Um dos eventos literários mais longevos de Minas Gerais completa em 2016 seus 30 anos de existência. Trata-se do Salão Nacional de Poesia Psiu Poético, cuja atuação ininterrupta promove intensa efervescência poética, literária, musical e artística. A movimentação poética se inicia no dia 4 de outubro, celebrado como Dia Municipal da Poesia, quando as principais ruas da cidade de Montes Claros serão tomadas pelo Despertar Poético, uma ação que irá convidar a população a prestigiar e conferir a programação gratuita.
Com o slogan “Tripsiu: Celebrando 30 anos” e a temática baseada na poesia negra, o evento segue com suas atrações até o dia 12 de outubro, e homenageia cinco poetas: Adilson Cardoso, Cláudio Bento, Conceição Evaristo, Cristiane Sobral, Evely Júlia, Ronald Augusto e Waldemar Euzébio, todos eles poetas negros de várias partes do país que têm na arte uma ferramenta para expressão, afirmação e compartilhamento de experiências.
As atrações se apresentam em vários pontos de Montes Claros, como o Centro Cultural, Campus da Unimontes, Faculdades particulares, Praça Dr. Carlos, Mercado Municipal, Terminal Rodoviário, escolas públicas, entre outros. Apresentações de performances, poesia, shows musicais, palestras e apresentações audiovisuais, entre outras atividades culturais, integram a extensa programação.
A abertura oficial conta com a presença do secretário Estadual de Cultura de Minas Gerais, Ângelo Oswaldo, que participa do lançamento do livro “Antologia Psiu Poético: 30 anos do Salão Nacional de Poesia”, organizado por Jurandir Barbosa; além das publicações “Corrupião – poesias para viver melhor”, de Gilmar Catone e Cida Matos Catone; “Vermelho Intenso”, de Rógeres Gusmão Silva; “Minha vida é uma boa sorte, de Baltazar Duarte Fonseca, além de poemas de Adilson Cardoso, Conceição Evaristo, Evely Julia e Ronald Augusto. A cerimônia acontece no Centro Cultural Hermes de Paula, às 20h.
O PSIU POÉTICO
O Psiu Poético é o único salão nacional de poesia que resistiu ao tempo e às barreiras econômicas para se tornar um patrimônio não só de Montes Claros, mas do país. Ele se projeta além das nossas fronteiras brasileiras, sendo considerado o maior e mais longo na América Latina.
Psiu, são 30 anos de poesia
Angelo Oswaldo de Araújo Santos
Não é vã guarda a prontidão de Aroldo Pereira na poesia dos últimos trinta anos. Resulta em extensa obra que atrai o interesse e sempre surpreende quem ouve o seupsiupoético, siflado numa esquina de Montes Claros para ecoar mundo afora. Presença frutífera, ágil e inquieta, a poesia de Aroldo Pereira nasceu na década de 80 e celebra, com nova safra, os três decênios. O país emergia do autoritarismo, e uma vaga de experimentação renovava os influxos da tropicália,das artimanhas da Nuvem Ciganae da poesia beat, no corredor polonês das vanguardas, quando ele começou a escrever e lançou o salão nacional de poesia Psiu Poético. Tanto o encontro anual em Montes Claros quanto a sua inventiva produção guardam uma vitalidade que enfatiza a importância da poesia na cultura brasileira.
O raio desordenador de Raymundo Colares atravessou a cabeça de Aroldo Pereira, enquanto Hélio Oiticica revestiu os passos do poeta na ginga do parangolé. A marginalidade tem centros luminosos. No tédio e na solidão de sua “princesa decadente”, arando os campos haroldos e ovacionando Oswald, o criador do Psiu flertou com os tropicalistas do Brasil e os beats americanos, varou os grafites e a velocidade das ruas, cortou tribos e territórios urbanos e decolou do sertão para ganhar altura. No mundo das imagens, a ereção do poema se faz com palavras acesas. Torcer o verso como Torquato, gritar Olé, Oiticica, ler o “gibi” de Colares, escrever no fio da navalha para cortar as realidades repletas de “verdades vadias”. Rapto rápido como o rap no universo do verbo.
A comemoração das três décadas do Psiu Poético é um acontecimento significativo. Em outubro, em Montes Claros, poetas se reunirão no abraço a Aroldo Pereira, celebrando a vida, porque "há coisas miúdas q. nos encantam mesmo faltando dinheiro para o aluguel e a visita tendo q. dormir no sofá "
Poeta, ator, compositor e agitador cultural, ele “não se cansa de reivindicar, através de sua relação com a linguagem e com a vida, um lugar para o homem na ordem das coisas”, como registra Wagner Rocha, na abertura de “Parangolivro”, editado pela 7Letras em 2010. Sua poesia, enfatiza Rocha, “é marcada por uma necessidade de mexer nas feridas sociais, de traduzir em versos toda a dor da humanidade que atravessa grandes conflitos”. Poeta do nosso tempo, em “Geração” ele diz: "passar no asilo ver se reservaram vaga pra minha" .
Aroldo Pereira pode saber que, nas bibliotecas, registros e acervos de poesia, a reserva está confirmada. Ele não precisa pedir licença para entrar. Sua numerosa lista de livros publicados tem lugar garantido pelo tempo que for, para o acesso das gerações que vierem.
Confira a programação completa aqui.