Os jovens atores Adriana Maciel, Ana Lídia Durante, Daniela Fontana e Ricelli Piva, do grupo Teatro Diadokai, mergulharam no universo do Teatro do Absurdo, gênero que busca representar o desespero da condição humana no mundo moderno onde não existem mais verdades e certezas unificadoras, para encenar Fim de Partida, do dramaturgo Samuel Beckett. O espetáculo é vencedor do Prêmio Fundação Clóvis Salgado de Estímulos às Artes Cênicas – categoria Circulação do Interior – Teatro, e narra as obscuras relações de poder desenvolvidas em uma sociedade em destruição. O texto, denso e pesado, ganha diferentes contornos quando interpretado por um elenco com média de idade de 25 anos.
Em um cenário pós Segunda Guerra, Hamm, Clov, Nagg e Nell vivem uma rotina monótona, cíclica e sem significado. Isolados dentro de casa, eles se sentem os últimos sobreviventes da humanidade e se relacionam abusando um do outro, dentro do jogo de poder estabelecido silenciosamente entre eles. Cego, Hamm vive em uma cadeira de rodas, e trata Clov como seu mordomo. Insatisfeito com a situação, Clov ameaça constantemente partir, mesmo não tendo para onde ir. Enquanto isso, Nagg e Nell, pais de Hamm, vivem em um latão de lixo após terem perdido as pernas em um acidente de bicicleta.
Com direção de Ricardo Gomes, Fim de Partida é fruto de um trabalho de pesquisa em artes cênicas, iniciado no Laboratório Intercultural de Atuação da Universidade Federal de Ouro Preto. A montagem evidencia o silêncio, colocando-o em posição tão ou mais significativa que a própria palavra. O que as personagens não fazem ou não podem fazer, torna-se tão ou mais importante que suas ações, de acordo com o diretor. Ricardo Gomes também destaca que “a montagem ousa justamente ao colocar um elenco tão jovem para interpretar, com mais vigor, as situações absurdas escritas por Beckett”.
A proposta dessa montagem é misturar o frescor e a vitalidade dos jovens atores a um texto denso e pesado, comum às narrativas de Beckett, considerado de difícil interpretação até mesmo para atores com mais bagagem. Apesar disso, para o diretor, o frescor do elenco ajudará a deixar o trabalho mais potente. “O clássico é sempre delicado para trabalhar, pois exige um olhar diferente para um texto tantas vezes interpretado e discutido, e que ao mesmo tempo respeite a obra. Nessa peça, ao contrário do que já foi feito, o nosso mote é o frescor da juventude, o olhar inocente do elenco sobre um texto muito duro. Essa curiosidade, esse olhar quase inocente é o que vai dar leveza e intensidade à interpretação”.
A ousadia em Fim de Partida também está presente na trilha sonora. Incomum nas peças de Beckett, que raramente utiliza recursos de som para complementar o texto, a montagem traz composições autorais, criadas pelo músico argentino Rufo Herrera, que refletem o ambiente desolador onde vivem as personagens. O cenário da peça, criado por Daniel Ducato, é formado por uma série de objetos encontrados em ferros-velhos. São sucatas e outros materiais que dão a ideia de um local em ruínas. E o figurino, assinado por Priscilla Duarte, traz roupas em tons mais quentes, como o vinho e o terra, contrapondo às personalidades sombrias e apagadas das personagens.
Sobre o Teatro Diadokai – Criado há 20 anos, o Teatro Diadokai dedica-se à pesquisa sobre a Arte do Ator, convidando os espectadores a vivenciar experiências de conhecimento sobre si mesmos. Em uma visão intercultural e transdisciplinar, usa técnicas e princípios do teatro-dança clássico indiano e do treinamento do ator ocidental, tendo como principais referências Stanislávski, Grotowski e Barba. Atuou em diversos estados do Brasil (Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Distrito Federal, Ceará, Alagoas, Pernambuco e Santa Catarina) e no exterior (Itália, Alemanha e Portugal). Atua no teatro de pesquisa, teatro de rua e teatro para crianças, com sucesso de público e ótima recepção da crítica especializada. Atua também na formação artística, por meio de atividades didáticas e da colaboração entre artistas jovens e artistas experientes.
Prêmio Fundação Clóvis Salgado de Estímulo às Artes Cênicas – O Prêmio Fundação Clóvis Salgado de Estímulo às Artes tem como objetivo o fomento ao teatro e à dança, buscando incentivar a criação, a montagem e a circulação de espetáculos. Importantes textos premiados obtiveram sucesso de público e crítica, como Bolsa Amarela, da Zero Cia de Bonecos; Todas as Belezas do Mundo, da Companhia Clara; Amores Surdos, do grupo Espanca! e Isso é Para Dor, da Primeira Campainha, entre outros. Nesta edição, o edital previu a distribuição de R$350 mil em prêmios para os projetos inscritos nas categorias Montagem (categorias Dança e Teatro), Circulação do Interior (categorias Dança e Teatro) e Montagem Marcello Castilho Avellar (espetáculo de Dança ou Teatro). A premiação também garante apoio em Assessoria de Imprensa, Mídias Digitais, impressão de programas e cartazes. Os projetos inscritos foram avaliados por uma comissão composta por profissionais das artes cênicas da Fundação Clóvis Salgado e da sociedade civil.
Premiação ameaçada – Em 2015, a Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão, a Secretaria de Estado de Cultura e a Fundação Clóvis Salgado conseguiram reverter a delicada situação em que se encontrava o Prêmio Fundação Clóvis Salgado de Estímulo às Artes Cênicas. Sensibilizado com o problema, o Governo priorizou o pagamento de R$ 350 mil para cobrir as despesas previstas para as montagens. O secretário Angelo Oswaldo disse que esses recursos, que deveriam ter sido pagos ou liberados ainda em 2014, traduzem o esforço do Governo Fernando Pimentel de reconhecer e enfatizar a importância da produção cultural na vida de Minas Gerais.
SERVIÇO
Evento: Espetáculo Fim de Partida – Teatro Diadokai
Local: Teatro João Ceschiatti, Palácio das Artes – Av. Afonso Pena, 1537 – Centro
Período: 3 a 12 de junho
Horário: sexta e sábado, às 20h30; domingos, às 19h
Duração: 1h45
Classificação: livre
Entrada: R$20,00 (inteira) e R$10,00 (meia)
Informações para o público: (31) 3236-7400