No dia 18 de maio, comemoramos o Dia Nacional da Luta Antimanicomial, data que visa reflexões sobre o tema, busca por direitos e a liberdade.Há 19 anos, nesta mesma data, as ruas do centro de Belo Horizonte/MG se transformam em passarelas para a manifestação em forma de desfile da Escola de Samba Liberdade ‘Ainda Que Tam Tam’.
Neste ano, o tema será ‘Eles passarão, nós passarinhos’, inspirado no verso de Mario Quintana. São milhares de foliões antimanicomiais, entre usuários, familiares, trabalhadores e simpatizantes da saúde mental e Por Uma Sociedade Sem Manicômios. É uma atividade política e cultural realizada pelo Fórum Mineiro de Saúde Mental e Associação dos Usuários dos Serviços de Saúde Mental de Minas Gerais (ASUSSAM).
Inúmeros municípios mineiros participam do desfile, com a presença dos serviços de saúde mental substitutivos ao hospital psiquiátricos, como os CAPS, CERSAM, Centros de Convivência e Consultórios de Rua, em defesa do Sistema Único de Saúde (SUS), da Reforma Psiquiátrica antimanicomial, do tratamento em liberdade e contra todas as formas de manicômios e violações de direitos humanos.
Neste especial “2016”, o evento será embalado pelo enredo "Eles Passarão, Nós Passarinho" e o samba enredo: “Ninguém há de retroceder nossa liberdade”.
PROGRAMAÇÃO:
Mapa do Desfile:
Enredo: Eles Passarão, Nós Passarinho
Alas 1 – Os Desalienistas da Resistência
Alas 2 – Minha Loucura Vem de Berço: Por Uma Sociedade Sem Silencius
Alas 3 – Não Me Prenda Em Seus Trilhos Que Eu Sou Passarinho...
Alas 4 – Mais Serviços Para Voar, Menos Grades Para Trancar
Alas 5 – Dom Quixote De Los Errantes
Alas 6 – Valentes Ocupam : Marcus Vinícius, Presente!
Passarela da Luta:
13 horas: concentração - Praça da Liberdade
15 horas: início do Desfile/Manifestação.
Trajeto: Praça da Liberdade, Avenida João Pinheiro, Avenida Afonso Pena, Ruas Espírito Santo, Rua Tupinambás, Avenida dos Andradas, Praça da Estação.
17 horas: Dispersão – Ciranda na Praça da Estação.
TEMA EIXO: ELES PASSARÃO, NÓS PASSARINHO
“O velho mundo agoniza e o novo mundo tarda a nascer e,
nesse claro-escuro, irrompem os monstros”
A. Gramsci
ALA 1 – OS DESALIENISTAS DA RESISTÊNCIA
Assim como Machado de Assis, em seu livro “O alienista”, esta ala questiona os chamados “homens da ciência” que por vezes apenas repetem teorias e conceitos, mergulhados na ideia de que trancar é a suposta solução para a loucura, e que nos dias de hoje aparecem travestidos com novas roupagens mas repetindo práticas e discursos excludentes e preconceituosos. Por outro lado, milhares de mulheres e homens, os corajosos e ousados desalienistas, entre eles Nise da Silveira, Cezar Rodrigues Campos, Franco Basaglia, Marcus Vinícius de Oliveira, forçaram as grades do manicômio para que hoje possamos ter uma política de saúde mental baseada na liberdade e na dignidade do cidadão com sofrimento mental. Nós, os desalienistas da resistência estamos aqui, neste carnaval - manifesto, reafirmando que não aceitaremos nenhum passo atrás.
ALA 2 – MINHA LOUCURA VEM DE BERCO: POR UMA SOCIEDADE SEM SILENCIUS
A tradicional ala dos delírios vem afirmar este ano que fazer saúde não se resume a procedimentos e que a clínica se dá entre o ouvido e a palavra nas entrelinhas do óbvio, que ela está no sensível onde a técnica é apenas o suporte. Aqui e em todo o desfile o convite à invenção, o convite ao palavrear traços em tons melódicos e a mergulhar em cores as sensações vividas para decifrar o sentido da experiência de existir. Delirar é uma saída para passar a dor e para caber o amor. Delirar um mundo outro que se faça presente em cada medida justa, em cada escolha, em cada ato estético e em cada movimento que produza o novo e de novo outro movimento que ascenda nossa esperança.
ALA 3 – NÃO ME PRENDA EM SEUS TRILHOS QUE SOU PASSARINHO...
Nós passarinhos... Nem sempre é assim. Muitas crianças e adolescentes estão engaioladas por normas, preconceitos e conceitos cujo foco é o controle de comportamento, a normatização do cotidiano, a medicalização da infância. Estão presos também por terem cometido atos infracionais. Na maioria das vezes, atos de desespero, gritos de socorro. E não raro, são as vítimas do abandono, que não encontraram no mundo da infância um cantinho de afeto, um quarto de brinquedos.
Talvez, por isso, a necessidade de uma Política para esse tempo passarinho. Uma Política para lhes instigar o vôo, do direito à infância, da busca de identidades e de afirmações no mundo. Uma Política de restituição da plumagem, que possibilite transformá-los em atores sociais e políticos, ocupantes de um lugar no mundo, capazes de dar expressão a seus desejos e escolhas.
ALA 4 – MAIS SERVIÇOS PARA VOAR, MENOS GRADES PARA TRANCAR
Ao construir seu discurso de exclusão, a sociedade vai, ao longo dos tempos, incluindo novos segmentos populacionais no campo da violação de direitos. Temos assistido nos dias de hoje à demonização dos usuários de drogas, através de posições proibicionistas, moralistas e sustentadas na ideia de pânico social, carregadas de preconceitos que sustentam a lógica manicomial dos hospícios e das comunidades terapêuticas como solução para esses sujeitos que, em meio a abandonos, violações e abusos, são associados à periculosidade e à droga. Desconstruir esses mitos e enfrentar a realidade numa perspectiva cidadã é o convite dos serviços públicos de saúde mental do SUS.
ALA 5 – DOM QUIXOTE DE LOS ERRANTES
O desejo latente de Chapolin Colorado: “E agora, quem poderá nos defender?” é evocado pela ala dos super-heróis no desfile do dezoito de maio de 2016, idealizado por Juliano “Batman”, que vaticina: “Todo mundo gosta de heróis! E em tempos de crise, o Brasil precisava de vários heróis” PRESENTES, ocupando valente(mente) a cidade. Diante dos curingas que assombram nossa sociedade, diante dos inimigos da liberdade no poder, convocamos Dom Quixote e os errantes que enlaçam o nosso desejo de ocupar corajosamente a cena pública, as ruas e praças, nossos lugares de direito para um grito que expresse nossa indignação “Nossos heróis não vão morrer de overdose! Queremos essa IDEOLOGIA para viver.
ALA 6 – VALENTES OCUPAM: MARCUS VINÍCIUS, PRESENTE!
É a ala em homenagem aos movimentos sociais. As ocupações que aconteceram, em especial as dos estudantes secundaristas de São Paulo, serviram, como um rastilho de pólvora, para a Ocupação Fora Valencius, na sala da coordenação nacional de saúde mental, no prédio do Ministério da Saúde, cuja pauta anuncia-se extremamente precisa: a defesa incondicional do Sistema Único de Saúde e da Reforma Psiquiátrica Antimanicomial. A ocupação durou 120 dias e conseguiu a exoneração do coordenador. Quando pensamos nos valentes ocupantes, nos vem à memória grandes companheiros, que merecem nossa lembrança e agradecimento. Ao guardião de nossos festejos na cidade, protegendo-nos com seu olhar atento e carinhoso desde nossas primeiras ocupações das ruas centrais de BH com o desfile da Escola de Samba Liberdade Ainda que Tan Tan: Carlos Campos, Presente!
Ao audaz desbravador de caminhos, construtor de ideias e práticas que fundaram uma nova psicologia no Brasil, artífice fundamental na construção de uma sociedade sem manicômios: Marcus Vinícius, Presente!
SERVIÇO:
Evento: Eles passarão, nós passarinhos
Data: 18/05, a partir das 13h
Local: Concentração na Praça da Liberdade