões de Minas Gerais:
Região do Alto Paraopeba
A capa desta lista mostra a imagem de São Joaquim, Santa Efigênia e São Benedito. Essas peças datam do século XVIII e estão desaparecidas da Igreja Nossa Senhora da Soledade desde 1996.
Região da Bacia Rio Piracicaba
Veiculação de 3 imagens de Santana, além do Lampadário do Santíssimo. Essas peças pertencem à Igreja Matriz de Santa Cruz, em Chapada do Norte, de onde foram retiradas por saqueadores em 1994.
Circuito das Grutas
A capa desta lista mostra duas âmbulas e um cálice, objetos em prata, do século XIX, que foram saqueados em 1990 da Igreja Matriz de São Gonçalo, no distrito de São Gonçalo do Rio das Pedras, no município de Serro.
Região do Médio Rio Grande
Veiculação mostra três imagens distintas de Nossa Senhora do Rosário. Essas peças foram furtadas do Museu Regional do Sul de Minas, em Campanha, no dia 6 de março de 1994.