Intitulada Em Nome das Rosas, a mostra apresenta dezenas de obras da artista mineira Eugênia França, pintadas sobre lona de caminhão, que retratam a violência contra a mulher
O BDMG Cultural e o BDMG, por meio do programa BDMG Plural, promovem a exposição virtual Em Nome Das Rosas com o objetivo de dar visibilidade à questão da condição feminina frente à violência doméstica. A mostra apresenta 80 obras da artista visual mineira Eugênia França, realizadas entre 2018 e 2020, e será exibida no site emnomedasrosas.org, com acesso livre, de 21 de julho a 21 de outubro de 2020.
O título da exposição aponta para a dimensão contraditória de várias histórias, as quais não se resumem à dor. São, muitas vezes, histórias de amor, de superação, de empoderamento. Pintadas em técnica acrílica sobre lonas de caminhão, as faces das obras mostram, em um segundo plano, as marcas do longo uso das lonas, muitas vezes remendadas, que são como as cicatrizes que marcam as experiências de cada uma das mulheres retratadas. Eugênia França dá corpo aos números da violência e visibilidade às mulheres que pintou.
Uma das motivações que levaram a artista produzir as obras foi saber que uma amiga havia sido agredida violentamente pelo marido. “Eu fiquei muito incomodada, porque nem todas as mulheres conseguem encontrar saídas, reconhecer que vivem em relações abusivas e dizer “basta” - mesmo quando sofrem violência física. O tempo todo eu imaginava a dor que essa mulher experimentou ao ter sua dignidade amplamente ferida. Seu rosto, marcado pela agressão, escancarou os diversos tipos de violência às quais, certamente, ela era submetida. Constrangida diante dos filhos, vizinhos e amigos, ela só pediu ajuda porque teve medo de ser morta pelo homem com o qual vivia há mais de 30 anos”, conta Eugênia França.
Violência contra a mulher e pandemia
Em todas as classes sociais, em relações diversas e em culturas distintas, a violência contra a mulher persiste no tempo e teve um aumento exponencial durante o período de isolamento social imposto pela pandemia da Covid-19. De acordo com a publicação Gênero e Covid-19 na América Latina e no Caribe: dimensões de gênero na resposta da ONU Mulheres, de março de 2020, em um contexto de emergência, crescem os riscos de violência contra mulheres, especialmente a violência doméstica. Neste momento de necessidade de isolamento social, as vítimas se vêm confinadas mais tempo em casa com o seu agressor.
Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), uma em cada três mulheres em todo o mundo já sofreram algum tipo de violência física ou sexual, seja em casa, em suas comunidades ou mesmo no ambiente de trabalho. No Brasil, segundo o Atlas da Violência publicado em 2019, enquanto a taxa de homicídios de mulheres não negras teve crescimento de 4,5% entre 2007 e 2017, a taxa de homicídios de mulheres negras cresceu 29,9%.
“A violência contra a mulher é um tema sério e que precisa ser discutido. Nesse momento tão delicado de pandemia, a ameaça parece vir de casa, onde as mulheres deveriam estar mais seguras. A proposta desta exposição virtual é trazer com sensibilidade a reflexão sobre essa escalada de relatos de violência”, reflete Camila Castro, coordenadora do programa BDMG Plural.
Segundo Gabriela Moulin, diretora-presidente do BDMG Cultural, “a violência, sempre indigesta, precisa ser visibilizada para que possamos refletir e tomar atitudes em relação a esse contexto. E, neste sentido, a arte e a cultura são importantes caminhos para revelarmos a nossa realidade por meio de ações poéticas. O trabalho da artista mineira Eugênia França traz a possibilidade de, por meio da pintura, revelar as individualidades dessas mulheres e o acúmulo de números da violência”.
Para Eugênia França, a arte é mais uma das várias formas de manifestação de apoio a essas mulheres. É uma forma de dizer que elas não estão sozinhas e que a discussão sobre esse tipo de violência deve ser ampliada. “Quando damos visibilidade, denunciamos, discutimos e trazemos esse tema para outros campos como o da cultura, por exemplo, estamos dizendo que essa é uma questão que diz respeito a todos nós. Comungamos a ideia de que esse não é um problema de uma política pública específica, mas de todas as políticas, de todos os campos e de toda a sociedade”, avalia a artista.
Sobre a artista
Nascida em Patos de Minas (MG), Eugênia França é graduada em Artes Plásticas pela Escola Guignard (UEMG) e Serviço Social pela PUC-MG. Teve exposições individuais em espaços como o MAM Resende - RJ (2019), MAB - Museu de Arte de Blumenau, SC (2018), MARCO - Museu de Arte Contemporânea do Mato Grosso do Sul, Campo Grande - MS (2017) e Pinacoteca de Maceió - AL (2017). Além de mostras coletivas em Brasília (2019), Toronto (2017) e Belo Horizonte (2013). Fez residência artística na Arts Unfold em Toronto, Canadá (2017). É autora do livro Nós Outros e Eu Mesma: Transformar o barro em cerâmica expressiva para refletir sobre as relações humanas na sociedade contemporânea (2016).
BDMG Plural
O programa institui diretrizes para a valorização de diversidade e inclusão, com o objetivo de atuar, construir, implementar e gerenciar ações que visem estimular práticas e ações de valorização da diversidade e equidade no âmbito do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais.
BDMG Cultural
Criada em 1988, a instituição é mantida pelo BDMG com o objetivo de fomentar, registrar e valorizar os processos culturais em Minas Gerais.
Serviço
Mostra virtual Em nome das Rosas, de Eugênia França
Período: 21 de julho a 21 de outubro de 2020
Onde: emnomedasrosas.org
Foto: Miguel Aun