Há um provérbio da Roma Antiga que expressa bem a festa milenar e litúrgica, já no cristianismo, do Carnaval: “Semel in anno licet insanire”, ou “Uma vez por ano é permitido enlouquecer”. Não é, portanto, uma festa de uma pessoa ou grupo. Muito menos foi criada nos tempos de hoje, mas há milênios. Equivoca-se quem quer tomar para si o universal.
Mesmo que as primeiras máscaras, em grandes festas, tenham sido importadas do Egito, em homenagem à deusa egípcia Ísis, o Carnaval começou na mesma Roma Antiga como festa pagã, a exemplo da Saturnália ou das festas dionisíacas de origem grega, e espalhou-se pelo mundo com o catolicismo, sendo a festa que antecede a quaresma e tornando-se feriado nacional no Brasil. No Brasil colonial, o Carnaval acontecia com várias brincadeiras, como o entrudo. Desde o século XX, o samba, o maracatu e o frevo são algumas de suas expressões.
Emprego e renda
O Carnaval, maior manifestação da cultura popular brasileira, é, segundo o provérbio romano, o período em que é permitido “enlouquecer”. Porém, não recomendo apedrejar aviões, muito menos rasgar dinheiro. Pelo contrário! Vamos aplaudir e receber, com nossa famosa hospitalidade, aviões, automóveis e ônibus, que trarão turistas de todo o país para o Carnaval de Minas. Vamos gerar empregos e renda, fontes de toda dignidade. E, sendo a economia da cultura fonte de renda para milhões de trabalhadores e trabalhadoras, que o orgulho e o pertencimento à nossa história fundante do Brasil contagiem a todos que aqui estiverem.
A rede hoteleira de BH, com suas centenas de milhares de funcionários, agradece, e assim também o fazem os milhares de ambulantes e o comércio. Em BH, esse cenário fica mais visível pois mais de 80% da nossa economia gira em torno do comércio e serviços. Em 2023, no período carnavalesco, a média de ocupação hoteleira em BH ficou em 65%.
Carnaval da Liberdade
Portanto, atrair pessoas e misturar culturas são práticas saudáveis; o resto é xenofobia. Carnaval é cultura porque é história. É comportamento, é música, é moda, alegoria, coreografia, fantasia; é gastronomia, comida e bebida; é uma grande e magnífica ópera contemporânea.
Em Minas, teremos o Carnaval da Liberdade e o Carnaval da Tranquilidade. No lançamento das duas festas, no Palácio da Liberdade, o governador Romeu Zema, que fez do Carnaval política de Estado, disse: “Tivemos um Natal marcante, um Réveillon inédito e agora um Carnaval como nunca tivemos”. Isso, em mais de 400 municípios.
Estamos há 11 meses consecutivos na liderança do turismo nacional – e, em 2022, foram nove meses. Porque Minas é grandiosa nas suas belezas, culturas, peles e mistura das gentes. O recente Ensaio Geral, realizado pelos blocos na avenida dos Andradas para testar a nova sonorização – uma demanda dos próprios blocos e artistas que fazem a festa, vale ressaltar – e apresentar o trem elétrico, 100% mineiro, mais próximo dos foliões, substituindo os trios “importados” de outros Estados, foi apenas uma prévia do próximo Carnaval, criativo e nosso.
Em 2023, o Carnaval rendeu em movimentação financeira e econômica mais de R$ 1,5 bilhão. Prova forte de que Carnaval é cultura e economia. Número que certa e facilmente será maior em 2024, com a campanha que o governo de Minas fez em outros Estados, convidando turistas e foliões para nosso Carnaval e, principalmente, para as belezas e a potência de Minas Gerais no turismo e na economia criativa, que, em breve, será responsável por 30% dos empregos, segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT). Arte e cultura unem as pessoas e, em Minas, a pedido das ligas e dos blocos, o Carnaval é, finalmente, uma política de Estado.
Feliz Carnaval a todos, com muita cultura, alegria, mineiridade, loucura criativa e saudável, porque mais “louco é quem me diz e não é feliz”.
Matéria escrita pelo Secretário de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais, Leônidas de Oliveira, e originalmente publicada no jornal O Tempo.